Vereador acusa escola de racismo em SC; prefeitura e pais negam

Um vereador de São João Batista (SC) disse nas redes sociais que crianças teriam sido separadas por cor da pele em uma escola infantil da cidade. A Prefeitura nega e alega que não há qualquer evidência de segregação racial na escola.

O que aconteceu

O vereador Teodoro Adão (MDB) denunciou uma suposta separação racial entre alunos durante visita à escola Núcleo Infantil Cebolinha. Ele afirma ter encontrado salas organizadas de forma segregada, com crianças brancas em uma turma e negras em outra. O caso gerou forte repercussão no município e nas redes sociais.

O parlamentar classificou a cena como "inadmissível" e disse que foi como "um tapa na cara". Em um vídeo que circula na internet, o vereador descreveu o que viu na escola. "Quando cheguei lá, vi todas as crianças branquinhas, de olho verde, de um lado, e os negrinhos do outro. Eu falo 'negrinhos' porque sou negro e não tenho vergonha da minha raça. Mas isso aí é um absurdo", declarou.

Ele afirmou que, caso a denúncia se confirmasse, o caso teria repercussão nacional. "Se eu tivesse ido lá com um advogado ou com a polícia, isso viraria matéria do Fantástico, da Rede Globo! Essas coisas não podem acontecer no nosso município. Estamos no século XXI! Não pode ter discriminação contra ninguém, todos devem ser respeitados", disse no vídeo.

Educadoras teriam dito que a divisão já estava feita antes do início das aulas. Segundo o vereador, uma professora afirmou que "quando chegou, já estava separado" e que "não poderia fazer nada". Outra docente teria percebido a situação, mas evitou questionar para "não criar desgaste".

Após a denúncia, pais teriam sido impedidos de acompanhar os filhos até a sala. Segundo Adão, famílias relataram que não podiam mais entrar com as crianças na escola e precisavam deixá-las no portão com um segurança. "Isso é o que mais me dói. Tem pai me ligando dizendo que agora o filho chora e não pode mais ter a companhia do responsável nos primeiros minutos", criticou.

Prefeitura nega

A Prefeitura negou qualquer ato de segregação e afirmou que a denúncia não tem fundamento. Em nota oficial, a administração municipal garantiu que "não há e nunca houve separação de alunos por cor da pele na escola" e que a distribuição das turmas ocorreu de forma aleatória.

O governo municipal disse que salas são separadas de acordo com turnos e níveis de ensino. Segundo a nota, a divisão das turmas se baseou nos cadastros, sem qualquer análise de raça. "A unidade possui apenas duas salas, organizadas de acordo com os turnos e níveis de ensino. Os alunos da Pré-Escola II já frequentavam o educandário no ano anterior, enquanto os da Pré-Escola I ingressaram agora", esclareceu.

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A Prefeitura apresentou dados sobre a composição das turmas. Em uma das salas, há 16 alunos, sendo 15 brancos e um negro. Na outra, 15 alunos, sendo dez brancos, dois negros, dois "morenos" e um sem autodeclaração. "Diante desses números, fica o questionamento: como poderia haver segregação racial?", diz a nota.

Pais não solicitaram mudanças na distribuição das turmas, segundo Prefeitura. Durante uma diligência interna realizada no dia 20 de fevereiro, a Secretaria de Educação questionou as famílias se sentiram seus direitos violados ou desejavam a troca de turmas, mas, segundo a nota, "as respostas foram negativas".

Pais negam discriminação

Pais manifestaram apoio à escola e negaram qualquer discriminação. Em um depoimento publicado no Instagram, João Silva afirmou que participou de reunião realizada na sexta-feira (21) e concluiu que a denúncia acabou sendo prejudicial para as crianças e professoras. "Todos os pais presentes concordaram por unanimidade que não seria necessário a troca de turma, pois não havia qualquer discriminação ali presente", declarou.

Ele reforçou que a denúncia trouxe medo e tensão à comunidade escolar. "As professoras ficaram completamente sem chão diante desse episódio. Elas têm famílias e estavam com medo do que algumas pessoas poderiam fazer. Essa acusação falsa só serviu para disseminar o ódio entre as pessoas", escreveu.

Mãe de uma menina que faz o pré-primário no período da manhã, Francieli Huff Pereira escreveu que esteve na instituição e teria comprovado "o óbvio". Ela começa o texto dizendo que as professoras nem conheciam os alunos, pois eles "são novos na escola".

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Não existe nenhum tipo de discriminação. Nós pudemos expor nossa opinião durante a reunião, e todos os presentes optaram por manter as turmas como estavam, já que não há segregação. Nos mostraram as matrículas e os critérios utilizados. Essa informação está disseminando ódio entre pessoas com uma coisa que nem verdade é. Tomando dimensões totalmente fora da realidade da escola. Nós pais sabemos da seriedade da escola e dos profissionais ali presentes. Francieli Huff Pereira

Em depoimento ao UOL, Francieli afirmou que a separação das turmas foi feita para equilibrar a quantidade de meninas e meninos em cada sala. Além disso, segundo ela, a divisão garante atendimento adequado às crianças com laudo que necessitam de um segundo professor. Ela negou qualquer critério racial na distribuição dos alunos e destacou que a declaração de cor é feita pelos próprios pais no momento da matrícula.

Francieli explicou que, inicialmente, havia apenas uma turma de Pré-Escola I, mas com a chegada de novas matrículas, foi necessário dividir os alunos em duas turmas. Segundo ela, já tendo trabalhado em outras unidades de ensino infantil, nunca havia sequer cogitado observar divisões por cor da pele.

Durante a reunião realizada com os pais, ela afirmou que todos os presentes concordaram, por unanimidade, em manter as turmas como estão. "Não há qualquer indício de segregação, e o período de adaptação das crianças de quatro anos deve ser respeitado."

Ela também criticou a forma como o caso foi exposto e questionou a postura do vereador. "Acredito que, se o vereador realmente quisesse investigar, abriria uma sindicância e apuraria a situação sem precisar expor as crianças a isso".

MP foi acionado

O Ministério Público foi acionado para investigar o caso. A Prefeitura afirmou que a prática de racismo é crime inafiançável e que qualquer denúncia deve ser apurada pelos órgãos competentes. O município garantiu estar à disposição das autoridades para esclarecimentos.

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O governo municipal alertou sobre possíveis penalizações em caso de denúncias falsas. "A imputação de crime a pessoa sabidamente inocente configura crime, conforme o Código Penal. Por isso, é necessário cautela ao divulgar informações sobre o tema", concluiu a Prefeitura, na nota.

UOL tenta contato com vereador. O vereador Teodoro Adão foi procurado pelo UOL para prestar mais informações, mas até o momento não havia respondido aos questionamentos.

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