'Misógino e stalker': serial killer de AL é denunciado por novo feminicídio
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O Ministério Público de Alagoas apresentou uma nova denúncia contra Albino Santos de Lima, 42, apontado por autoridades como o maior assassino em série de Alagoas. A última acusação se refere ao feminicídio de Louise Gbyson Vieira de Meloa, uma mulher transgênero assassinada a tiros em Maceió.
O que aconteceu
Vítima era monitorada há meses por Albino, réu confesso do assassinato em série de outras mulheres, segundo MP. "No caso de Louise, há nos autos informações de que o denunciado teria iniciado o "stalking" [perseguição] após tê-la visto na academia, passando cerca de sete meses observando suas movimentações nas redes sociais, captando todas as informações necessárias para se aproximar dela sem possibilitar qualquer chance de fuga, o que fatalmente ocorreu", diz um trecho da denúncia.
Crime ocorreu em dezembro de 2023, no bairro Vergel do Lago, próximo à residência do acusado. Segundo as investigações policiais citadas na denúncia do MP, Louise, que não teve a idade divulgada, retornava a pé da escola para casa à noite, quando começou a suspeitar que era perseguida. Ela, então, pediu que uma colega a acompanhasse até em casa. No caminho, porém, foi "surpreendida com os disparos de arma de fogo na região da cabeça, que a levaram a óbito".
Em janeiro, MP alagoano denunciou Albino por outro assassinato e duas tentativas de homicídio. Dois meses antes, a Polícia Civil já havia apontado ele como autor de pelo menos dez mortes em um período de 10 meses — de outubro de 2023 a agosto de 2024. Todos os crimes teriam ocorrido dentro de um raio de 800 metros da residência do acusado, nos bairros Vergel do Lago, Ponta Grossa e Levada em Maceió.
Após diversas provas coletadas pela polícia, acusado confessou autoria dos crimes. Segundo o MP, das 11 vítimas assassinadas por ele, oito eram mulheres e três, homens. Atualmente, existem oito inquéritos policiais em andamento contra Albino, que foi preso preventivamente em 17 de setembro do ano passado.
Denunciado justifica ações por suposto envolvimento das vítimas com crimes, ainda conforme o MP. De acordo com a denúncia, ele associa as pessoas que assassinou a, principalmente, organizações criminosas e ao tráfico de drogas, sem qualquer comprovação.
Verdade é que a obsessão do denunciado é por vítimas que possuem um perfil físico muito consistente, que se repete, assim como o modus operandi calculista empregado: escolher, pesquisar, planejar, perseguir, trajar-se de forma específica e executá-las em período noturno, saindo a pé do local, com a frieza e tranquilidade de quem, equivocadamente, crê na impunidade. Trecho de denúncia do Ministério Público de Alagoas, apresentada em 7 de fevereiro
Tipificação de feminicídio para mulheres transgêneros tem amparo legal. Na denúncia mais recente, o MP ressalta que Louise era uma mulher trans, "sendo passível, pois, do amparo legal relacionado ao crime de feminicídio", uma vez que "não se trata de fazer analogia, mas de aplicar simplesmente o texto da lei [Maria da Penha], cujo art. 5º refere-se à violência 'baseada no gênero', e não no sexo biológico".
'Agressivo', 'misógino' e 'justiceiro'
Acusado mantinha no celular registros das vítimas e "selfies" tiradas em frente a seus túmulos, destaca MP. Segundo o órgão, no telefone apreendido e periciado pela polícia foram encontradas pastas organizadas "com temas sobre prostitutas, notícias dos homicídios que ele havia praticado, vítimas em potencial, pesquisas das redes sociais de vítimas, postagens de amigos e familiares lamentando as mortes, até o absurdo macabro de fotografias dele, denunciado, em cemitérios, tirando selfie (autorretrato) em túmulos".
Entre os arquivos salvos no aparelho de Albino, estavam pastas nomeadas como "odiadas Instagram" e "mortes especiais". Dentro delas, segundo o MP, havia uma "quantidade robusta de provas sobre as práticas criminosas atribuídas ao denunciado", como imagens de um calendário com as datas dos homicídios junto a registros relacionados às mortes das vítimas, incluindo Louise.
Da perícia realizada no aparelho telefônico apreendido em poder do denunciado, (...) extrai-se a prova do viés misógino e de auto-intitulação de 'justiceiro' no comportamento do acusado, uma vez que ele armazenava os contatos de praticamente todas as mulheres com o nome associado ao termo pejorativo 'puta', ou pessoas não nominadas com a expressão 'investigar', além das muitas páginas de contatos relacionados com sexo, pornografia e prostitutas. Trecho de denúncia do MP-AL, apresentada em 7 de fevereiro
Acusado apresenta "comportamento agressivo e misógino", segue MP. "A série de crimes cometidos com vítimas de características aproximadas, jovens e adolescentes do sexo feminino, sem qualquer envolvimento com o denunciado, friamente perseguidas e assassinadas, deixa claro que ele apresenta comportamento agressivo e misógino, de repulsa social ao feminino", segue a denúncia do órgão.
Arma de fogo apreendida com Aldino pertencia ao pai, que é PM da reserva. À Polícia Civil, o familiar, indiciado por fornecer o armamento em desacordo com a lei, confirmou que emprestava a arma ao filho, mas afirmou que não sabia que ele a utilizava para matar pessoas.
Defesa de Albino chamou acusado de "serial killer" e "sociopata". Em entrevista ao Fantástico no fim do ano passado, o advogado de defesa de Albino, Geoberto Luna, afirmou: "A cabeça dele é de uma pessoa doente, um sociopata, e esse vai ser o caminhar da minha defesa, visto que, mesmo sendo um serial killer, ficando-se confirmado, ele tem direito a defesa".
UOL ainda não conseguiu localizar o advogado de Albino para comentar nova denúncia. O espaço fica aberto e o texto será atualizado no caso de futuras manifestações da defesa.
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