Negociava com PCC e CV: quem é o traficante que mandou matar Gritzbach

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O traficante conhecido como João Cigarreiro é apontado pela Polícia Civil de São Paulo como o mandante do assassinato de Vinícius Gritzbach. O delator do PCC (Primeiro Comando da Capital) foi morto a tiros no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, em 8 de novembro de 2024.
O que aconteceu
O suspeito foi identificado como Emílio de Carlos Gongorra Castilho. Ele é conhecido como João Cigarreiro e Bill.
A polícia realiza uma operação nesta quinta-feira (13) para prender o suposto mandante do crime. Além do mandado de prisão contra ele, as autoridades cumprem pelo menos outros 20 de busca e apreensão em endereços ligados ao suspeito. A informação sobre a operação foi confirmada ao UOL pela SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), que detalhou que 116 policiais atuam em buscas em 20 endereços.
A reportagem do UOL já havia adiantado em janeiro que Cigarreiro era procurado. A coluna de Josmar Jozino trouxe a informação de que ele sequestrou Gritzbach em 2022, levando-o para o tribunal do crime do PCC.
O suspeito não foi encontrado pela polícia até o início da tarde, mas a ex-companheira e filho dele foram detidos. A informação foi repassada por fontes da Polícia Civil de São Paulo ao UOL.
Ligações com crime organizado no RJ e em SP
Cigarreiro é um traficante com ligações com o crime organizado do Rio de Janeiro e de São Paulo, segundo a polícia. Ele teria emprestado dinheiro a Gritzbach, mas a investigação ainda não confirmou se este seria o motivo da suposta ordem de assassinato.
O traficante atuava no tráfico de armas para o Rio de Janeiro. Investigações da Polícia Civil de São Paulo ligam Gongorra Castilho a negociação de venda de armamentos entre o Comando Vermelho e o PCC.
Quase 30 pessoas, entre policiais e empresários, foram presos por desdobramentos do caso Gritzbach. Entre os 26 detidos em diversas operações, até o momento, estão cinco policiais civis, um advogado e dois empresários delatados por Gritzbach.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Emílio Carlos Gongorra Castilho. O espaço continua aberto para manifestações dos defensores, e o texto será atualizado se houver posicionamento.
Braço direito de homem forte do PCC

Cigarreiro era um braço direito de Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o "Cara Preta", morto em dezembro de 2021. Segundo o Ministério Público de São Paulo, Cara Preta era um integrante do PCC envolvido com o tráfico internacional de drogas e outros delitos. Gritzbach foi acusado pelo MPSP pelo assassinato de Cara Preta, mas sempre negou o crime.
O suposto mandante intermediava negócios entre o CV e o PCC. Entre 2008 e 2010, quando o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho mantinham relação de negócios — que virou guerra em 2017 —, Cigarreiro era o homem que o PCC mandava ao Rio para estabelecer negócios entre as facções criminosas. A investigação da época mostrou os morros aonde ele ia, e tabelas de drogas e armas negociadas entre as duas facções por intermédio dele.
Gritzbach teria confidenciado aos amigos mais íntimos que Cigarreiro tinha ligações com o CV e que temia por sua integridade física. Em janeiro de 2022, ele sequestrou Gritzbach e o levou para um "tribunal do crime" do PCC no bairro do Tatuapé, zona leste paulistana.
Dívida motivou desavença na época do sequestro. Segundo a polícia, Cigarreiro deu R$ 4 milhões para o empresário investir em criptomoedas e nunca mais viu a cor do dinheiro.
Gritzbach afirmou que ficou em poder dos sequestradores por nove horas. No cativeiro, estavam agenciadores de jogadores famosos de futebol e integrantes do PCC, como Cláudio Marcos de Almeida, 50, o Django, e Rafael Maeda Pires, 31, o Japa, mortos após conflito interno no PCC.
Perguntas sobre "Cara Preta". O empresário alegou que, no cativeiro, os sequestradores queriam saber a qualquer custo se ele tinha desviado R$ 100 milhões do narcotraficante Anselmo Bechelli Santa Fausta.
Gritzbach foi acusado de ter sido o mandante da morte de Cara Preta, porque o narcotraficante exigiu de volta o dinheiro desviado. Por esse motivo, sequestraram e ameaçaram o empresário de morte. No cativeiro, um dos homens do "tribunal do crime", usando luvas cirúrgicas pretas, prometeu esquartejá-lo.
Ele só foi solto do cativeiro quando sequestradores fizeram uma operação de resgate de criptomoedas e recuperaram R$ 27 milhões. Após isso, ele passou dias enclausurado.
Morte em aeroporto
Antônio Vinícius Lopes Gritzbach se dizia ameaçado de morte pelo PCC e pivô de uma guerra interna na facção criminosa. O empresário foi atingido por quatro disparos ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos em 8 de novembro.
O veículo usado no crime foi abandonado nas imediações do aeroporto. Dentro dele, havia munição de fuzil e um colete à prova de balas.
Além de Gritzbach, outra pessoa morreu e duas ficaram feridas. O motorista Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, foi levado para a UTI após ser atingido por um tiro nas costas, mas não resistiu e morreu no sábado (9). Samara Lima de Oliveira, 28, e o funcionário de uma empresa terceirizada do aeroporto, Willian Sousa Santos, 39, também foram socorridos ao Hospital Geral de Guarulhos.
Nenhum dos três tinha ligação com o empresário assassinado, disse a polícia. William sofreu ferimentos na mão direita e ombro e ficou em observação. Samara, atingida superficialmente no abdômen, já recebeu alta médica.
Havia recompensa pela morte de Gritzbach. Ele era acusado de ser o mandante da morte de um narcotraficante ligado ao PCC e também por delatar ao Ministério Público de São Paulo policiais civis envolvidos em casos de corrupção. Em abril, ele entregou ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) um áudio de uma conversa entre dois interlocutores negociando a morte dele por R$ 3 milhões.
O empresário era réu pelos assassinatos de dois homens: Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, além do motorista de Cara Preta, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue. A dupla foi morta a tiros em dezembro de 2021 no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Noé Alves Schaum, 42, acusado de ser o executor do crime, foi assassinado em janeiro de 2022, no mesmo bairro.
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