Conteúdo publicado há 1 mês

Assassinato de Gritzbach foi 'encomendado e pago pelo PCC', diz delegada

O assassinato do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, com 10 tiros de fuzis no Aeroporto Internacional de Guarulhos foi encomendado por faccionados do PCC (Primeiro Comando da Capital). A informação é da diretora do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa) de São Paulo, Ivalda Aleixo.

Hoje, um cabo da Polícia Militar foi preso por suspeita de ser um dos autores dos disparos que mataram o delator. A investigação usou reconhecimento facial e quebra de sigilo telefônico para localizar o suspeito.

O que aconteceu

Delegada disse que polícia tem duas linhas de investigação para esclarecer quem encomendou o crime. "Quanto ao mandante, temos duas linhas de investigação. Ambos de facção", explicou Ivalda Aleixo, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (16). "Temos uma linha com investigação que pode envolver mais de um mandante, seria um consórcio", acrescentou em outra oportunidade, também a jornalistas.

Foi um crime de mando e de pagamento [pelo PCC]. Não considero ter sido a mando de um policial. Foi oferecido dinheiro para outra pessoa, que não aceitou. Ofereceram R$ 3 milhões.
Ivalda Aleixo, diretora do DHPP

Motivação do crime seria a delação de Gritzbach. Para a delegada, isso motivou o assassinato porque "além de expor o esquema de corrupção, ele [Gritzbach] também deu nomes de integrantes do PCC que estavam envolvidos com lavagem de dinheiro", explicou Ivalda.

Nome do suspeito de atirar em Gritzbach não foi divulgado. Não há detalhes sobre como era a atuação dele, mas a polícia disse não ter identificado relação direta entre o atirador e policiais que faziam a escolta de Gritzbach.

Suspeito ainda não prestou depoimento. Polícia espera extrair detalhes sobre o outro atirador que atuou no crime, e que motivação seja esclarecida a partir de informações coletadas com o suspeito.

Reconhecimento facial foi feito após serviço da inteligência e da Corregedoria de PM. O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, detalhou operação em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (16).

Além de quebra de sigilo telefônico e imagens coletadas no dia do crime, polícia vai comparar material biológico coletado. Suspeito dos disparos foi preso temporariamente e será levado ao presídio Romão Gomes, da PM.

Continua após a publicidade

Policiais sabiam da conduta criminosa de delator do PCC. Eles sabiam dessas condutas criminosas antes, e também que o Vinicius continuava realizando atividades ilícitas após a delação
Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite

Além do atirador, outros 14 policiais foram presos. Entre eles, 13 estavam diretamente ligados à escolta de Gritzbach e o outro era um tenente que organizava escalas de trabalho. A Operação Prodotes foi deflagrada para desarticular o envolvimento de PMs com narcotraficantes ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) - a maioria da zona leste da capital e inimigos de Gritzbach.

O UOL não conseguiu localizar a defesa do PM. O espaço fica aberto para manifestações.

Esquema denunciado em 2024

Investigação começou após denúncia em março de 2024. À época, foram apontados vazamentos de informações sigilosas por parte de PMs da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) para favorecer criminosos do PCC, como divulgou com exclusividade ao colunista Josmar Jozino, em 27 de dezembro de 2024.

Em outubro, a PM havia instaurado inquérito para investigar denúncias sobre o envolvimento de PMs com o PCC. Um grupo da facção sediado na zona leste paulistana recebia informações sigilosas para não ser preso nem sofrer prejuízos em operações policiais.

Continua após a publicidade

As investigações contra esses PMs tiveram início em 17 de outubro deste ano, 23 dias antes da morte de Gritzbach, mas se intensificaram a partir de 8 de novembro - quando ele foi assassinado. Isso porque a vítima havia contratado nove policiais militares para cuidar da segurança pessoal dele.

Relembre o caso

Antônio Vinícius Lopes Gritzbach era ameaçado de morte pelo PCC e pivô de uma guerra interna na facção criminosa. O empresário foi atingido por quatro disparos ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos em 8 de novembro.

O veículo usado no crime foi abandonado nas imediações do aeroporto. Dentro dele, havia munição de fuzil e um colete à prova de balas.

Além de Gritzbach, outra pessoa morreu e duas ficaram feridas. O motorista Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, foi levado para a UTI após ser atingido por um tiro nas costas, mas não resistiu e morreu no sábado (9). Samara Lima de Oliveira, 28, e o funcionário de uma empresa terceirizada do aeroporto, Willian Sousa Santos, 39, também foram socorridos ao Hospital Geral de Guarulhos.

Continua após a publicidade

Nenhum dos três tinha ligação com o empresário assassinado, disse a polícia. William sofreu ferimentos na mão direita e ombro e ficou em observação. Samara, atingida superficialmente no abdômen, já recebeu alta médica.

Gritzbach era ameaçado de morte e havia recompensa por sua execução. Ele era acusado de ser o mandante da morte de um narcotraficante ligado ao PCC e também por delatar ao Ministério Público de São Paulo policiais civis envolvidos em casos de corrupção. Em abril, ele entregou ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) um áudio de uma conversa entre dois interlocutores negociando a morte dele por R$ 3 milhões.

O empresário era réu pelos assassinatos de dois homens: Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, criminoso influente no PCC — além do motorista de Cara Preta, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue. A dupla foi morta a tiros em dezembro de 2021 no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Noé Alves Schaum, 42, acusado de ser o executor do crime, foi assassinado em janeiro de 2022, no mesmo bairro.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.