Risco de cair e trincheira do tráfico: prédio 'Caveirão' assombra vizinhos

O "Caveirão", como é conhecido o prédio inacabado de 24 andares na Rua do Carmo, centro de São Paulo, pode desabar em meio a casas e comércios, segundo vistoria feita pela prefeitura. Porém, o tráfico de drogas instalado no edifício da década de 1960 preocupa mais os comerciantes da região do que o risco de queda.
O que aconteceu
"Nunca caiu", minimizou Aline Silva, que trabalha na mesma rua do prédio. "Só em dias de chuva que fico mais preocupada, mas, de resto, é o normal. O pessoal que mora aqui há muito tempo diz que sempre falam que vai cair, demolir, mas ele continua aí", justificou ao UOL.
A transformação do edifício-garagem em um prédio abandonado foi acompanhada por Marcelo Santos e sua família. "Acho que não cai, mas esse prédio não traz nada de bom para gente. Transformaram isso aí em uma 'biqueira' [ponto de venda de drogas]", lamentou o comerciante que trabalha há décadas no centro.

A reportagem viu policiais militares caminhando pela rua durante as horas em que esteve no local. Pessoas entravam e saíam de um beco que dá acesso ao prédio inacabado.
"Volta e meia tem ação policial ali, prendem uns dois ou três, mas continua acontecendo", afirmou João Bastos. "Eles não mexem com a gente, me cumprimentam, mas eu cá e eles lá", disse.

Procurada pelo UOL, a SSP-SP não respondeu diretamente sobre a ação policial na Rua do Carmo. Disse, porém, que as forças de segurança estão intensificando o patrulhamento e as investigações em todo o estado para combater a criminalidade. A secretaria também cita índices de queda de furtos e roubos no centro da capital, além de prisões e apreensão de drogas.
A reportagem esteve na Rua do Carmo no mês passado para conversar com comerciantes e verificar as condições do prédio. O edifício está com avarias em toda a construção. Uma família mora em um sobrado "colado" ao Caveirão.
A Prefeitura de São Paulo pediu a demolição do prédio em 2018, ano em que outro edifício, no Largo Paissandu, desabou após um incêndio. Um laudo apresentado pelo município à Justiça já atestava em 2012 a deterioração do Caveirão. "Podendo vir a ruir, tendo em vista que sua estrutura de concreto armado já apresenta sua armadura exposta e sem condições de reparação, podendo assim vir a entrar em colapso causando grave acidente na região", diz o documento.

Disputa judicial
Em maio do ano passado, a Justiça mandou o empresário Rivaldo Sant'Anna, proprietário do Caveirão, demolir o prédio em meio ao risco de desabamento. Porém, o edifício continua de pé, mesmo sob pena de multa diária de R$ 500.
O UOL não conseguiu localizar o empresário. O espaço segue aberto para manifestação.
A Prefeitura de São Paulo disse que tenta na Justiça a autorização para demolir o prédio após Sant'Anna descumprir a ordem judicial. O município quer a permissão para derrubar o edifício e depois cobrar o valor pelo serviço ao proprietário. A gestão Ricardo Nunes (MDB) não respondeu à reportagem se realiza trabalhos de prevenção no local.
Rogério Donnini, professor de Direito na PUC-SP, explicou que a prefeitura poderia realizar trabalhos preventivos. Dentre as ações estariam isolamento da área enquanto a disputa judicial não é resolvida. "A decisão [para autorizar a demolição pelo município] pode demorar, e cabe à prefeitura evitar o dano e, depois, comunicar ao juiz que está tomando as providências pelo risco de desabamento", disse.
Em entrevista à revista Veja no ano passado, Sant'Anna disse que não tem condições financeiras de demolir o "Caveirão". "Não vou demolir, pois não posso gastar R$ 2 milhões para derrubar o prédio [valor estimado por ele] e depois ainda ter que pagar mais de R$ 10 milhões em multas que a prefeitura continua me enviando", afirmou.
*os nomes dos entrevistados no local foram alterados por questões de segurança
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