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'Bêbado, decidi fazer xixi no ralo da sacada. Caí de 8 m e fiquei em coma'

Do UOL, em São Paulo

28/10/2024 05h30

Bruno Campos, 30, curtia um sábado com amigos e muita bebida alcoólica. E a consequência do consumo desenfreado de álcool foi grave. Bêbado e com sono, ele caiu da varanda de seu apartamento, de uma altura de cerca de oito metros. Foi parar no hospital e ficou 3 dias em coma. Ao UOL, Campos contou o que aconteceu.

'Festas iam até de manhã'

"Em 2021, me mudei para Uberaba (MG) devido a uma oferta de emprego. Sabia que a cidade era conhecida por seus eventos universitários e sempre tinha shows de artistas de que eu gosto e acompanho, então, estava animado.

Em novembro de 2022, teria um evento na cidade com Ana Castela, Luísa Sonsa e outros, e recebi amigos em casa para irmos juntos. As festas, open bar, em geral começavam à tarde, por volta de 14 horas.

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Às 20 horas, a gente voltava para casa, se arrumava, e retornava para ver os shows —que podiam ir até a manhã do dia seguinte.

'Fase ruim'

Estava em uma fase muito ruim de saúde mental em minha vida. Havia passado pelo combo clássico: decepção amorosa e frustração profissional.

Relutava em procurar ajuda psicológica. Já tinha passado por tratamentos devido a um episódio depressivo muito forte na adolescência e precisei até de medicação.

No início da vida adulta, resolvi interromper sozinho os remédios porque queria sair, curtir festas, beber e sabia que não podia fazer isso medicado. Meus pais falavam que era bom eu procurar ajuda novamente, mas achava que conseguiria me resolver sozinho.

'Cheguei completamente bêbado'

Na primeira parte da festa, durante a tarde, já tinha bebido muito. Mesmo assim, voltamos para casa para nos arrumarmos e irmos para a segunda parte: os shows.

É importante falar que eu dividia apartamento com um amigo e não tínhamos lavabo, apenas duas suítes. Estava recebendo um casal que não era mais namorado, então fiquei preocupado. Ele ia dormir na cama no chão do meu quarto, e ela ia dormir comigo na cama.

Quando chegamos do show, cerca de 6 horas da manhã, estava completamente bêbado. Não lembro de muita coisa, mas mandei áudios que eu não sabia, liguei de vídeo para outras pessoas e acabei dormindo.

'Fui até a varanda'

Quando acordei, por volta das 8 horas, ainda muito bêbado, e olhei para o lado, não vi meu amigo no colchão. A cama estava vazia. Achei que ele poderia estar no banheiro com minha amiga, ex-namorada dele.

Ainda fora de consciência, decidi que não ia atrapalhar se eles estivessem tendo um momento juntos, mas eu precisava fazer xixi.

Lembrei do ralo da sacada e achei que ali podia ser uma boa solução. Me vesti e fui até a varanda resolver a questão, mas seguia muito bêbado.

Juntando a bebedeira com o sono, enquanto eu fazia xixi, acabei adormecendo, caí para frente, bati a cintura no guarda-corpo e não consegui me segurar. Acabei caindo de uma altura de oito metros. Na queda, bati a cabeça e entrei em coma.

Meus amigos não estavam juntos, ela só tinha ido dormir no outro quarto porque meu roomate não estava em casa. A minha queda os acordou —junto com o prédio todo. Segundo quem ouviu, o barulho foi muito alto. Os bombeiros levaram cerca de meia hora para chegar.

Eu estava completamente desacordado. E, como cortei o supercílio na queda, tinha muito sangue. Caí dentro da área de lazer de um dos apartamentos abaixo do meu, e os donos estavam viajando. Ninguém conseguia me acessar.

Bruno Campos caiu da varanda de seu apartamento e ficou 3 dias em coma Imagem: Acervo pessoal

Por protocolo, as autoridades estavam desparafusando a porta, mas meu amigo, desesperado, meteu o pé e disse aos bombeiros que eu pagaria para arrumar quando acordasse.

