'Olho e não vejo o chão': gari alpinista, ele faxina morros e até o Cristo

Marco Aurélio Bispo, 47, conhece o Rio de Janeiro sob uma ótica diferente da maioria dos cariocas.

Enquanto o rapel é visto na cidade como prática de turismo, para ele essa é uma tarefa rotineira: sua profissão é gari alpinista. "A equipe de rapel é para isso: chegar a lugares em que a equipe normal não chega."

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Na Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) desde 2002, ele trabalhou por muitos anos na praia de Ipanema. Em 2013, qualificou-se para a limpeza de encostas, morros e pontos turísticos, como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar. Ao todo, 25 garis alpinistas atendem a cidade.

Os materiais de trabalho de Marco Aurélio vão além de uma vassoura e a pá, como um gari comum.

Garis alpinistas removem sujeira de lugares altos e de difícil acesso
Garis alpinistas removem sujeira de lugares altos e de difícil acesso Imagem: Comlurb/Divulgação

Ele usa equipamentos de rapel, foice e enxada, cinto paraquedista com trava-quedas deslizante —além de equipamentos de proteção individual, como capacete, mosquetões e cordas de poliamida.

Altura e acessibilidade são desafios

A altura é uma constante no trabalho diário dos garis alpinistas. "A gente vai onde é solicitado. O trabalho não tem altura máxima."

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Ele se recorda que já subiu até 160 metros em um morro da região central. E não é porque lidar com isso faça parte da rotina que seja fácil: ele explica que há picos mais acessíveis, outros menos.

É o caso da encosta da Rua Djalma Ulrich, no Pavão-Pavãozinho, na zona sul. Marco Aurélio considera este um dos mais difíceis de se limpar, e não é pela altura: ele fica em cima de um túnel. "É muito difícil o acesso."

A gente sente um pouco de medo, mas faz parte. Enquanto você tiver medo, sempre vai trabalhar com confiança.
Marco Aurélio Bispo

Apuros na Providência

Há cerca de cinco anos, Marco passou por apuros enquanto realizava o resgate de um container no Morro da Providência —um dos mais altos. Ao puxar o equipamento, deu de cara com uma colmeia.

Lixo nas encostas faz aumentar a possibilidade de deslizamento de terra, alerta a equipe
Lixo nas encostas faz aumentar a possibilidade de deslizamento de terra, alerta a equipe Imagem: Comlurb/Divulgação
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"Não era pouca abelha, era muita. E elas começaram a me atacar. Minha sorte foi não ser alérgico", lembra ele. Até quem estava no chão, em um lava-rápido próximo, precisou correr das abelhas.

E foi neste mesmo local que, no fim do mês passado, os garis alpinistas do Rio retiraram um sofá das alturas, que foi descartado irregularmente morro abaixo.

Garis alpinistas usam equipamentos como foice e enxada, além de cinto paraquedista
Garis alpinistas usam equipamentos como foice e enxada, além de cinto paraquedista Imagem: Comlurb/Divulgação

A equipe alerta que o lixo nas encostas faz aumentar a possibilidade de deslizamento de terra, o que coloca em risco os moradores, pessoas que passam no local e trabalhadores.

"Ali, você só está seguro por aquele equipamento. A gente sempre faz uma vistoria com qualquer tipo de serviço para evitar acidente com a equipe que vai executar o trabalho", diz.

Vai ter pontos que você vai olhar e não vai ver chão. Tem de estar muito concentrado para ter um bom resultado no serviço do dia a dia.
Marco Aurélio Bispo

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