Nunes é proibido de fazer novas demolições em parque após derrubar teatro

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A Justiça de São Paulo proibiu a prefeitura da capital paulista de fazer novas demolições no Parque do Povo, na zona sul de São Paulo. A medida ocorre após a gestão de Ricardo Nunes (MDB) destruir a sede de um teatro e uma escola de capoeira no local na última semana.
O que aconteceu
Gestão municipal só poderá fazer novas demolições com objetivo de manter a segurança dos usuários do local. A medida é válida em caso de risco de desabamento ou outra questão relevante, segundo decisão proferida nesta terça-feira (18). O juiz Evandro Carlos de Oliveira destacou que o local é tombado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo).
Magistrado mandou que Nunes e a prefeitura sejam citados no processo. A Justiça determinou que a gestão se manifeste para contestar a ação em até 40 dias úteis, caso contrário os fatos denunciados serão considerados verdadeiros.
Decisão atendeu parcialmente a ação de políticos do PSOL de São Paulo. A deputada federal Luciene Cavalcante, o deputado estadual Carlos Giannazi e o vereador Celso Giannazi também solicitaram a realocação dos grupos de teatro e capoeira para o parque, indenização pelos danos sofridos e reconstrução das obras demolidas. Os pedidos, no entanto, foram negados pelo Judiciário.
Prefeitura nega que tenha demolido as estruturas sem aviso. Em nota ao UOL na última semana, a gestão ainda disse que o local tinha "sinais de abandono" e que os objetos foram "retirados pelo responsável da atividade, com ajuda da equipe operacional da Prefeitura de São Paulo". No domingo (15), havia peças sob escombros e um piano destruído em meio ao concreto.
Nesta terça, a gestão Nunes disse que disponibilizou um centro cultural no mesmo bairro para a escola de capoeira funcionar. Em nota, eles afirmaram que o local tinha atividades incompatíveis, como comércio de bebidas alcoólicas e exploração de estacionamento particular não autorizado. "No local, havia uma estrutura de alvenaria construída irregularmente em 2012, e encontrava-se em condições precárias. A construção estava abandonada e não havia indícios de uso cultural ou teatral."
Ao UOL, a prefeitura disse na quarta-feira (19) que a Procuradoria-Geral do Município "se manifestará nos autos quando devidamente intimada da decisão".
Entenda o caso
Responsável pelo local diz que prefeitura demoliu a sede do Teatro Vento Forte sem avisar ninguém. "Destruíram tudo sem apresentar documento. Eu estava lá e perguntei o que estava acontecendo. Falaram para eu me calar ou iam me prender", disse Claudeir Gonçalves, 52. A prefeitura afirma que a demolição foi feita "com a ciência do responsável" para garantir a "reintegração de posse" do imóvel.
Prédio que abrigava o grupo de teatro, fundado em 1984, foi demolido na quinta-feira (13). No domingo (16), houve um protesto no local.
A prefeitura disse que responsável tinha ciência da demolição, mas ele nega. A reportagem questionou a prefeitura sobre quem foi o responsável notificado, mas não houve resposta até a publicação deste texto.
O teatro estava com as atividades pausadas, mas guardava um acervo de 40 anos de trabalhos. "Embaixo desses escombros há cenários, figurinos, peças de décadas de arte", diz Ademir de Castro, 54, arte-educador que frequentou o grupo por 27 anos.

Também foi iniciada a destruição de uma escola de capoeira na mesma área. "Soube só no outro dia de manhã que demoliram o espaço com minhas coisas dentro, não falaram nada antes", afirma o mestre de capoeira Messias dos Santos, 68.
A suspeita dos integrantes do grupo é de que o prédio tenha sido demolido por causa da especulação imobiliária. Hoje, o bairro do Itaim Bibi é um dos mais caros da cidade: o valor do metro quadrado chega a R$ 17 mil, segundo o índice FipeZap.
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