Funcionários dormiam em fábrica que pegou fogo no Rio por falta de dinheiro

Funcionários que trabalhavam na fábrica de fantasias Maximus Confecções, atingida por um incêndio na manhã desta quarta-feira (12), dormiam no local por falta de dinheiro para voltar para casa. A empresa é uma das mais requisitadas pelas escolas de samba do Rio de Janeiro.

O que aconteceu

Cerca de 30 pessoas dormiam no local quando o fogo começou, relataram sobreviventes. Número foi informado em entrevista à TV Globo, mas quantidade exata de pessoas no prédio não foi divulgada pelas autoridades. "Havia aproximadamente umas 30 pessoas e todo mundo conseguiu sair", afirmou a funcionária Marli, enquanto recebia atendimento médico.

21 pessoas estão feridas, sendo dez em estado grave. Vítimas foram encaminhadas a cinco hospitais, e ao menos nove delas tiveram queimaduras nas vias aéreas após inalarem fumaça tóxica. Ainda não há mais informações sobre os ferimentos sofridos e os estados de saúde das vítimas.

Funcionários citaram condições precárias de trabalho e irregularidades no local. Eles conversaram com a reportagem do UOL, mas optaram por não serem identificados.

Maioria dos trabalhadores passava a semana no local e só tinha direito a uma folga. O grupo se reveza nas funções durante 24 horas, em diferentes núcleos, cada um associado a escola de samba contratante.

A justificativa para o pernoite é principalmente a falta de recursos para voltar para casa todos os dias. O pagamento dos funcionários é feito conforme avaliação da complexidade do trabalho. O UOL apurou que salários podem ser pagos por dia, semana ou mês, com valores que acompanham o volume e a complexidade do trabalho feito.

O Corpo de Bombeiros informou que o prédio estava com a documentação irregular. A Maximus Confecções, localizada em Ramos, na zona norte do Rio de Janeiro, trabalha com escolas da Série Ouro, a segunda divisão do Carnaval do Rio. Ali são confeccionadas fantasias, tecidos e adereços utilizados por componentes das escolas de samba.

A reportagem tenta contato com a Maximus Confecções. O espaço segue aberto para manifestação.

MPT vai investigar denúncias trabalhistas em fábrica

Fábrica será algo de investigação. O Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro abriu uma apuração preliminar para investigar as condições de trabalho no local.

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O MPT-RJ diz que "autuou com urgência uma Notícia de Fato para apurar as condições de trabalho na fábrica". O procedimento aberto é anterior ao inquérito. A partir dele, o órgão deve avaliar se a apuração tem potencial de gerar uma investigação mais aprofundada, ação judicial ou outras medidas contra a Maximus Confecções, empresa responsável pela fábrica, e/ou outros envolvidos em eventuais violações trabalhistas no local.

Órgão esclareceu que pedido de apuração não é novo e foi motivado por denúncias trabalhistas. "Esclareço que não é uma nova autuação. É uma autuação específica para investigar as denúncias relacionadas às condições de trabalho no local", informou a assessoria do MPT fluminense.

Questionada sobre quais denúncias motivaram ação, MPT-RJ diz que "por enquanto" não pode fornecer detalhes. A assessoria do órgão afirma, por fim, que irá retornar, "assim que tiver outras informações". Nesse caso, o texto será atualizado.

Sobre o incêndio

Incêndio está em fase de rescaldo. Seis equipes dos bombeiros trabalharam para controlar e apagar o fogo desde 7h39. A corporação também foi responsável pelo resgate das vítimas presas às janelas.

Funcionária disse que estava trabalhando quando começou a ouvir colegas gritarem "fogo". "Estávamos dentro do ateliê (...) quando eu abri a porta, o fogo veio e só deu tempo da gente correr, se jogar pela escada e sair. Mas tinha mais gente lá em cima. Pegou fogo em tudo, tudo, nas máquinas. Está desesperador, foi horrível", contou Roberta, em entrevista ao RJTV. Ela também explicou que trabalhadores dormem no local para trabalharem por turnos na produção de fantasias do Carnaval do Rio.

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Fábrica atingida confeccionava fantasias para escolas de samba e uniformes militares. Ainda não há informações sobre a causa do incêndio, segundo os bombeiros. Segundo a corporação, a fábrica não estava com o laudo atualizado e, portanto, não poderia estar em funcionamento.

Império Serrano informou que todas as fantasias para o Carnaval estão na fábrica. Em nota, escola de samba lamentou o incêndio e disse estar focada em garantir a segurança de todos os envolvidos neste acidente.

Outras escolas também foram impactadas. As agremiações Unidos da Ponte e Unidos do Parque Acari também se pronunciaram dizendo que toda a produção de fantasias estava na fábrica. Já as escolas União da Ilha do Governador e Unidos do Porto da Pedra afirmaram que possuíam produções de parte do desfile em responsabilidade da fábrica (leia mais aqui).

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