CV expande domínio para 130 cidades da Amazônia; PCC atua em 28, diz Fórum

Com 130 cidades da Amazônia Legal sob o seu domínio, o Comando Vermelho (CV) tem a hegemonia entre as facções criminosas que atuam na região, indica um estudo divulgado hoje pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Mãe Crioula.

O que aconteceu

CV mais que dobrou o seu domínio em um intervalo de apenas um ano. A terceira edição do estudo "Cartografia das Violências na Amazônia" indica um avanço do domínio da facção criminosa, que saiu de 58 para 130 cidades em apenas 12 meses. É o equivalente a 50% dos 260 municípios sob o poder do crime organizado na Amazônia Legal, de acordo com o levantamento. A região tem 772 cidades.

Domínio do PCC se estabilizou. A facção criminosa paulista manteve o índice de 28 cidades sob o seu domínio, mesmo índice do levantamento anterior, divulgado no fim de novembro de 2023. A Amazônia Legal conta com 84 municípios com disputas entre facções criminosas rivais.

Estudo identificou expansão de facções criminosas em 82 cidades em comparação com o levantamento anterior do Fórum. O índice saltou de 178 para 260 municípios.

Taxa de desmatamento na Amazônia aumentou nos últimos anos, revelam as estatísticas do governo federal
Taxa de desmatamento na Amazônia aumentou nos últimos anos, revelam as estatísticas do governo federal Imagem: GETTY IMAGES

Ligação entre narcotráfico e desmatamento

Estudo aponta conexão entre dinâmica do narcotráfico com avanço do desmatamento e de outros crimes ambientais com disputas fundiárias. "Isso se reflete nas estatísticas de violência da região e indica que é mais perigoso viver hoje na Amazônia Legal do que em outras regiões do país", diz o estudo.

Em 2023, houve 8.603 mortes violentas intencionais na Amazônia Legal. O índice inclui homicídios dolosos, latrocínios (roubos seguidos de morte), mortes decorrentes de intervenção policial e mortes de policiais na região. Com 32,3 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, a taxa é 41,5% maior do que a taxa brasileira, que tem 22,8 mortes para cada 100 mil habitantes.

Com 69,9 vítimas a cada 100 mil habitantes, Amapá tem a taxa mais alta de morte violenta intencional por estado no último ano na Amazônia e a mais elevada do país. Os únicos estados que mantiveram tendência de queda durante todo o período foram Amazonas, Maranhão e Roraima.

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O estudo identificou que há sobreposição de propriedades em terras indígenas em 8.610 imóveis rurais. Em áreas de conservação ambientais, há mais de 11 mil propriedades registradas.

O que dizem os pesquisadores

O conflito pela terra nesta área é regulado pelo crime. Esse controle se dá por meio de cadeias produtivas, entre elas a criação do gado em territórios da União usurpados por grileiros, a exploração ilegal da madeira, a pesca predatória e, principalmente, o garimpo em terras indígenas. Essa regulação do território ocorre de forma violenta e operada pelo crime.
Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Existe um histórico de conflitos fundiários na Amazônia Legal. Para que se entendam as dinâmicas criminais na região, a ação de grileiros está inserida na mesma lógica da disputa por rotas de escoamento do narcotráfico. Nesse sentido, é sempre sobre o controle territorial armado que estamos falando.
Aiala Couto, diretor-presidente do Instituto Mãe Crioula

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