Suspeita por bolo envenenado no RS teria entregado aliança antes da morte
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A principal suspeita no caso do bolo envenenado com arsênio, em Torres (RS), que resultou na morte de três pessoas da mesma família, foi encontrada morta em sua cela na prisão, na manhã desta quinta-feira (13). A polícia suspeita que, um dia antes, ela teria entregado a aliança do seu casamento ao advogado.
O que aconteceu
Óbito foi constatado por agentes penitenciárias. Segundo a Polícia Civil, Deise Moura dos Anjos foi encontrada pouco antes das 8 horas com sinais de asfixia, mas ainda com pulsação, por agentes penitenciárias em sua cela, na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na região metropolitana da capital gaúcha.
"Como ela era uma presa temporária, estava sozinha em uma cela de contenção, afastada das demais detentas", explicou ao UOL a delegada Karoline Calegari, responsável pela investigação do caso.
Durante o socorro, porém, ela perdeu os sinais vitais. As agentes, então, acionaram o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que confirmou a morte de Deise.
Um dia antes, Deise esteve com o advogado e a polícia suspeita que ela entregou sua aliança de casamento a ele. Segundo informado ao UOL pela delegada, há uma "circunstância ainda pendente de confirmação" de que na quarta (12), ela "entregou a aliança para o advogado, depois que o esposo pediu a separação".
A reportagem tenta contato com a defesa de Deise para confirmar a informação, mas ainda não teve retorno. O texto será atualizado no caso de futuras manifestações.
Cela onde Deise estava foi encontrada com "manuscritos". Ainda segundo a delegada do caso, haviam escritos à mão na cela "que não puderam ser verificados", uma vez que os policiais "não quiseram prejudicar o local da perícia". A autoridade afirma, no entanto, que "a princípio, poderia ser uma carta de despedida ou algo escrito pela própria vítima".
A causa da morte ainda é investigada pela perícia e pela Polícia Penal. A principal hipótese é que tenha sido suicídio por asfixia mecânica, o que será confirmado "após a oitiva formal de todos os envolvidos e da realização da perícia", informou Calegari.
Corpo de Deise será encaminhado para perícia e, depois, ao IML. "A partir do momento que a perícia for realizada, os agentes penitenciários, enfermeiras, médicas que prestaram o socorro serão ouvidos na delegacia, ainda na data de hoje", concluiu a delegada.
Relembre o caso
Investigadores coletaram provas com "fortes indícios" de que Deise praticava "homicídios em série" contra a própria família. Segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, ela foi autora da morte por envenenamento de quatro familiares, entre setembro e dezembro do ano passado. Ela também é investigada por outras tentativas de homicídio na família, segundo divulgado pelos investigadores em janeiro.
Sogro morreu em setembro de 2024, e outras três pessoas em dezembro. No caso mais recente, grandes concentrações de arsênio foram encontradas em um bolo consumido por cinco familiares. As vítimas fatais eram irmãs e sobrinha da sogra da suspeita: Maida Berenice Flores da Silva, 58 anos, Tatiana Denize Silva dos Santos, 43 anos, e Neuza Denize Silva dos Anjos, 65. Zeli dos Anjos, 61, sogra de Deise, também foi hospitalizada, mas recebeu alta, assim como uma criança de 10 anos.
Provas contra Deise

Uma nota fiscal da compra do veneno teria sido encontrada no celular de Deise. O documento, divulgado com exclusividade pela RBS TV e confirmado pelo UOL, mostra o nome da investigada como destinatária e a identificação do produto como arsênio.
Arsênio foi recebido pelos Correios, segundo investigadores. ''Hoje, eu posso dizer com certeza que ela pesquisou, comprou, recebeu e usou o veneno para matar as vítimas'', afirmou o delegado Marcos Veloso, em coletiva de imprensa, em janeiro.
Suspeita comprou veneno quatro vezes em um período de cinco meses. Em seu telefone, foram encontradas inúmeras buscas como ''veneno que mata humano'', ''veneno para o coração'' e ''veneno arsênio'', antes dos envenenamentos dos familiares, ainda segundo a Polícia Civil.
Deise alegou que pesquisas foram feitas após resultado laboratorial que indicava arsênio no sangue de vítimas. Segundo a Polícia Civil, a familiar suspeita disse que teria procurado saber sobre a substância para entender o laudo do exame do sogro morto. Os investigadores afirmam, no entanto, que encontraram buscas por arsênio feitas por Deise em outras datas distintas.
Suspeita teria enviado a familiares mensagens usadas como parte das provas. Alguns trechos delas foram divulgados em entrevista coletiva sobre as investigações no início de janeiro. "Vamos mostrar uma pequena parte das conversas que ela teve com pessoas com quem se relacionava para mostrar como funciona a mente dessa pessoa sobre a vida humana", afirmou aos jornalistas o delegado Marcos Veloso na ocasião.
"É bem provável que eu não vá para o paraíso", escreveu Deise em novembro, segundo os investigadores. Na mensagem completa enviada por ela a um familiar, que não foi identificado pelas autoridades, ela teria escrito: "Quando eu morrer, cuida do meu filho e reza bastante por mim, pois é bem provável que eu não vá para o paraíso" (leia mais aqui).
Centro de Valorização da Vida
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