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Apae de Bauru: Mulher foi morta por se relacionar com delegado, diz MP-SP

Cláudia Regina da Rocha Lobo e Roberto Franceschetti Filho Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

20/12/2024 15h22Atualizada em 20/12/2024 16h07

Cláudia Regina da Rocha Lobo, então secretária-executiva da Apae de Bauru (SP), foi morta em agosto deste ano após o presidente da entidade, Roberto Franceschetti Filho, descobrir que ela mantinha um relacionamento afetivo com um delegado aposentado.

O que aconteceu

A informação está no inquérito policial citado pelo MP-SP na denúncia enviada à Justiça nesta quinta-feira (19), obtida pelo UOL.

O relacionamento teria começado em abril deste ano. Segundo a denúncia, Roberto ficou com medo de que Cláudia revelasse os desvios realizados por eles na Apae de Bauru e resolveu matá-la para ocultar os crimes.

Cláudia e Roberto são acusados de liderar um esquema de desvio de recursos na entidade. Os dois são acusados de desviar, com a ajuda de outros funcionários, mais de R$ 900 mil entre 2019 e 2024.

A Justiça aceitou a denúncia por organização criminosa e peculato, tornando réus 13 pessoas. São eles: Roberto Franceschetti Filho, Renato Golino, Gisele Aparecida de Camargo Tavares, Letícia da Rocha Lobo Prado, Pérsio de Jesus Prado Júnior, Ellen Siuza da Rocha Lobo, Diamantino Passos Campagnucci Júnior, Maria Lúcia Miranda, Izabel Cristina dos Santos Albuquerque, Gabriel Gomes da Rocha Rodrigues, Fernando Sheridan Rocha Moreira, Felipe Figueiredo Simões Moraes e Renato Tadeu de Campos.

Entre os acusados, nove já estão presos, incluindo Roberto. O UOL tenta localizar a defesa dos réus. O espaço segue aberto para manifestação.

O laudo sobre os fragmentos de ossos, encontrados em um local onde o corpo de Cláudia teria sido queimado, deu resultado inconclusivo. A defesa de Roberto afirma que a análise reforça a inocência do ex-presidente da Apae de Bauru.

'Apae é nossa'

Segundo o MP-SP, Roberto e Cláudia aparelharam a Apae de Bauru com familiares para ajudar nos desvios. Ao menos dez parentes dos dois foram contratados, formal ou informalmente, pela entidade.

Pessoas próximas também teriam sido contratadas para prestação de serviços com notas fiscais falsas e superfaturadas. Os valores, de acordo com a denúncia, retornavam para as contas pessoais da dupla.

Uma conversa obtida pelo MP-SP no celular de Cláudia, ocorrida em setembro de 2019, reforça a tese de controle da entidade. Roberto manda um áudio pelo Whatsapp para Cláudia sobre a eleição para presidente da entidade. "O negócio é seguinte, é, aí do escritório não pode ficar sem nós três aí, entendeu? Ou sou eu, você e o Renato. Tem que ficar pelo menos um. Aqui também. Todo lugar tem que ter pelo menos um para poder segurar essas coisas, né?".

Em outro momento, Cláudia responde também por áudio. "Depois de tudo pronto, é fácil querer fazer parte, né? Depois que está tudo pronto. Trabalhamos o ano inteiro, tal, tal, tal, agora quer chegar no 'busão' e sentar na janelinha. Nem 'fudendo'. Você está certíssimo. Parabéns. Tem que cercar o que é nosso, e a Apae é nossa", diz.

Em novembro daquele ano, Cláudia mandou uma foto para Roberto com o saldo bancário no valor de R$ 47.764,63. Depois, escreve: "Vou fugir". Roberto responde com a mensagem "reparte comigo" e envia a foto da calculadora mostrando o valor pela metade. Segundo a denúncia, ela foi ao banco no dia seguinte e fez a transferência.

Os denunciados, da forma como agiram, desviando sistematicamente recursos em detrimento de serviço que atende à dignidade de pessoas com deficiência, traíram a confiança daqueles que doaram valores para manter e sustentar o atendimento a grande número de crianças e pessoas com deficiência Denúncia do MP-SP

Os líderes [Roberto e Cláudia] foram diretamente auxiliados nas práticas das fraudes, seja por meio de condutas comissivas, seja por meio de omissões penalmente relevantes, por funcionários a eles diretamente subordinados, igualmente beneficiados, cuja participação foi indiscutivelmente fundamental e decisiva para que os desvios se protraíssem no tempo e não fossem descobertos Denúncia do MP-SP

Desaparecimento de Cláudia

A investigação sobre os desvios na Apae de Bauru foi um desdobramento da apuração sobre o desaparecimento de Cláudia. Segundo a Polícia Civil, ela foi assassinada por Roberto Franceschetti.

Dilomar Batista, ex-funcionário da Apae, também é investigado pelo assassinato. Ele teria ajudado a descartar o corpo de Cláudia e foi indiciado por ocultação de cadáver e fraude processual.

A principal hipótese é de que a morte tenha relação com questões financeiras, afirmou Cledson ao UOL, em agosto. "O próprio Roberto indicou que ele estava fazendo retiradas de valores da instituição e repassando para ela. Temos informações também que ela que o indicou como presidente", disse na época.

Imagens de uma câmera de segurança em Novo Jardim Pagani deram "rumo decisivo para a investigação", diz polícia. O vídeo mostra Cláudia deixando o banco de motorista e indo para o banco de trás, onde foi encontrada a maior quantidade de sangue no carro, enquanto Roberto assume o volante.

O presidente da Apae teria dado um tiro na secretária pouco depois de trocarem de lugar no carro. Outras câmeras de segurança mostram Roberto seguindo pela Rodovia Cezário José de Castilho para se desfazer do corpo, de acordo com a investigação.

Defesa de Roberto nega que cliente tenha confessado crime de maneira "formal e muito menos informal". O advogado Leandro Pistelli disse que o cliente nega o crime, e argumenta também que, embora a polícia tenha coletado "fragmentos de ossos" ainda não há "qualquer laudo ou perícia" que os tenha identificado como sendo de Cláudia.

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