PMs presos por extorsão a vendedores no Brás cobravam R$ 15 mil por ano
Seis policiais militares, uma policial civil e outras oito pessoas foram alvos de mandados de prisão durante uma operação que mira a prática de extorsão de comerciantes na região do Brás, em São Paulo.
O que aconteceu
Agentes exigiam e recebiam pagamentos periódicos para permitir a atividade das vítimas na região de comércio popular. Ambulantes seriam expulsos do bairro e teriam comércio fechado caso não pagassem os valores. A Operação Aurora teve início em março, mas estima-se que o esquema funcionava pelo menos desde o ano passado.
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Valores cobrados giravam em torno de R$ 15 mil por ano e outros R$ 300 por semana. Uma das testemunhas protegidas ouvidas pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) relatou que trabalha na região há seis anos e, recentemente, um grupo de pessoas passou a exigir o pagamento de luvas para autorizar a permanência de seu comércio na região.
Durante investigações constatou-se que grupo atuava como "verdadeira organização criminosa", diz porta voz da PM. Segundo o coronel Fábio Sérgio do Amaral, que acompanha o caso na Justiça Militar, a organização contava com "organização de tarefas bem estruturadas, e atividade habitual" de fiscalizações e cobranças dos ambulantes na região.
Cinco policiais militares e quatro civis foram presos preventivamente. Outro PM, também alvo de mandado de prisão, ainda não foi detido, assim como a policial civil e outras quatro pessoas relacionadas a cooperativas e associações de ambulantes que foram identificadas e devem ser presas em breve, segundo informado pelo coronel durante coletiva de imprensa nesta segunda.
Intimidações ocorriam durante rondas policiais na região, mas extorsões eram praticadas quando policiais estavam de folga. "Essas ações eram praticadas uma parte em serviço e, em outra, quando estavam de folga. Mas todas de forma organizada, como parte da estrutura dessa organização criminosa"
Vendedores recorreram a agiotas para pagarem os agentes. Grande parte dos comerciantes são imigrantes de países da América do Sul, como equatorianos e bolivianos, e não possuem acesso a linhas de crédito, o que os fazia procurar agiotas para obter dinheiro e repassar aos criminosos. "Os comerciantes não tinham esse dinheiro para fazer o pagamento das luvas e eram encaminhados a agiotas que, depois, adotam práticas de cobrança violentas contra eles", afirmou Amaral.
Nos foi informado que uma vítima de nacionalidade equatoriana obteve dinheiro emprestado com um desses agiotas, atrasou o pagamento, e teve sua casa invadida, foi espancado, e teve cerca de R$ 4 mil em espécie subtraídos por um desses policiais, que além de autor das extorsões, também era cobrador desses agiotas. Coronel Fábio Sérgio do Amaral
Investigações comprovaram práticas criminosas por parte de PMs e autoridades solicitaram quebra de sigilo telefónico e telemático dos policiais, além de captação ambientar para que conversas fossem ouvidas. "Todas essas medidas foram autorizadas pela Justiça e cruciais para esclarecer o caso", complementou Amaral.
Ao menos quatro vítimas procuraram o Ministério Público. O promotor Carlos Gaya, do MPSP, explicou que elas estão protegidas. O número de pessoas lesadas, porém, pode ser muito maior. "Durante o curso da busca, identificamos uma série de planilhas, de mecanismos de controle, que eram utilizados pela organização criminosa para garantir que eles tivessem um controle efetivo de quem estava fazendo os pagamentos dos valores da extorsão, e partir de agora vamos atrás dessas pessoas para tentarmos identificar mais vítimas dispostas a depor", afirmou Gaya à imprensa.
Criminosos constituíam supostas cooperativas e sindicatos na região para "trazer ar de legalidade e legitimidade" às cobranças. Ainda segundo o promotor, "eles realizavam as cobranças dessas taxas como se tivessem defendendo esses vendedores ambulantes, o que as investigações mostraram que era tudo de faixada para extorquir e oprimir os comerciantes".
Operação também cumpriu mandados de busca e apreensão. Oito empresas e 21 pessoas tiveram sigilos bancário e fiscal quebrados, enquanto outros mandados de prisão, busca e apreensão ainda estão sendo cumpridos.
Valor subtraído por criminosos é "muito alto". Segundo o coronel, ainda não é possível estimar a quantia total acumulada pelos integrantes da organização, mas "como toda a região do Brás foi loteada por essa organização criminosa, nós imaginamos que esse valor total seja bem alto", afirmou. Já o promotor revelou que na casa de apenas um dos agiotas foi localizado cerca de R$ 145 mil.