'Estamos no escuro', diz pai de piloto de avião desaparecido há 3 semanas
O piloto de aeronaves Raphael Alvarez Fonseca, de 38 anos, está desaparecido há três semanas, após informar ao pai que faria uma viagem a trabalho para Barra do Garças (MT) e retornaria para casa, em Cotia (SP), a tempo de passar o natal com a família.
O que aconteceu
Último contato do piloto com familiares foi em 17 de dezembro. No início daquele mês, ele estava na Amazônia a trabalho e informou ao pai, Genildo Fonseca, que viajaria ao município mato-grossense após receber uma nova proposta de trabalho para pilotar um helicóptero Agusta em uma área rural da cidade.
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Antes de chegar a Barra do Garças, Raphael fez uma parada em Goiânia. O pai informou que o filho deixou o hotel onde estava hospedado no dia 12 de dezembro e conversou com ele rapidamente por chamada de vídeo dias depois. "No dia 16, meu filho fez uma chamada de vídeo rápida comigo de um número desconhecido, dizendo que estava tudo bem e que estaria de volta em casa no dia 20, para passar o natal com a gente", conta Genildo.
No dia em que ele falou comigo, minha preocupação era saber se estava tudo bem. Quando ele disse que sim e que voltaria para casa antes do natal, eu pensei que depois falaria com mais calma com ele para pegar mais detalhes de onde ele estava e o que iria fazer. Mas quando voltei a procurá-lo, aquele número já não atendia mais
Genildo Fonseca, pai de piloto, em entrevista ao UOL
Genildo percebeu depois que número de telefone usado pelo filho tinha prefixo internacional. "Só depois eu percebi que o contato não era do Brasil, tinha o prefixo 591, da Bolívia", relata.
Quando vi que o prefixo não era daqui, mas da Bolívia, achei estranho e liguei para o consulado boliviano, mas informaram que não constava a entrada dele no país. O nome dele também não está em nenhum hospital, em nenhuma ocorrência policial, então a gente não sabe mais para onde ir. Estamos no escuro
Genildo Fonseca
Depois de falar com o pai, piloto se comunicou por mensagem com a ex-esposa. "Vai ficar sem sinal de novo?", questionou ela, que é mãe de um dos dois filhos pequenos de Raphael. "Não fala muito. Tô voando", respondeu ele. Nos dias seguintes, nenhuma das mensagens enviadas pela ex-mulher e outros familiares ao piloto foram recebidas.
Pai ainda aguarda retornos de autoridades brasileiras. Ele abriu um boletim de ocorrência na Polícia Civil de São Paulo e procurou a Polícia Federal, além de órgãos brasileiros de aviação como a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). "Eles ficaram de tentar identificar de onde veio essa ligação com o prefixo 591, mas ainda não deram nenhuma resposta concreta".
Polícias Civis de São Paulo e Mato Grosso confirmam caso. Em nota, a Polícia Civil paulista informou que o desaparecimento do piloto foi registrado na 5ª Delegacia de Pessoas Desaparecidas do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e que "equipes da unidade realizaram diligências na capital" e encaminharam o B.O para a Delegacia de Barra do Garça (MT), "para conhecimento e devidas providências". Segundo o órgão, a Polícia Federal também foi comunicada e "equipes do DHPP prestam assessoramento aos familiares da vítima".
Polícia Civil mato-grossense informa que chegada do piloto a Barra do Garças não foi confirmada. Também em nota, o órgão afirma que o caso é investigado pela polícia paulista e que, "por meio da Delegacia de Barra do Garças, dá apoio às investigações".
Procurados, Itamaraty, Consulado da Bolívia e Polícia Federal ainda não retornaram aos contatos da reportagem. O texto será atualizado no caso de futuras manifestações dos órgãos.
Piloto 'experiente'
Piloto trabalha atualmente como "freelancer" em diferentes áreas da aviação. Entre seus colegas de profissão, seu apelido é "Toko", segundo o pai. "Por cerca de 20 anos, ele já fez aviação agrícola, acrobacia, voos executivos, publicitários, foi copiloto de avião comercial, fez curso de helicóptero, então tem uma ampla experiência".
"Ele é um bom piloto, mas a gente fica apreensivo, fazendo várias deduções do que aconteceu", completa Genildo. "Sem muitas pistas, a gente trabalha com todas as possibilidades. Ficamos preocupados com acidente, que é a primeira coisa que passa pela cabeça."
Nós sabemos que não depende só da experiência dele e que acidentes podem acontecer, mas normalmente isso é reportado com muita rapidez. Então também nos preocupamos com sequestro e várias outras coisas, mas ainda não temos nenhum indício concreto para tirar qualquer conclusão
Genildo Fonseca