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Justiça nega pedido para bloquear redes de Nino Abravanel, réu por morte

A Justiça negou o pedido da Polícia Civil de São Paulo para bloquear as redes sociais do influenciador Nino Abravanel e do irmão dele. Ambos são réus pelo crime de homicídio de um homem em São Paulo que teria sido motivado por vingança. A defesa deles nega envolvimento no assassinato.

O que aconteceu

Justiça entendeu que pedido da polícia não tem relação com o crime de homicídio. Na decisão proferida nesta quinta-feira (8), a juíza Isabel Begalli Rodriguez apontou que, se a polícia entende que Nino, cujo nome é Deivis Elizeu Costa Silva, 18, e o irmão dele, Deric Elias Costa Silva, 20, estariam cometendo outros crimes com as publicações, a corporação deve instaurar inquérito próprio para a apuração dos mesmos.

Suposta utilização da rede social para localizar a vítima de homicídio precisa ser apurada, diz juíza. Rodriguez discorreu no documento, obtido pelo UOL, que esse apontamento da polícia deve ser investigado "sob crivo do contraditório e da ampla defesa". "Ademais, trata-se de fato que não guarda contemporaneidade com a representação ora formulada."

Ministério Público foi contra bloqueio de contas da dupla nas redes sociais. A manifestação da promotoria, citada na decisão, relembra que medidas cautelares diversas foram impostas aos influenciadores no processo, apontando não ser necessário a aplicação da ação solicitada pela polícia neste momento. Nino e Deric contam, juntos, com quase sete milhões de seguidores nas redes sociais.

Defesa de irmãos comemora decisão. Ao UOL, o advogado Felipe Cassimiro apontou que a decisão "ressalta a justiça e a integridade do Poder Judiciário". "Ao acolher os argumentos da defesa, a magistrada evidenciou seu compromisso com uma análise justa e fundamentada. Um reconhecimento do trabalho bem feito e uma vitória significativa", acrescentou.

A reportagem procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, mas não houve retorno até a publicação. Se houver resposta, o texto será atualizado.

Polícia apontou crimes em publicações

Polícia Civil alegou que redes da dupla estão sendo usadas "de forma diversa a que o aplicativo se destina". Na representação, também obtida pela reportagem do UOL, a polícia ponderou que o assassinato de Tarcísio Gomes da Silva, 32, "não se consumaria" sem o uso do aplicativo Instagram que, segundo a corporação, foi usado para localizar a vítima e executá-la.

Representação cita exemplos de "crimes postados" pelos irmãos. O documento conta com prints de frames de publicações de Nino e Deric, entre eles, alguns com "aparentes cigarros de maconha" e uso de motos de luxo para dar "grau" (empinar).

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"Inspiração de prática ilegais para milhões de seguidores." No documento, a delegada Magali Celeghin Vaz, do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), que apura o caso, discorre sobre a "possível ocultação de patrimônio e sonegação fiscal". Como exemplo há prints de vídeos de Nino fazendo compras em uma loja da Louis Vuitton e pagando com dinheiro em espécie.

Corporação também cita propaganda de jogos de azar nos perfis. Entre eles, o "jogo do tigrinho" e comércio de rifas para a venda de cotas. "Estas publicações geralmente são realizadas nos stories da página e renovadas diariamente, sendo as contas do Instagram o meio necessário para o cometimento deste ilícito penal", aponta a representação.

Por fim, investigação cita músicas em "homenagem" ao influenciador. No ofício, a delegada deu a entender que a faixa "SET NINO ABRAVANEL", gravada por amigos MCs de Nino, como MC Ryan SP, Don Juan, Oruam e outros, narrando a vida do influencer, menciona e faz "apologia ao crime contra o patrimônio". A música, lançada em abril deste ano, conta mais de 8,5 milhões de visualizações.

Em outro recorte, a investigação menciona o trecho do artista MC Brinquedo na música "The Box Medley Funk 2". A faixa, lançada em 18 de abril, que conta com mais de 100 milhões de reproduções, foi cantada por Nino e amigos durante a comemoração da decisão judicial que lhe deu direito a liberdade, no mês passado. A obra cita o "Menor Progresso", vulgo utilizado por Nino nas redes sociais, e um suposto inquérito.

Presente para amigo que ficou preso

Nino presenteou amigo suspeito de envolvimento com homicídio com moto de R$ 30 mil. Julio Cesar Souza Alves, o Jacaré, foi presenteado com uma moto na última quarta-feira (7). Ele foi o único dos seis investigados pela polícia que ficou preso. Jacaré trabalha como entregador e ganhou liberdade no dia 17 de julho, após ficar cerca de 30 dias detido.

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"Ficou com nós lá, acusado. Ficou 30 dias na delegacia. Parceiro não faz mal para ninguém, moleque 'purão'. Dei a motoca para ele aí, a 'mandraka'. Ele é merecedor", comentou Nino.

Justiça negou prisão preventiva

No dia 17 de julho, a Justiça decidiu pela negativa da prisão preventiva dos envolvidos. Apesar de tê-los tornado réus, o Juízo entendeu que não havia a necessidade da prisão. Os envolvidos se apresentaram no Fórum da Barra Funda no dia seguinte e afirmaram que cumpririam as medidas cautelares impostas.

Além de Deivis, e Julio, também viraram réus: Deric Elias Costa Silva, irmão de Nino Abravanel, Eberton Salles de Lima, Pablo Lyncoln Lira da Rocha e Enrico Jonatan da Silva Leal.

Entenda o caso

Para a polícia, os irmãos planejaram e mataram o homem por vingança. Antes de ser morto, Tarcísio Gomes da Silva, 32, teria espancado o avô dos jovens, Valdeci Ferreira — que morreu no mesmo dia do crime. A defesa confirma que os jovens ficaram abalados com as agressões, mas nega que eles tenham matado o homem.

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Tarcísio levou 11 tiros na noite de 19 de maio na estrada do M'Boi Mirim, zona sul de São Paulo. Ao UOL, o advogado de defesa dos irmãos negou que eles tenham participado do homicídio e diz haver uma falha processual no inquérito.

Irmão da vítima disse ao UOL que Tarcísio "dava trabalho" aos familiares. Segundo ele, o irmão usava drogas e já havia cometido crimes como furto e tentativa de homicídio. Conforme o irmão, que preferiu não ser identificado, Tarcísio acumulava desavenças. A reportagem apurou que Tarcísio respondeu na Justiça por crimes em Pernambuco e em São Paulo. O homem chegou a ficar preso por cerca de dois anos.

Polícia se baseou em imagens para definir a dinâmica do crime. Ao apontar para os irmãos como os responsáveis pelo crime, a investigação, que o UOL obteve, colheu imagens que mostram Deric e Nino reunidos com amigos para, supostamente, planejar a morte de Tarcísio. A defesa questiona como as imagens foram colhidas.

As imagens mostram os irmãos reunidos com outros três amigos em um restaurante cerca de uma hora antes do crime. Para a polícia, por estarem reunidos encapuzados, os homens estavam planejando o crime.

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