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OpiniãoCotidiano

Reinaldo: Delação premiada para futuros cadáveres só beneficia o PCC

A recusa de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, empresário morto a mando do PCC no Aeroporto de Guarulhos na sexta-feira (8), em entrar para o programa de proteção a testemunhas oferecido pelo Ministério Público é sintoma de um erro de condução do MP e de uma brecha perigosa na lei, afirmou o colunista Reinaldo Azevedo durante o Olha Aqui! desta segunda-feira (11).

O empresário já havia declarado em entrevista em fevereiro que sabia que era jurado de morte pelo PCC. O MP afirmou que Antônio Vinícius se recusou a entrar no programa para conseguir manter seu "estilo de vida".

Para Reinaldo, essa permissão dada a Antônio Vinícius para que ele seguisse com sua rotina somente faz com que o MP seja utilizado indiretamente pela facção criminosa para promover a queima de arquivos de delatores.

Não é possível alguém que tinha as informações que ele possuía fazer um acordo e circular apenas com sua segurança privada —e a segurança privada era feita por policiais militares, o que é proibido. [...] Isso demonstra como estamos despreparados para enfrentar esse tipo de situação.

Um sujeito que faz uma delação que envolve uma organização poderosa como o PCC, se for delatar, precisa sumir de circulação, ficar em endereço ignorado. Se ele não quer isso, é preciso avaliar se vale a pena celebrar uma delação com ele. O que aconteceu agora? Ele tinha um monte de informações e a delação estava em andamento. Pronto, não tem mais.

Não pode haver 'morte esperada' de quem faz delação. Que coisa é essa? Há erros de condução que são primários. Temos um estatuto da delação premiada, que já é uma lei cheia de problemas, que deixa pessoas como futuros cadáveres. Se quiser tirar uma testemunha de circulação, basta oferecer a delação premiada e depois largá-la ao léu. Precisamos rever isso, inclusive do ponto de vista legal. Se for fazer delação, terá que aceitar o programa de proteção a testemunhas.

Para o PCC, pode ser um baita negócio uma delação feita desse modo. Você vai destruindo os pontos vulneráveis. Ele era um elemento vulnerável na cadeia de ação do PCC. Daqui a pouco, aparece outro. Se for assim, também será eliminado.
Reinaldo Azevedo

O colunista também destaca que os elementos da execução indicam o planejamento minucioso do crime, o que também complica a situação do MP e da condução do órgão com testemunhas-chave como o empresário.

É tudo absurdo. A ousadia é absurda. Foi uma operação absolutamente organizada, pois se sabia que naquele horário ele estaria ali. Certamente, as pessoas tinham o voo dele, tinham o roteiro perfeito, sabiam que o carro ia 'quebrar' e que ele estaria sozinho ali. Não pode acontecer assim.

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O Ministério Público, com a devida vênia, se está procedendo desse modo, está procedendo muito mal --ou, pelo menos, procedeu mal nesse caso. [...] Se continuar assim, o MP acaba funcionando --não estou dizendo que queira -- como um elemento administrado pelo PCC.
Reinaldo Azevedo

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