Conteúdo publicado há 27 dias

Internada, jovem baleada pela PRF no RJ escreve bilhete: 'Quero justiça'

Juliana Leite Rangel, 26, a jovem baleada na cabeça durante abordagem da Polícia Rodoviária Federal na véspera de Natal, conseguiu se comunicar com a família por bilhetes.

O que aconteceu

"Quero justiça. Só Deus e eu sabemos o que estou passando", escreveu Juliana. Um vídeo do bilhete foi compartilhado pela mãe da jovem nas redes sociais. Dayse Rangel afirmou que acompanha a evolução da filha e disse que ela já consegue se comunicar por meio da escrita. "Falando comigo nem que seja assim", disse.

A mãe também explicou que Juliana já sabe o que aconteceu com ela. "Já começamos a falar que foi a PRF que causou isso tudo. Ela ainda está sem acreditar. Quer saber o motivo e, por isso, escreveu que quer justiça", esclareceu Dayse em entrevista ao UOL, nesta sexta-feira (17).

Dayse também relatou que a filha ainda não consegue falar, mas que está feliz com os avanços no tratamento. "Estou muito agradecida a todos e a Deus, ainda sem acreditar", afirmou.

Juliana está internada desde o dia 24 de dezembro. Ela foi baleada durante uma abordagem da PRF na Rodovia Washington Luís, no Rio de Janeiro. Segundo o último boletim médico do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, onde ela está internada, a paciente apresenta estabilidade hemodinâmica, sinais clínicos e laboratoriais de boa resposta ao tratamento instituído para controle do quadro infeccioso.

Ela respira com a ajuda de aparelhos, mas não há necessidade de sedação. De acordo com a unidade de saúde, a paciente segue respirando através da traqueostomia, tendo retornado para a ventilação mecânica no dia 7 de janeiro. "Em processo de desmame novamente, ficando períodos do dia fora do suporte ventilatório, sem necessidade de sedação, despertando e interagindo com o meio, realizando fisioterapia motora e respiratória", ainda segundo comunicado do hospital.

Do ponto de vista neurológico, Juliana não apresentou novos sintomas. "Sem novos déficits e sem necessidade de nova abordagem neurocirúrgica", ainda segundo o boletim médico de hoje. O hospital também acrescentou que a paciente segue em terapia intensiva, em acompanhamento pelo serviço de neurocirurgia, psicologia, em conjunto com equipe multidisciplinar. Não há previsão de alta do CTI.

Relembre o caso

Juliana Leite Rangel, 26, foi baleada na cabeça durante abordagem da PRF no RJ, na véspera de Natal
Juliana Leite Rangel, 26, foi baleada na cabeça durante abordagem da PRF no RJ, na véspera de Natal Imagem: Reprodução/Instagram
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Jovem foi baleada na véspera de Natal. Juliana estava no carro com a família, a caminho de Niterói, para a ceia de Natal, quando foi atingida por disparos de agentes da PRF durante uma abordagem.

O pai da vítima, Alexandre Rangel, disse que mais de 30 tiros foram disparados em série pelos agentes. Os policiais teriam alegado que abriram fogo porque o carro onde estava Juliana teria atirado primeiro.

"Começaram a meter bala. Não deram ordem de parada, não deram nada. Eu percebi que era tiro quando quebrou o estilhaço do carro. Eu pedi para os meus filhos e para a namorada do meu filho adolescente se agacharem e ficarem deitados no assoalho do carro. Eles continuaram metendo tiros, mais de 30. De fuzil, pistola", disse o pai ao Estadão.

Alexandre detalhou que também precisou deitar para se proteger. E, mesmo sem enxergar a pista, conseguiu conduzir o carro até o acostamento. "Eu falei que 'aqui tem família, aqui tem família'. Eles falaram: 'Vocês atiraram na gente'. Eu falei: 'Nem arma eu tenho. Como eu vou atirar em vocês se nem arma eu tenho? Eu só tenho família'", afirmou

Ele contou que viu muito sangue na camisa do filho, e acreditou que era o adolescente que tinha sido atingido. "Eu fui olhar. Vi que tinha acertado a cabeça da Juliana. 'Tava' saindo sangue pra caramba", lembrou. "O agente da Polícia Rodoviária Dederal colocou a mão na cabeça, deitou no chão e disse 'que merda eu fiz, que merda eu fiz?', acrescentou.

O pai de Juliana também se feriu. Estilhaços de um dos tiros acertaram o seu dedo. Ele recebeu atendimento médico e foi liberado. No entanto, ele disse que também poderia ser atingido na cabeça, se não tivesse deitado no banco. "Depois a perícia viu que tinha marca de dois tiros no encosto de banco. Falaram que eu tive sorte de estar vivo".

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O superintendente geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, classificou o caso como "um evento traumático". Já o superintendente da PRF no Rio, Vitor Almada, confirmou que a patrulha era feita por três agentes - dois homens e uma mulher - que portavam dois fuzis e uma pistola automática. O nomes dos policiais não foram informados. Por isso, a reportagem não conseguiu localizar a defesa dos envolvidos.

Ainda segundo Almada, em depoimento, os policiais reconheceram ter disparado contra o carro por conta do que seria "um grave equívoco". Eles alegaram ter ouvido disparos e deduziram que tinham partido do veículo. O trio trabalha em funções administrativas, mas estava no patrulhamento por conta do plantão de fim de ano.

Conduta dos agentes será investigada em procedimento do Ministério Público Federal. O órgão abriu investigação no dia 25 de dezembro.

No procedimento, o MPF pede que as viaturas que estavam na abordagem sejam recolhidas. As armas dos policiais também devem ser recolhidas e a Polícia Federal, que também abriu uma investigação, deve informar o que já foi apurado sobre o caso, pediu o documento.

Agentes envolvidos no caso foram afastados preventivamente das atividades operacionais. Eles são dois homens e uma mulher, informou a corporação em nota.

*Com Estadão Conteúdo

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