Tales: Governador Tarcísio de Freitas escolheu um 'secretário matador'

A escolha de Guilherme Derrite como secretário da Segurança Pública, em São Paulo, apontou para a política que seria implantada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) no estado, opinou o colunista Tales Fariano UOL News, do Canal UOL, nesta quinta-feira (5)

O que aconteceu até agora é [consequência] da política implantada pelo governador [Tarcísio de Freitas] e pelo [Guilherme] Derrite. Você escolhe o secretário de Segurança Pública que diz o seguinte: 'Eu fui afastado da Rota porque matei muita gente, matei muito bandido'. Aí não tem jeito. A sua escolha apontou para a política que você ia implantar. Escolheu um secretário para matar. Um matador.
Tales Faria, colunista do UOL

Em maio, ao consultar a certidão criminal de Derrite apresentada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a revista Piauí revelou que o ex-policial militar foi investigado por 16 homicídios, num período de três anos e nove meses, em seis inquéritos abertos contra ele. Em 2021, o próprio Derrite admitiu os assassinatos ao falar sobre a sua saída da Rota, uma modalidade de patrulhamento da polícia paulista. "Porque mateii muito ladrão. A real é essa, simples. Pá!"

Assim como [o ex-presidente Jair] Bolsonaro escolheu militares assim [em seu governo], o nosso governador Tarcísio de Freitas também escolheu um secretário assim.
Tales Faria, colunista do UOL

Tarcísio tem sido pressionado a demitir Guilherme Derrite, diante do número crescente de denúncias de violência policial e letalidade no estado de São Paulo. O governador, no entanto, descartou essa possibilidade ao ser questionado por jornalistas. "Olhe os números. Você vai ver que está [fazendo um bom trabalho]", disse ele, sem explicar quais números seriam esses.

Mudança de opinião em meio a escalada de violência

Assim como o secretário, o governador de São Paulo também era contrário ao uso das câmeras. Durante a campanha eleitoral de 2022, Tarcísio chegou a dizer que retiraria o equipamento do uniforme dos policiais. Depois, recuou e foi pressionado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que pediu explicações sobre o seu uso. Agora, após a escalada de violência cometida por agentes militares, o político disse que "tinha uma visão equivocada" e entende que as câmeras são "instrumento de proteção da sociedade e do policial".

A questão é que [Tarcísio] foi empurrado pelos fatos e mudou de opinião. Mas a verdade é que vamos precisar ver como é que ele vai fazer com as câmeras. O que vai ser da câmera que o policial pode manipular. Muitos outros casos ocorreram e não foram filmados, de forma alguma, porque o governador e a polícia foram contra as câmeras no uniforme. Vamos ver a partir de agora Tales Faria, colunista do UOL

SP deve explicar uso das câmeras ao STF

Em novembro, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, solicitou esclarecimentos sobre o uso de câmeras corporais pela Polícia Militar de São Paulo.

Continua após a publicidade

O requerimento do ministro é no âmbito de uma ação protocolada pela Defensoria Pública de São Paulo para reverter a decisão do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) que suspendeu o uso obrigatório de câmeras corporais em operações policiais no estado.

Barroso rejeitou o pedido da Defensoria, pois considerou que o governo paulista já tinha assumido o compromisso de efetivar o uso das câmeras, e que, portanto, não seria necessária ordem judicial.

As novas câmeras adquiridas pelo governo do estado não gravam ininterruptamente. O contrato com a antiga fornecedora dos aparelhos se encerrou em julho, e as câmeras novas, da Motorola Solutions, podem ser ligadas e desligadas pelos próprios policiais.

A PM publicou uma portaria estabelecendo que os agentes devem ativar os dispositivos durante todas as ações. Mas entidades especializadas criticaram a mudança. "A PM deixa a cargo dos própios policiais a escolha sobre o acionamento das câmeras, o que pode diminuir os efeitos positivos do programa", diz nota assinada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Instituto Sou da Paz e outras entidades.

Casos de brutalidade denunciados

Dois casos ganharam repercussão apenas nos últimos dias: no domingo (1º), Gabriel Renan da Silva Soares, sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, foi morto por um policial militar que estava de folga em frente ao mercado Oxxo, no Jardim Prudência, zona sul da capital paulista. No mesmo dia, outro agente foi gravado em vídeo arremessando um homem de uma ponte em uma abordagem, em Diadema, na Grande São Paulo. Neste caso, a vítima sobreviveu.

Continua após a publicidade

A PM matou 474 pessoas durante ações policiais no estado de São Paulo, entre janeiro e setembro deste ano, segundo dados contabilizados pela própria Secretaria de Segurança. A maioria dos alvos (64%) é formada por pessoas negras (255 pardos e 51 pretos). Ainda há 143 vítimas identificadas como brancas, enquanto as outras 25 pessoas não tiveram a cor da pele registrada.

O levantamento feito pelo UOL mostra ainda que 99% das vítimas são homens, como o estudante Marco Aurélio Cardenas Acosta. A capital paulista lidera a lista de mortos com 122 casos, seguida de Santos, com 36, e São Vicente, 29.

Assista abaixo ao UOL News na íntegra:

O UOL News vai ao ar de segunda a sexta-feira em duas edições: às 10h, com apresentação de Fabíola Cidral, e às 17h, com Diego Sarza. Aos sábados, o programa é exibido às 11h e 17h, e aos domingos, às 17h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL. O Canal UOL também está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.