Morta em roubo dias antes de casamento será enterrada com vestido de noiva
Do UOL, em São Paulo
08/10/2024 23h19Atualizada em 09/10/2024 10h28
Francisca Marcela da Silva Ribeiro, 33, que morreu após ser baleada com um tiro nas costas durante um assalto, será enterrada com o vestido de noiva que usaria no seu casamento. O crime ocorreu no bairro do Ipiranga, na zona sul de São Paulo, no domingo (6), 20 dias antes da data da cerimônia.
O que aconteceu
"Não pensei duas vezes", disse noivo da vítima em entrevista ao UOL. Wilker Michael, que estava com Marcela no momento do crime, contou que ela provou o vestido um dia antes de morrer e ficou "deslumbrante". A roupa precisou passar por reparos na barra para ser usada na cerimônia.
Marcela e Wilker estavam com casamento marcado para 26 de outubro. "Esse seria o vestido do seu grande dia que agora será o vestido do seu enterro. Nós iremos lutar para que a justiça seja feita. Isso não ficará impune", disse o noivo em publicação nas redes sociais.
"Nunca imaginei que ficaria sem ela". Ao UOL, Wilker contou que ainda não consegue lidar com a morte da noiva. "Nunca, nem nos meus piores pesadelos, imaginei passar por isso", disse.
Após o acontecido, quando a funerária me perguntou sobre a roupa que eu queria vestí-la, não pensei duas vezes. Esse vestido foi a roupa mais linda que já vi ela vestir.
Wilker Michael, em entrevista ao UOL
Noivo questionou ao policial o porquê de ele ter atirado
Companheiro da vítima diz que o tiro que atingiu Marcela foi disparado por um policial militar de folga que estava no posto de gasolina e observou a ação criminosa. O homem alega que o agente apontou a arma em direção ao casal após a fuga dos criminosos.
Segundo o noivo, ele sentiu a companheira tocando no ombro ele e pedindo para entregar a moto porque era um assalto. "Aí eu olho para trás, já levanto a mão, vejo o cara com arma na minha cara e ele começa a gritar 'entrega tudo'", relatou. Wilker ainda contou que viu o policial indo na direção dos criminosos e se recordou de pedir para que o agente deixasse os ladrões levarem a motocicleta.
Wilker disse à emissora que questionou o PM sobre a atitude. "Ele olha para mim sem nenhuma expressão de dor, de arrependimento. Expressão fria, só desviou o olhar. Em nenhum momento ele veio olhar para o rosto dela, pedir desculpa, perdão", disse em entrevista à TV Globo.
No boletim de ocorrência, o PM disse que estava abastecendo o carro quando ouviu alguém anunciar que era um assalto. Ele afirmou que foi cercado por dez bandidos e que só sacou a arma depois que viu que os criminosos estavam armados. O agente ainda relatou que trocou tiros, mas não sabia informar quantos disparos realizou, acrescentando que achou que o assalto era ao posto e não a algum motociclista. Ainda contou que estava rodeado de motociclistas, com roupas escuras e capacete, "não sendo possível ter identificado alguma vítima de pronto".
A SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo não comentou a acusação do noivo. Em nota, a pasta informou que foi aberto um inquérito policial para apurar o caso, bem como um IPM (Inquérito Policial Militar). Conforme a SSP, dois homens foram presos em flagrante após roubarem a motocicleta. Eles também afirmaram que a polícia analisa as imagens das câmeras de segurança e realiza diligências para esclarecer o fato. O caso é investigado pelo 26º DP (Sacomã).
Wilker e Marcela tinham um relacionamento há quase oito anos. "Dói. Uma dor que não quer ir embora, uma dor que se recusa a aceitar que não vou mais te abraçar. Hoje eu me apego em um pedaço da manga da sua camiseta, a lembrança do seu jeito de me fazer feliz, pois foram as coisas que me restaram para me apegar. Você sempre me disse que eu era grande e forte, mas me sinto minúsculo, fraco e frágil", escreveu o noivo nas redes sociais. Além do noivo, a vítima deixa dois filhos.
Entenda o caso
Suspeitos cercaram um casal que estava calibrando o pneu de uma moto e anunciaram o assalto. O caso aconteceu em um posto da rua Malvina Ferrara Samarone por volta das 6h, segundo ocorrência da Polícia Militar.
Um policial militar de folga que estava no local presenciou o crime e reagiu. Houve troca de tiros, informaram testemunhas à Polícia Civil.
Francisca Marcela da Silva Ribeiro, que era passageira da moto, foi baleada nas costas. Ela chegou a ser socorrida para o Hospital Heliópolis, mas morreu. Não há confirmação oficial sobre se o tiro que a atingiu foi disparado pelo policial ou por algum dos assaltantes.
À polícia, o marido de Francisca afirmou que não reagiu ao assalto. Ele disse que o criminoso estava deixando o local na motocicleta roubada quando o PM começou a atirar. À polícia, ele disse acreditar que a esposa foi atingida pelo tiro do PM e acreditou que houve despreparo do policial para lidar com a situação.
Suspeitos conseguiram fugir, mas foram presos após dar entrada em hospital. Os homens foram identificados como Pedro Henrique de Oliveira da Silva, 20, e Gustavo Pereira Bortolotti, 22. O UOL não encontrou até o momento as defesas deles. À Polícia Civil, Gustavo afirmou que não participou do assalto e disse que foi baleado após se envolver em uma briga em um baile.
O PM que atirou afirmou à Polícia Civil que fez os disparos porque temeu pela própria vida. Ele disse que acreditou que os suspeitos tinham anunciado o assalto ao posto, e não a outros motociclistas, e afirmou que sacou a arma após ver um dos suspeitos com uma arma de fogo.
A ocorrência da PM foi registrada como "roubo tentado de veículo". A SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo informou que "a autoridade policial do 26º DP (Sacomã) requisitou exames periciais e registrou o caso como roubo de veículo, apreensão e entrega de objeto, morte suspeita e legítima defesa. A Polícia Militar acompanha as investigações."
Rede responsável pelo posto diz que se solidariza com a família e amigos da vítima. "As autoridades e o Samu foram imediatamente acionados, mas, infelizmente, a vítima não resistiu. Em respeito à família da vítima e aos funcionários, o posto permanecerá fechado nesta data", declarou a empresa.
A defesa do PM não foi encontrada para pedido de posicionamento. O espaço segue aberto para manifestação.