Ré, kit de iodeto e exames: ela conta como é trabalhar em uma usina nuclear

Se, ao pensar em usina nuclear, você se lembra automaticamente do acidente de Chernobyl, a engenheira eletricista Raissa Lima de Oliveira, 27, está aqui para te lembrar: o Brasil também tem usina nuclear, no Rio de Janeiro.
Raissa está habilitada para operar a futura usina de Angra 3. Enquanto as obras não são finalizadas, ela adquire experiência em Angra 2. E, nas redes sociais, conta detalhes e peculiaridades do trabalho em uma usina do tipo.
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Erro na matrícula a levou à profissão
Raissa passou no concurso em 2022 e começou a trabalhar em Angra dos Reis em agosto de 2023.
Apesar de sempre querer ser engenheira, foi um erro no momento da matrícula que a fez escolher elétrica em vez de civil. Ela acabou se apaixonando pelo curso e não parou mais.
Quando entrei na faculdade, sonhava em trabalhar em Furnas. Queria colocar a mão na massa. No ano em que me formei, abriu o concurso para trabalhar na usina e vi uma oportunidade. Resolvi fazer.
Raissa Lima
Hoje, ela usa as redes sociais para divulgar informações sobre o seu local de trabalho. "As pessoas têm bastante curiosidade sobre o contato com a radioatividade e sobre os rejeitos radioativos", exemplifica Raissa.
Faz parte do imaginário das pessoas o risco associado a essas usinas por causa de Chernobyl —e uma das tarefas de Raissa é desmistificar.
Em 1986, a explosão do reator 4 da usina nuclear na Ucrânia teve um impacto catastrófico. Matou 31 pessoas no momento imediato do acidente e outras milhares que acabaram expostas à radiação.
Olho no corrimão e kit
A engenheira explica que há muitos protocolos para tornar o ambiente seguro. Os procedimentos de usinas nucleares são "copiados" da aviação, uma referência em segurança. Lá dentro, por exemplo, é proibido tirar fotos e transitar por escadas sem segurar no corrimão.
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Para proteger o próprio corpo, os funcionários da usina nuclear andam com um "kit" de socorro imediato: comprimidos de iodeto de potássio, que servem para serem usados em caso de acidente nuclear com liberação de radioatividade.
"Ele protege nosso corpo saturando a tireoide para que ela não consiga absorver o iodo radioativo", explica ela. Além disso, semestralmente, os funcionários são submetidos a um exame de sangue para medir a exposição ao material radioativo.
"A exposição à radioatividade é medida por meio de um exame chamado contador de corpo inteiro. Ele mede toda a radiação à qual fomos expostos durante o ano", afirma Raissa.
"E como temos dosímetros individuais, que medem cada dose quando entramos nas 'áreas de radiação', esse controle é feito constantemente."
Existe um teto determinado pelo órgão regulador brasileiro, a CNEN [Comissão Nacional de Energia Nuclear], e o teto da empresa, que é ainda mais baixo. Dessa forma, se garante que, mesmo exposto à maior dose permitida pela empresa, ainda estaremos abaixo da máxima dose que consta na norma.
Raissa Lima
Outras regras também chamam a atenção de quem não trabalha em setores industriais. Por exemplo, quem usa carro precisa obrigatoriamente estacionar de ré.
"É para facilitar em caso de evacuação", explica. "Já a proibição de fones de ouvido garante que alarmes sonoros serão ouvidos em qualquer circunstância", completa Raissa.
'É uma forma de desmistificar'
A decisão de produzir conteúdo sobre usina nuclear veio ao observar o Instagram oficial da empresa. "Muitas pessoas comentavam dúvidas comuns: se era perigoso, como funcionava", lembra.
"Como eu não sou do marketing, não posso falar em nome da empresa. Então, resolvi usar minhas redes para divulgar informações que já são públicas e fazer esse conhecimento chegar ao máximo de pessoas possível", completa.
É uma forma de desmistificar e popularizar essa fonte de energia que é tão importante para o nosso país.
Raissa Lima
Angra 1 e Angra 2
O Brasil tem duas usinas em funcionamento: Angra 1 e Angra 2. Elas ficam na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis (RJ). As unidades são operadas pela empresa estatal Eletronuclear, e a energia é gerada por meio do urânio.
Juntas, as usinas respondem por aproximadamente 2% do consumo de energia elétrica no país. A energia produzida pelas usinas não é necessariamente consumida no estado.
*Com informações da Agência Brasil
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