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Bergamo: Tarcísio precisa controlar a polícia ou será engolido por ela

Se o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) não mostrar pulso firme diante da escalada dos casos de truculência da Polícia Militar, acabará dominado pela corporação, disse a colunista da Folha de S.Paulo Mônica Bergamo no UOL News desta quinta (5).

Tarcísio descartou demitir Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública, após os seguidos casos de violência policial no estado. "Olhe os números. Você vai ver que [Derrite] está [fazendo um bom trabalho]", disse o governador, sem explicar os números nos quais se baseou.

Vimos como foi o governo de João Doria, que começou sua gestão com um discurso de polícia forte. Em pouco tempo, houve um massacre em Paraisópolis, com a polícia matando jovens inocentes. O que o governador percebeu: ou ele controlava a polícia ou ela o controlaria e o engoliria.

Tarcísio está nesse momento. Ou ele controla a polícia ou ela engolirá o governo dele de diversas formas. Quando se tem uma polícia totalmente empoderada e sem controle, o resultado disso são milícias.

Recentemente, encontrei um secretário importante do governador Tarcísio em um evento com empresários. Perguntei a ele se a polícia não estava exagerando e se isso não traria problemas para o governador.

Ouvi desses empresários na época que a população apoia e quer uma polícia forte. Apesar de se ter uma violência desenfreada, há um apoio, mas até uma hora em que a população não apoia mais. O governador Tarcísio está percebendo que esse momento chegou. Mônica Bergamo, colunista da Folha de S.Paulo

Bergamo explicou que Derrite conta com forte apoio político, dificultando uma possível demissão. Por outro lado, mantê-lo significa endossar os casos de abuso policial, algo que pode afetar o prestígio de Tarcísio junto ao eleitorado, na avaliação da colunista.

Se você segue com o mesmo secretário de Segurança, continua dando a mesma sinalização. Por que não se muda esse secretário? Porque ele tem um apoio amplo de forças políticas que dão sustentabilidade para o governo de Tarcísio.

Conversei com o senador Ciro Nogueira [PP-PI] e ele disse que Derrite 'está fazendo um trabalho brilhante em São Paulo'. O secretário tem apoio político, baseado na percepção de que a população brasileira apoia a polícia violenta. Só que isso vai até um certo limite e o governador vira refém dessas forças armadas.

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Tarcísio se encontra nesse momento, com muitas contradições, inações e omissões. Resta saber qual direção ele tomará. Doria pagou indenização àquelas famílias, colocou um freio e botou as câmeras [corporais] goela abaixo da polícia. Quando se viu nessa fase, ele guinou para controlar a polícia. Estamos vendo Tarcísio no discurso. Precisamos ver o que ele fará de efetivo. Mônica Bergamo, colunista da Folha de S.Paulo

Sakamoto: Governo de SP protege PM que mata porque eleitor bate palma

O governo do estado de São Paulo defende a truculência policial por saber que este tipo de política de segurança pública rende votos e tem respaldo de parcela significativa da população, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto.

O nome do problema não é Guilherme Derrite, que está cumprindo ordens. Ele é responsável também, mas realiza essa segurança sob bênção de Tarcísio. Ele é o governador e quem aplicou essa política, da mesma forma como ele retraiu na questão das câmeras de segurança, que antes gravavam ininterruptamente e hoje não necessariamente.

Existe essa política do 'bate, espanca, sangra, mata' para reduzir crime, que é extremamente equivocada e de responsabilidade do governador. Não adianta trocar o Derrite, colocar outra pessoa e essa política continuar só para inglês ver. O governador e o Derrite são os grandes responsáveis por esse processo de descontrolar a tropa através da falsa sensação de que eles [policiais] podem fazer o que quiserem que a gente segura e mata no peito.

Por outro lado, essa política existe porque uma parcela significativa da população de São Paulo concorda com a violência policial como solução para o crime. A população paulista precisa rever seu posicionamento.

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Neste momento, por conta deste caso, o apoio se reverte e por isso o governador fica preocupado. Mas quando o corpo esfriar, volta tudo ao normal porque ele quer o voto de um cidadão que vê na ponta da bala a certeza da justiça. Ou mudamos o posicionamento ou governos continuarão surfando nessa necropolítica para conseguir o voto em 2026. E não se enganem: vai conseguir. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL

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