Conteúdo publicado há 1 mês

Desembargador pede reavaliação de Guaranho e diz: 'Não sou bolsonarista'

O desembargador Gamaliel Seme Scaff, que autorizou em decisão liminar o ex-policial penal Jorge Guaranho a cumprir a pena em prisão domiciliar na última sexta-feira (14), negou ser 'bolsonarista' e determinou que o homem seja submetido a uma reavaliação médica para esclarecer se ele pode voltar para a prisão.

O que aconteceu

Gamaliel Seme Scaff negou ter 'protegido' Jorge Guaranho, condenado a 20 anos de prisão pela morte do tesoureiro do PT Marcelo Arruda. Scaff foi pressionado nas redes sociais após a decisão.

"Um tempestuoso clamor público de parcela da militância das esquerdas, ao pressuposto de que o réu condenado no dia anterior, teria sido posto em liberdade porque o juiz seria bolsonarista e estaria protegendo o assassino da vítima Marcelo, em absoluto desrespeito à viúva, familiares e companheiros. Isto nunca foi verdade. Não sou bolsonarista", escreveu em despacho publicado na segunda-feira (17) no Tribunal de Justiça do Paraná.

O desembargador também classificou a morte de Arruda como um ato repugnante. "Faço questão de dizer que tal acontecimento também a mim causou e ainda causa enorme repugnância, seja pela estupidez de um crime absolutamente sem sentido, seja pelos resultados tão trágicos e de consequências tão avassaladoras para toda a família e amigos", escreveu.

Jorge Guaranho terá de passar por uma reavaliação médica no Instituto de Medicina Legal. O desembargador determinou que perícia vai identificar se o réu condenado tem condições de cumprir a pena no Complexo Médico Penal do Paraná ou em alguma prisão estadual.

Advogados do bolsonarista defendem que ele precisa de tratamento médico. No pedido à Justiça, os defensores detalharam que Guaranho levou nove tiros no dia da morte de Marcelo e foi espancado por cinco minutos, o que resultou em fratura completa da mandíbula, perda de dentes e massa óssea. "Cabe destacar que os diversos projéteis estão alojados no corpo do paciente, inclusive na caixa craniana e na porção esquerda da massa encefálica", segundo pedido protocolado no TJPR.

"Autorizo o diligenciamento e comunicações necessárias em caráter de urgência, tanto ao IML quanto à parte, dada a necessidade de se atualizar as informações médicas do paciente, como forma de atualizar e confirmar se aqueles requisitos anteriormente demonstrados, ainda persistem ao nível que impossibilite o cumprimento da pena pela forma determinada na referida sentença condenatória", diz trecho da decisão de Gamaliel Seme Scaff.

Guaranho já cumpria pena em prisão domiciliar desde setembro de 2024. Mas, na quinta-feira (13), após a condenação, a juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler determinou que o réu deveria voltar para a cadeia.

O réu condenado foi liberado na sexta-feira. A Justiça do Paraná determinou o monitoramento por tornozeleira eletrônica e liberou deslocamento apenas para tratamento médico, devendo informar ao juízo. Ele fica proibido de sair de casa, em Curitiba, para outro fim, e não pode manter contato com qualquer pessoa ou testemunha relacionada com a ação penal.

Continua após a publicidade

Decisão liminar é válida até o julgamento do mérito da ação. Segundo o advogado Rogério Oscar Botelho, que representa a família de Marcelo Arruda, o julgamento do mérito deve ser realizado em até 30 dias.

O UOL procurou os advogados de Jorge Guaranho para um posicionamento, mas não houve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.

MP pediu que bolsonarista volte ao presídio

O Ministério Público do Paraná recorreu para derrubar a decisão que concedeu prisão domiciliar ao ex-policial penal. No recurso apresentado nesta segunda-feira (17), o MP afirma que Jorge Guaranho tem "alto grau de belicosidade" e deve ficar preso com base na decisão do Supremo Tribunal Federal que determina a soberania dos vereditos do Tribunal do Júri.

Os promotores também disseram que o tratamento médico pode ser realizado na cadeia. "Não se constata que o paciente esteja extremamente debilitado - como se observa dos vídeos veiculados na mídia que captaram sua entrada e/ou saída do fórum, bem como do vídeo de seu interrogatório em plenário - ou impossibilitado de receber atendimento no estabelecimento prisional", sustenta o MP.

Júri acabou nesta quinta-feira (13)

A juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler aplicou a pena de 20 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado. Guaranho poderá recorrer da sentença. O julgamento ocorreu na Vara Privativa do Tribunal do Júri do Foro Central de Curitiba dois anos e meio após a morte de Arruda.

Continua após a publicidade

Na decisão, a juíza citou que Guaranho utilizou uma arma da União para cometer crime. Ela ressaltou a intolerância política que o ex-policial penal demonstrou com as ações.

Julgamento durou três dias. Nos dois primeiros dias foram ouvidas nove testemunhas, o réu e peritos. A primeira testemunha ouvida foi Pamela Silva, viúva do tesoureiro do PT Marcelo Arruda.

Pamela Silva disse que ela e o marido não conheciam Guaranho. Segundo a mulher, assim que o ex-policial penal chegou ao local da festa, ela achou que fosse algum convidado. "Quando eu vi a arma eu imediatamente me aproximei, pensei 'meu Deus, o que tá acontecendo aqui?'", afirmou durante o julgamento. A viúva também detalhou que Marcelo tinha boa relação com pessoas que não gostavam do PT. "Ele tinha 28 anos como guarda municipal e, dentro da corporação, era minoria. As pessoas até se referiam a ele como o PT, o petista, de brincadeira", disse em respostas à promotora de Justiça Ticiane Louise Santana Pereira.

Guaranho negou que tenha cometido um crime político. Ele disse que o partido não importaria se Marcelo não tivesse partido para cima dele com a arma de fogo em punho, fazendo com que ele precisasse atirar. "Eu mesmo namorei uma menina que era do Partido dos Trabalhadores", acrescentou, reforçando que o crime foi uma fatalidade e não houve motivação política.

Vítima foi morta quando comemorava 50 anos. No dia 9 de julho de 2022, Arruda celebrava o aniversário com amigos em Foz do Iguaçu em uma festa temática do PT —o guarda municipal era eleitor de Lula.

Continua após a publicidade

Guaranho invadiu a festa aos gritos de "Bolsonaro" e "mito", segundo relataram testemunhas. O homem ameaçou os presentes e saiu. Depois, ao reencontrar Arruda, atirou no aniversariante, que também estava armado e revidou — mas não sobreviveu.

Arruda era casado e tinha quatro filhos. Ele era diretor do Sindicato dos Servidores Municipais de Foz, tesoureiro do PT municipal e havia sido candidato a vice-prefeito. Era casado e tinha quatro filhos —entre eles uma menina de seis anos e um bebê de apenas um mês.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.