Homem é condenado em três esferas após chamar aluno da FGV de 'escravo'
O homem que chamou um aluno negro da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de "escravo" em um grupo de WhatsApp, em março de 2018, foi condenado em três esferas por racismo.
O que aconteceu
Gustavo Metropolo foi condenado por racismo nas esferas criminal, cível e administrativa. João Gilberto Lima, que na ocasião era estudante de Administração Pública, foi vítima de racismo ao ser chamado de "escravo" em uma mensagem encaminhada via WhatsApp pelo condenado.
As condenações do réu foram reveladas pelo Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades). A instituição atuou na defesa de João e trabalhou para a condenação de Gustavo Metropolo nas três esferas jurídicas.
"Achei esse escravo aqui no fumódromo! Quem for o dono avisa", dizia a mensagem, encaminhada com uma foto de João sentado em um banco da FGV. Ambos não estudam mais na instituição. "Na oportunidade, a FGV EAESP abriu os procedimentos internos disciplinares cabíveis, mas o Sr. Gustavo Metropolo deixou a escola logo na sequência do ocorrido, não mais retornando desde então", disse a assessoria da fundação ao UOL.
Pelo teor do envio, Metropolo foi condenado a dois anos de reclusão. Contudo, a pena foi substituída por prestação de serviços à comunidade. Inicialmente, o homem tinha sido condenado por racismo e injúria racial, no entanto, o Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que o crime de racismo absorvia a segunda tipificação. A sentença foi concluída após o caso transitar em julgado no STJ (Superior Tribunal de Justiça) depois que a corte negou recurso da defesa do réu.
Indenizações e sanções ultrapassam os R$ 120 mil. Metropolo foi condenado a pagar R$ 50 mil por danos morais a João. Este valor era de R$ 30 mil, mas foi acrescido após a defesa da vítima sinalizar a gravidade da ofensa e a Justiça acatar o recurso. Além disso, incidirá correção monetária sobre o valor.
João também deverá ser reparado por danos materiais. Em decorrência dos gastos com assistência médica e psicológica realizados, a vítima vai receber R$ 13.980. Somadas as quantias e com a correção monetária, as indenizações chegam a R$ 78.557,34. Como pena pecuniária de punição ao autor, serão pagos, ainda, cinco salários-mínimos.
Advogado Daniel Bento Teixeira, que representou João no caso, diz que condenações são pedagógicas e demonstram que crimes de racismo não ficarão impunes. "É muito relevante para que a gente impacte a cultura jurídica. Essa era uma cultura no passado, o Poder Judiciário raramente condenava e ainda raramente condena, mas a gente vem abrindo espaço para que isso seja mais comum".
O UOL tenta identificar a defesa de Gustavo Metropolo. O espaço segue aberto para manifestações. Caso haja resposta, o texto será atualizado.
Seis anos de tramitação
Ao UOL, João Gilberto relatou que as condenações foram importantes para a causa coletiva do combate ao racismo no Brasil. Atualmente formado como administrador público e trabalhando no setor, ele conta que os seis anos de tramitação provocaram ansiedade, mas que no fim "a denúncia fez efeito".
O meu ponto sempre foi mostrar a importância de se denunciar. O Brasil tem impunidade e por isso a gente acha que não vai dar em nada. As pessoas cometem esse tipo de racismo acreditando na impunidade.
João Gilberto Lima
Avaliar se foi suficiente ou não é complexo, tenho a consciência que ele não vai preso. Mas a condenação em três esferas é muito importante contra a impunidade. Não é onde a gente quer chegar, mas dada a realidade, é um passo importante.
João Gilberto Lima
Há ainda uma condenação na esfera administrativa. Gustavo Metropolo foi multado em R$ 35.360,00 com base na lei 14.187/10, que pune atos de discriminação no estado de São Paulo. Contudo, ainda há recurso em tramitação pela defesa do condenado.
"Muitas vezes a vítima acaba tendo problemas sérios de saúde mental. Mostrar que um caso como o do João resultou em condenações em todas as esferas é fundamental para a comunidade jurídica e a sociedade. Que caso de racismo pode, sim, ter condenação em cada esfera. Isso mostra que a gente precisa estabelecer essas sanções em patamar mais alto do que acontece", comentou o advogado Daniel Teixeira.
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