Dias alagado: por que a água do Jardim Pantanal demora a baixar?

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O Jardim Pantanal, bairro na zona leste de São Paulo, está ilhado desde o último sábado (1º) devido às fortes chuvas que atingiram a capital paulista. A região, onde vivem 45 mil pessoas, é historicamente afetada pelas enchentes, e a água não parece dar sinal de que vai escoar. Isso é explicado, em parte, pela geografia da região.
O que acontece na região
Jardim Pantanal está em área de inundação do rio Tietê. Isso significa que, quando o rio recebe grandes volumes de água, seja da chuva ou a que vem dos afluentes, é naquela região que o nível dele se eleva. "São as áreas mais baixas da cidade", explica o arquiteto e urbanista Anderson Kazuo Nakano, professor do Instituto das Cidades da Unifesp.
Rio Tietê é um dos principais da cidade. Ele e os rios Pinheiros e Tamanduateí recebem praticamente toda a água que escorre pela cidade de São Paulo —tanto dos rios quanto as do sistema de drenagem artificial, nas tubulações que correm no subsolo.
Escoamento depende da gravidade. Como o bairro já fica em uma região mais baixa, esse processo fica mais difícil. "Não tem muito como escoar, tem que ser feito por meios artificiais. O sistema de drenagem no Jardim Pantanal tem que ser muito bem pensado", avalia Nakano. "Por isso que esses alagamentos permanecem."
Possíveis soluções
Solução precisa considerar microbacia hidrográfica. "Não dá para resolver só com uma ação em um único curso d'água. Você tem que considerar toda a microbacia hidrográfica que está ocupada pelo bairro e trabalhar primeiro na drenagem natural daquele terreno, que é plano, baixo e tem uma drenagem natural difícil. E depois pensar como que faz a drenagem artificial desse terreno", completa ele.
Drenagem natural ajuda, mas não resolve sozinha. Segundo o professor da Unifesp, recuperar o sistema de drenagem natural, tirar os entupimentos por causa do assoreamento, acúmulo de lixo e entulhos ajuda. "Mas só isso não resolve, porque tem construções, ruas e avenidas. Você tem que adaptar o sistema de drenagem artificial, como as galerias, as tubulações de coleta de água da chuva, sarjetas e bueiros."
O sistema de drenagem artificial, conjugado com o sistema de drenagem natural, pode ter soluções baseadas na natureza, como: permeabilização do solo nas ruas locais, jardins de chuva, praças, áreas verdes e soluções para captação, armazenamento e reúso de água da chuva dentro das casas e dos lotes.
Anderson Kazuo Nakano, professor do Instituto das Cidades da Unifesp
Piscinões e barreiras são soluções de macrodrenagem. "Piscinões funcionam com base no princípio da retenção da água da chuva em áreas mais altas, para evitar que elas sejam lançadas no sistema de drenagem natural e artificial toda de uma vez, sobrecarregando as tubulações e gerando enxurradas bruscas que são violentas."
Eles têm que ser qualificadores do espaço urbano. O especialista avalia que é preciso estudar as dimensões e localização desses piscinões da cidade, evitando que eles tragam ainda mais problemas urbanos, como se tornando criadouros de vetores transmissores de doença, principalmente mosquitos da dengue.
A gente tem que trabalhar com uma ideia de áreas de retenção de água da chuva como lagoas integradas a praças, pequenos ou grandes parques, com áreas de lazer, com áreas verdes, com solos permeáveis, com equipamentos esportivos. Essas lagoas têm que ser trabalhadas urbanística, paisagística e ambientalmente nos bairros.
Anderson Kazuo Nakano
Prefeitura defende desocupação
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) defendeu que a solução para os alagamentos é desocupar o local. Segundo ele, uma das medidas em estudo é oferecer de R$ 20 mil a R$ 50 mil como incentivo ao morador que sair do bairro.
Um barco arrastado pelos próprios moradores circula pelas regiões mais alagadas para distribuir marmitas e água potável. "Se não fosse pela ajuda dos voluntários, nós estaríamos abandonados", afirmou uma moradora ao UOL.
Prefeitura disse que tem adotado medidas emergenciais. "Desde o final de semana, foram entregues cerca de 20 mil refeições, mais de 5 mil colchões, cobertores, cestas básicas e outros itens." A gestão municipal também afirma ter acolhido pacientes que perderam medicamentos e conduzido pessoas para atendimento hospitalar e psicológico.
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