Mesmo após selarem trégua, Marcola e Marcinho VP seguem cumprindo pena
Colaboração para o UOL
14/02/2025 05h30
Marcola e Marcinho VP firmaram uma trégua entre PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho) para afrouxar regras do sistema penitenciário e otimizar o tráfico de drogas. Mas, enquanto articulam alianças, seguem isolados em presídios federais e ainda cumprem longas penas.
O que aconteceu
Marcola e Marcinho VP, líderes das duas maiores facções do Brasil, selaram um acordo de trégua. O pacto visa enfraquecer principalmente o rígido regime das penitenciárias federais e consolidar o domínio conjunto das rotas de tráfico de drogas.
Articulação seria cogitada desde 2019. O sistema penitenciário federal impõe restrições severas aos dois criminosos, incluindo isolamento e limitação de comunicação. Essa realidade tem motivado tentativas de influenciar a política carcerária. O promotor Lincoln Gakiya, especialista no combate às facções, destacou que essa articulação vem sendo gestada desde a remoção de Marcola para o sistema federal, em 2019.
Além da busca por melhores condições carcerárias, a aliança fortalece o tráfico nas duas principais rotas do país. O PCC domina a chamada "rota caipira", que liga a Bolívia ao Porto de Santos, enquanto o CV controla a "rota do Solimões", no Amazonas. O objetivo da trégua é otimizar o fluxo de drogas para Europa e África.
Marcola está detido na Penitenciária Federal de Porto Velho, Rondônia, desde 2019, sob regime de segurança máxima. Condenado a mais de 300 anos de prisão, ele segue isolado e sem previsão de progressão de regime. Mesmo com o limite de 30 anos de reclusão estabelecido pela legislação brasileira, sua permanência no sistema federal deve ser prolongada devido à periculosidade e novas sentenças.
Marcinho VP cumpre pena na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. Preso desde 1997, acumula condenações que somam 48 anos, mas sua defesa já tentou revisões de pena. Dependendo das condições de progressão, ele poderia sair nos próximos anos, embora as autoridades sigam monitorando sua influência criminosa.
Tentativas de fuga
Autoridades monitoram a possibilidade de que a trégua entre PCC e CV facilite planos de fuga. O histórico de articulações dessas facções inclui resgates cinematográficos e tentativas de suborno no sistema penitenciário. O alerta foi reforçado após agentes federais identificarem ordens internas impedindo confrontos entre membros das duas organizações.
A trégua também gerou impacto nas periferias, com relatos de redução de conflitos entre as facções. No Ceará e no Amazonas, autoridades de segurança pública confirmaram a disseminação de ordens para evitar ataques entre membros rivais, sinalizando uma reconfiguração das dinâmicas do crime organizado no país.
O UOL entrou em contato com o Ministério da Justiça e Segurança, que cuida dos presídios federais. Mas até o momento a pasta não respondeu aos questionamentos.
*Com matérias publicadas em 21/02/2019, 13/10/2021 e 14/08/2022.