Saul Goodman brasileiro: quem é o teatral advogado de Jairinho e outros
Colaboração para o UOL, em São Paulo
12/06/2024 04h00Atualizada em 12/06/2024 14h00
Enquanto o ex-vereador Jairo Souza Santos Junior, o Dr. Jairinho, encarava um interrogatório, em 2022, outra pessoa chamou a atenção. O advogado Cláudio Dalledone Júnior.
Mas quem é ele?
Com escritório sediado em Curitiba (PR), o advogado ganhou projeção nacional na última década por defender acusados de crimes com grande repercussão. Dentre seus clientes, aparece a atriz Antonia Fontenelle, no processo que responde por associar o youtuber Felipe Neto à pedofilia.
'É melhor ligar para o Dalledone'
Com mais de vinte anos atuando em casos do Tribunal do Júri, Dalledone é um dos mais requisitados advogados criminalistas do país. A sua atuação e a forma como defende os seus clientes nos julgamentos, em ações que beiram a teatralidade, costumam virar notícia na imprensa.
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Ele se notabilizou ao defender 13 policiais militares do Paraná acusados de matar cinco suspeitos de roubo em 2009, conseguindo a absolvição de todos. O caso é considerado um dos maiores julgamentos da história da Justiça do Paraná.
Em entrevista ao UOL em 2018, ele disse acreditar que livrou mais de 100 policiais da cadeia. Ele, inclusive, é comparado por jornalistas paranaenses com o advogado Saul Goodman, que defendia o traficante Walter White, da série "Breaking Bad". Na ficção, o defensor popularizou o bordão "Better Call Saul" (melhor ligar para o Saul, na tradução).
Jornalistas no Paraná brincam que, quando alguém está muito encrencado, o suspeito costuma ser orientado a seguir a dica "Better Call Dalle" (é melhor ligar para o Dalle).
"É uma brincadeira, mas eu não quero ser confundido com aquele que está a encobrir alguma coisa errada. Isso é uma coisa muito perigosa. Já tive situações da pessoa imaginar que eu pudesse contribuir [com a ocultação de um crime], e isso não é coisa de advogado, nem de ser humano. Não compactuo com as atitudes fora da lei, mas se a pessoa vier a ser acusada eu vou estar ali para defender seus direitos", declarou ao UOL sobre a comparação.
Filhos vestidos de PM no tribunal
No julgamento dos 13 policiais, Dalledone protagonizou uma cena curiosa ao lado dos dois filhos, à época, com 5 e 7 anos. Ele os vestiu com farda militar e entrou segurando as mãos das crianças.
Para ele, isso teria contribuído para conseguir "engajamento" da opinião pública para absolver os policiais do crime de homicídio.
"O julgamento virou um frenesi, foi uma coisa que eu nunca tinha visto", afirmou, na ocasião.
Simulação de agressão em colega advogada
A atuação de Dalledone durante o julgamento de Luis Felipe Manvailer, condenado por matar a mulher, Tatiane Spitzner, em 2018, também chamou atenção.
Durante a defesa do cliente, ele simulou uma agressão física na colega de profissão, a advogada Maria Eduarda Lacerda. O caso ganhou as redes sociais, e gerou uma apuração da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) contra o defensor de Manvailer.
Na ocasião, Dalledone Júnior se justificou dizendo que a atuação seria um recurso para provar que Manvailer não teria capacidade para matar Tatiane. A advogada que participou da cena afirmou que tudo foi combinado previamente.
No esporte: Anderson Silva, goleiro Bruno e caso Daniel
Ex-professor de muai thai, Dalledone Júnior chegou a ser professor de Anderson Silva, lutador de MMA e ex-campeão do UFC. A amizade entre ambos continuou e, em 2015, defendeu o atleta da acusação de doping.
Ele também atuou na defesa do goleiro Bruno Fernandes, condenado por matar a modelo Eliza Samudio, mas depois pediu a saída do caso porque, segundo o advogado, o então atleta não quis "assumir responsabilidades".
O criminalista orientou Bruno a assumir sua participação na morte da modelo, o que não teria sido aceito. "Eu discordava frontalmente disso", afirmou, na ocasião.
Ainda na seara do esporte, outro caso que parou nas mãos de Dalledone Júnior foi o do assassinato do meia Daniel Corrêa, ex-jogador do São Paulo e do Botafogo, ocorrido em 2018.
O principal acusado do crime, o empresário Edison Brittes, o Juninho, negou inicialmente a participação, mas mudou de ideia ao ser convencido pelo advogado. Ele ainda assumiu a defesa de Cristiane Brittes e Allana Brittes, acusadas de participação no homicídio do atleta. "Eu defendo o direito do acusado, nunca o ato dele", justificou, na ocasião.
*Com reportagem de junho de 2022