Grupo foi para 'aniquilar' referência do MST, diz coordenador do movimento

Valdir do Nascimento, 52, conhecido como Valdirzão, foi um dos dois homens assassinados na noite de sexta-feira (10), por um grupo armado que invadiu um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Tremembé, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.

O que aconteceu

Cerca de dez homens entraram no assentamento e atiraram contra as 20 pessoas que estavam no local. Muitos deles dormiam quando o ataque ocorreu, por volta das 23h. Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, afirmou que Nascimento foi morto "com muitos tiros na cabeça". "O que prova que esse grupo foi lá para aniquilá-lo."

"Valdir era uma referência no combate à venda de lotes", diz Mauro. Ele se refere aos casos em que terras do MST, com ocupação autorizada pelo governo para cidadãos específicos, são vendidas ilegalmente a terceiros.

O assentamento Olga Benário é regularizado para o MST pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) há 20 anos. Cerca de 45 famílias vivem na área.

"Ele era um militante histórico do MST", diz Sabrina Diniz, superintendente do Incra e amiga de Nascimento. "Aceitei o cargo na Incra porque ele me convenceu ser necessário. Havia muitas invasões nos assentamentos, especialmente desde 2021 por grupos de milicianos, com apoio de vereadores e conivência de policiais."

Nascimento participou das primeiras ocupações de terra do Vale do Paraíba e da conquista dos seis assentamentos da região.

Foram atrás dele sabendo que ele era uma liderança que não recuaria e estaria sempre à frente para defender os avanços que tivemos na reforma agrária. Esse foi o preço que ele pagou. Sabrina Diniz, superintendente do Incra e amiga de Nascimento

Combate a invasões de milicianos pode ter motivado ataque. Sabrina conta que, em 2021, o movimento denunciou as invasões na região ao Ministério Público. "Quando assumi meu atual cargo, em 2023, logo na primeira tentativa de invasão no Olga Benário nós conseguimos tirar o invasor do assentamento. Acredito que isso tenha causado uma reação mais organizada deles."

Nascimento era visto com admiração por outros militantes. "Qualquer situação que você precisasse, ele largava tudo para ir te apoiar. Era um militante, um revolucionário, um companheiro que a gente tem como referência de tudo que gostaríamos de ser", diz Sabrina.

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A Presidência da República divulgou nota sobre o atentado. O órgão cita que o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, considera o crime "bárbaro" e que pediu providências e punição ao secretário de segurança pública de São Paulo, Guilherme Derrite, e a Gilberto Kassab, Secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado.

O MDA repudia o crime e manifesta solidariedade e apoio aos assentados da reforma agrária, especialmente às famílias de Valdir do Nascimento e do jovem Gleison Barbosa Carvalho, brutalmente assassinados neste caso.

O presidente Lula (PT) ligou para o coordenador do MST afirmando que acompanhará de perto o caso. Ele também reforçou a atuação da Polícia Federal na investigação.

Diversas autoridades se manifestaram nas redes sociais. "A política de criminalização da luta em defesa da reforma agrária e da terra resulta em crimes violentos", escreveu a deputada estadual do Espírito Santo Camila Valadão (PSOL).

Presidente do PT, Gleisi Hoffmann, pediu ação imediata das autoridades paulistas. "Com prisão dos criminosos e dos mandantes e acompanhamento da Polícia Federal."

"Homens armados invadiram o local, deixando dois mortos e vários feridos, aterrorizando famílias que lutam por terra e dignidade. Nossa solidariedade às vítimas. Justiça é o que o povo brasileiro exige", postou Paulo Pimenta (PT-RS), ex-secretário de comunicação do governo Lula.

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"O crime organizado praticou um gravíssimo atentado", afirmou o deputado estadual Simão Pedro (PT-SP).

A Secretaria de Segurança Pública do estado de SP foi procurada pela reportagem. Em nota, afirma que a "Polícia Civil de Taubaté investiga as mortes de dois homens, 28 e 52 anos".

O caso foi registrado como homicídio, tentativa de homicídio e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido no plantão da Delegacia Seccional de Taubaté. Um homem foi abordado no local e autuado em flagrante por porte ilegal da arma.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Ao contrário do informado anteriormente neste texto e na home do UOL, não foram registradas três mortes após o ataque ao assentamento. Denis Carvalho, que chegou a ter a morte noticiada, segue em coma induzido, de acordo com informações da assessoria do MST. O Movimento e a Polícia Civil informaram que, até o momento, foram registradas duas mortes.

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