Nota fiscal de arsênio estava em celular de suspeita de envenenar bolo

A mulher presa como suspeita de envenenar e matar quatro pessoas da própria família com arsênio em Torres (RS), Deise Moura dos Anjos, comprou o veneno pela internet, informou a Polícia Civil.
O que aconteceu
Uma nota fiscal da compra teria sido encontrada no celular de Deise. O documento, divulgado com exclusividade pela RBS TV e confirmado pelo UOL, mostra o nome da investigada como destinatária e a identificação do produto como arsênio.
O veneno teria sido recebido pelos Correios. ''Hoje eu posso dizer com certeza que ela pesquisou, comprou, recebeu e usou o veneno para matar as vítimas'', afirmou o delegado Marcos Veloso em coletiva de imprensa na sexta-feira (10).

Deise comprou arsênio quatro vezes em um período de cinco meses. Em seu telefone, foram encontradas inúmeras buscas como ''veneno que mata humano'', ''veneno para o coração'' e ''veneno arsênio''.
Mulher alegou que pesquisas foram feitas após resultado laboratorial que indicava arsênio no sangue de vítimas. Segundo Deise, ela teria procurado saber sobre a substância para entender o laudo do exame. Polícia, no entanto, encontrou buscas também em outras datas distintas.
Procurada nesta segunda (13), antiga defesa de Deise informou que deixou o caso, sem informar motivo da decisão. No início de janeiro, os advogados Manuela Almeida, Vinícius Boniatti e Gabriela Souza divulgaram em nota que prestaram "atendimento em parlatório" à suspeita e que não tiveram "acesso integral à investigação em andamento, razão pela qual [a defesa] se manifestará em momento oportuno".
Reportagem tenta localizar nova defesa. O texto será atualizado no caso de futuras manifestações.
Mulher também é suspeita pela morte do sogro
Além das três familiares mortas em dezembro, Deise teria envenenado, também com arsênio, o sogro, Paulo dos Anjos, 68, morto em setembro de 2024. Na época, ele foi internado após comer bananas e leite em pó levados à casa dele por Deise. A causa da morte dele foi registrada à época como complicações por uma infecção intestinal.
Suspeita teria inventado narrativa para convencer família a não levar apuração da morte do sogro adiante. "Num primeiro momento, depois da morte do sogro, ela tenta a cremação do corpo. Depois, ela tenta outra narrativa: de que seria por causa das bananas [que estariam infectadas em razão das enchentes no ano passado, em Canoas]", explicou a delegada Sabrina Deffent, na mesma coletiva de imprensa.
Três dias após a morte do sogro, Deise teria sugerido possíveis causas do suposto incidente. "Acho que não faria nada [para investigar a morte], pois pode ter sido várias coisas, intoxicação alimentar, negligência médica, a banana por estar contaminada pela enchente, ou a hora dele mesmo, sei lá", escreveu ela à sogra, Zeli dos Anjos, uma das vítimas que sobreviveram ao consumo do bolo envenenado, ainda segundo os investigadores.
'Manipuladora e fria', suspeita matou por 'motivo fútil'
Suspeita teve "postura fria, com respostas sempre na ponta da língua", em conversas com investigadores. Ainda segundo o delegado do caso, Deise tem demonstrado estar "muito tranquila" e, por vezes, "esboça sorrisos", nos depoimentos que prestou enquanto investigada.
Motivação do crime é "motivo fútil", seguem investigadores. "Ainda que seja por interesse patrimonial, o preço de quatro vidas não pagaria o que ela queria", continuou Veloso na coletiva.
Ela [suspeita] pesquisou veneno, receita de veneno que fosse inodora, sem cheiro, sem gosto. E, com base nas pesquisas, chegou a uma composição química, que ela tentou montar. Percebemos isso através das compras nos sites. E, com essa combinação, ela começa a tentar envenenar familiares, chegando na morte do sogro. Delegada Sabrina Deffente
"Extremamente manipuladora", diz delegada sobre suspeita. Segundo mensagens obtidas pela polícia, Deise convenceu familiares a não procurarem a fundo o motivo para a morte do sogro. "Há sérios indícios de que ela tenha feito outros envenenamentos, que serão apurados também", afirmou a delegada regional.
"Impossível este caso se tratar de intoxicação alimentar, contaminação natural ou degradação de qualquer substância", afirmou Marguet Mittmann, diretora do Instituto-Geral de Perícias. "Conclui-se, portanto, que a causa da morte de Paulo também foi, de fato, envenenamento", disse a perita em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (10).
Nós temos provas robustas de que ela matou quatro pessoas, por ora. (...) Fortes indícios mostram que essa mulher não só matou quatro pessoas e tentou matar outras três, como também participou de outras tentativas de homicídio. Delegado de Torres, Marcos Veloso, em coletiva de imprensa
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