Josias: PCC não se incomoda com Estado, mas com quem ousa desafiá-lo
O assassinato a tiros do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, ocorrido na última sexta (8) no aeroporto de Guarulhos, revela que o PCC não se importa com a resposta do Estado, mas está disposto a tudo para tirar do seu caminho aqueles que o atrapalham, disse o colunista Josias de Souza no UOL News desta segunda (11).
Vinícius era delator do PCC. O Ministério Público de São Paulo para o compartilhamento dos dados desses depoimentos do empresário com as autoridades policiais que investigam a morte dele.
Há duas evidências neste caso. A primeira é a de que o PCC não se incomoda com o Estado brasileiro. Considera-se um grupo acima da lei e que opera impunemente. Tanto que executam um desafeto à luz do dia, ferindo outras pessoas e causando tumulto no maior aeroporto do país.
O PCC está sob investigação em São Paulo. Detectou-se a presença dele em contratos com o serviço público, com câmaras de vereadores em municípios paulistas e no serviço de transporte público na Prefeitura da capital. No município mais rico do país, está lá o PCC lavando dinheiro em empresas de ônibus.
De alguma maneira, o PCC está sendo incomodado. Ele executa um dos seus delatores, como a informar a quem esteja com disposição de colaborar com a polícia, que alguém que se contrapõe aos interesses empresariais do grupo morre.
Esse empresário estava com a disposição de entregar tudo o que conhecia às autoridades. Era um bandido e participava do esquema de lavagem de dinheiro. Foi pilhado no contrapé e se dispôs a delatar para obter uma redução de pena. Aí vai o PCC, passa o personagem nas armas para sinalizar a outros eventuais delatores o que acontece com quem ousa desafiar os interesses econômicos do grupo. Josias de Souza, colunista do UOL
Josias criticou a falta de sintonia entre as diferentes esferas de governo para o combate ao crime organizado, que aproveita este vácuo para se infiltrar e se fortalecer pelo país.
Outra coisa que fica bastante nítida é a desconexão do Estado. [O aeroporto de] Guarulhos é um território federal dentro do mapa de São Paulo. O governo federal poderia, até em combinação com o [governador de São Paulo] Tarcísio de Freitas, federalizar esse caso. Mas não; abrem-se duas investigações.
Hoje, na Comissão de Constituição e Justiça [CCJ], está em discussão uma proposta para liberar os Estados para legislarem como bem entenderem sobre matéria penal e criminal, como se isso fosse resolver. O Estado está em outra esfera. O crime está organizado e o Estado, cada vez mais bagunçado. Josias de Souza, colunista do UOL
Tales: Cooperação de PCC e polícia funciona como máfia e deve ser apurada
O assassinato do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach sugere uma relação nebulosa entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e a polícia e que precisa ser investigada, afirmou Tales Faria. O colunista citou uma entrevista concedida por Vinícius ao jornalista Roberto Cabrini, da RecordTV, em fevereiro. Nela, o delator do PCC afirmou que "pseudo empresários tinham interesse" na morte dele e falou sobre corrupção dentro da polícia.
Ele [Vinícius] também era um bandido, que tinha seguranças pagos por ele e que são policiais da ativa. É muito estranho policiais servirem a um bandido.
Outra coisa curiosa é que ele prestou um acréscimo à delação premiada dele há cerca de 15 dias. Não teve tempo de assiná-la, mas ela provavelmente foi gravada. Esta assinatura seria para ele aceitar os termos da delação para benefício dele. Existindo a gravação, ela pode servir como prova.
Esta entrevista para o [Roberto] Cabrini aponta para algo muito interessante, quando ele diz que 'infelizmente um departamento sério da polícia deixou-se corromper'. É obrigação da polícia do Estado de São Paulo dizer que departamento é esse e apurar qual nível de corrupção estava nesse setor.
Ele pode ter sido morto pelo PCC, mas tudo indica que há uma cooperação grande entre a facção e a polícia. Isso é terrível para a coisa pública do país, não só de São Paulo. Essa cooperação tem que ser desvendada, porque isso tudo acaba funcionando como uma máfia. Tales Faria, colunista do UOL
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