Morre aos 100 anos a médium Isabel Salomão, referência espírita no Brasil
Morreu hoje, aos 100 anos, a médium Isabel Salomão, que ficou conhecida nacionalmente por suas intercessões para curas de pessoas doentes, especialmente nos anos de 1990 e 2000, quando ganhou repercussão nacional.
Isabel Salomão foi a fundadora, em 1974, da Casa do Caminho, um dos locais mais conhecidos no Brasil para peregrinação de pessoas ligadas ao Espiritismo. Ela vivia em Juiz de Fora (a 261 km de Belo Horizonte), onde estava internada na Santa Casa. A morte foi confirmada nas redes sociais da Casa nesta segunda-feira (11). O velório e o enterro acontecem ainda hoje na cidade.
A Federação Esprita Brasileira destacou a relevância do trabalho de Salomão como "uma das mais longevas trabalhadoras na mediunidade no país". A nota também lembrou a atuação da médium com pessoas com problemas de saúde.
"Em A Casa do Caminho desenvolveu, por duas décadas, atendimentos na área da educação voltadas a famílias em vulnerabilidade social da região. Em 1979, criou o Plantão de Socorro Espiritual, uma equipe de acolhimento para a escutatória que funcionava 24 horas, com quase 500 atendimentos por dia. Às quartas-feiras, acolhia os doentes em seu apartamento", cita o texto.
Reconhecimento de Chico Xavier
O trabalho de Isabel em Juiz de Fora foi reconhecido por Chico Xavier, maior nome do Espiritismo no país. Em 1993, após se conhecerem na cidade, ele escreveu uma carta em que ressalta qualidades da médium e da Casa do Caminho, dizendo que ficou "edificado não só com o ambiente de paz e fraternidade ali reinantes, mas sobretudo com a dedicação da fundadora desse lar de amor, dona Isabel Salomão, em cuja personalidade reconheço uma autêntica missionária de Nosso Senhor Jesus Cristo".
Chico Xavier também escreveu que ela "embora jovem, se transformou simbolicamente em mãe espiritual da coletividade". Os relatos estão em documentários postados no canal oficial da Casa do Caminho, no YouTube.
Convivência com espíritos
Em depoimentos registrados em entrevistas, Isabel contou que, ainda na infância, passou a conviver com espíritos. "Com 9 anos de idade eu já via e ouvia os espíritos. Embora católica praticante, morava na roça, sem vizinhos, e eles me falavam as coisas que não eram conhecidas no meu ambiente", relatou.
E meu quarto ficava cheio de espíritos, conversando, organizando, como se fosse uma sala onde eles se reuniam pra estudar. Eu via, eu tinha acesso a eles. Eles se deixavam ver por mim, não estavam ali pra me prejudicar. Mas eles sabiam que eu teria um trabalho que ia exigir de mim aqueles conhecimentos (do Espiritismo)
Isabel Salomão
Um dos irmãos contou que a família estranhou no início: "No princípio nós ficamos muito assustados. Mas também não tínhamos conhecimento da doutrina. Pra nós era coisa de outro mundo", contou Ouadi Salomão em participação no documentário "Meu nome é gratidão, vida e obra da médium Isabel Salomão de Campos".
Outro irmão da Isabel, Arlindo Salomão disse que o pai, católico, duvidava. "(Eu) falava 'meu pai, eu não acredito que esse estado da Isabel seja normal. Isso é alguma coisa a mais. Ela sabe mais do que a gente, que frequenta a escola'".
Chefe notou 'algo diferente'
Nascida em Rochedo de Minas (320km de Belo Horizonte), Isabel mudou-se nos anos de 1940 para Juiz de Fora. Na cidade, trabalhou em um laticínio, e logo foi notada pelo chefe. "Você vê coisas que a gente não vê, você fala coisas verdadeiras que a gente não está vendo, não está ouvindo. Nós estamos ficando confusos".
Isabel disse que falou ao chefe que rezava, ia à igreja, se confessava, mas as coisas continuavam com ela, e que ficava sem dormir. Segundo Isabel, foi o chefe quem apresentou a ela a mediunidade, e a indicou uma casa espírita.
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Quero receberA partir desse primeiro contato, Isabel passou a se dedicar ao Espiritismo. Uma das formas de atuação foi o contato com doentes e médicos, e há vários relatos de pessoas que se disseram curadas a partir da convivência com a médium.
Acesso a hospitais
Em uma das várias reportagens dos anos de 1990 e 2000, o Fantástico, da Rede Globo, mostrou que Salomão tinha "livre acesso" a UTIs de 15 hospitais de Juiz de Fora. O objetivo era ajudar médicos a salvar vidas.
Naquela época, a médium calculava que já tinha atendido mais de 100 mil pessoas.
Salomão dizia que não praticava milagre, mas que tudo era fruto de trabalho, e o que acontecia com as pessoas era resultado disso. "Nada acontece por acaso", repetia em suas pregações e declarações.
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