'Fiquei 5 dias na UTI'

O Samu me levou para o hospital e dei entrada já em coma, e assim permaneci por três dias. Fiquei cinco dias na UTI e 11 dias hospitalizado. Quebrei o arco zigomático [osso do crânio] do lado esquerdo, tive traumatismo craniano, um coágulo na cabeça, embolia pulmonar, quebrei o fêmur e a tíbia e passei por uma cirurgia antes mesmo de acordar.

Caí em um domingo de manhã e acordei na tarde da quarta-feira. Quando abri o olho, vi meu pai, minha mãe e minha melhor amiga. Os três moram em uma cidade a 200 km de mim.

Minha última lembrança era do show da Ana Castela [a memória do acidente na sacada só voltou horas depois que ele acordou]. Então pensei que tinha bebido muito, passei mal e precisei vir para o hospital, mas achei estranho meus pais estarem ali por excesso de bebedeira.

Minha mãe estava com cara de choro, meu pai sorrindo, minha amiga com a cara inchada. E a primeira coisa que me veio à cabeça e que eu disse em voz alta foi: 'Estou perdendo o show da Luísa Sonsa'.

Minha mãe, segurando minha mão, começou a falar de forma estranha comigo, alto, destacando as sílabas. E eu perguntei o motivo de ela estar falando daquele jeito. Meu pai mandou um: 'Oi, filhão. Como você está? Estava com saudade'. E eu, ainda confuso, respondi que nem éramos tão próximos e que queria entender o que estava acontecendo.

Minha mãe falou para o meu pai: 'acho que ele está bem, ele lembrou nosso nome'. E eu não estava entendendo nada. Queria levantar porque, na minha cabeça, estava atrasado para o trabalho. Meu pai não deixou, falou que era para eu esperar o médico. Aí fiquei preocupado. Comecei a apalpar minhas pernas e uma delas não senti. Achei que tinham amputado.

O médico explicou o que estava acontecendo: disse que eu tinha passado por cirurgia, o que tinha quebrado. Quando ele terminou, eu disse que tinha uma dúvida.

O médico me falou que eu tinha quebrado o rosto, mas eu já tinha botox agendado para dezembro e queria saber se poderia fazer. A enfermeira deu risada, meu pai falou que eu realmente devia estar bem se essa era minha preocupação.

No sétimo dia, eu receberia alta, mas minha oxigenação estava em 63%. Os médicos me explicaram que eu estava com um quadro sério: embolia pulmonar —mais grave até mesmo do que as minhas fraturas. Comecei a fazer fisioterapia pulmonar e tive alta 4 dias depois.

'Consumo álcool com mais consciência'

Comecei o tratamento em casa. Os médicos imaginavam que eu andaria sem muletas em sete meses, e que levaria mais três para conseguir caminhar normalmente. Mas em menos da metade do tempo minha perna já estava recuperada e consegui até voltar a fazer exercícios. A recuperação foi muito rápida: em cinco meses de fisioterapia eu já tinha voltado ao normal.

Continuo morando no mesmo apartamento e não tenho nenhum trauma de altura. Não parei de beber também, apenas consumo álcool com mais consciência. E, claro, dou muito mais importância à minha saúde mental. Fiquei muito feliz por acordar bem e vivo. Passou e hoje estou aqui."

O risco do álcool

O caso de Bruno chama a atenção para os perigos do uso abusivo de álcool.

O consumo de álcool é responsável por 2,6 milhões de mortes todos os anos no mundo —4,7% de todas as mortes no planeta, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em junho deste ano.

Dados do Relatório Global sobre Álcool, Saúde e Tratamento de Transtornos por Uso de Substâncias mostram ainda que 2 milhões de mortes por consumo de álcool ocorrem entre homens. Em 2019, de todas as mortes associadas ao álcool, cerca de 1,6 milhão ocorreram por doenças crônicas não transmissíveis. E outras 724 mil foram decorrentes de ferimentos.

O uso abusivo de álcool pode ser combatido com a ajuda de especialistas. A sugestão é procurar um médico caso identifique algumas das seguintes circunstâncias:

  • Preocupação de amigos e familiares sobre a forma como você bebe;
  • Sentimento de desconforto diante das críticas deles;
  • Culpa por beber;
  • Dificuldade de parar de beber (apesar de pensar em fazê-lo);
  • Necessidade de beber já na primeira hora do dia para superar a ressaca da noite anterior.

*Com informações de reportagens publicadas em 03/11/2020 e 25/06/2024

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