Estrutura impenetrável: como a máfia 'Ndrangheta age com o PCC no Brasil

Quatro mortes em retaliação ao roubo de 770 kg de cocaína do PCC (Primeiro Comando da Capital) e da 'Ndrangheta em 2020, no Paraná, revelam o modus operandi brutal da máfia italiana.

O que aconteceu

Uma carga milionária de cocaína foi desviada no Porto de Paranaguá, no primeiro semestre de 2020. O carregamento, dividido em dois lotes de 270 kg e 500 kg, pertencia ao PCC e à 'Ndrangheta. O prejuízo estimado foi de US$ 4 milhões, e a resposta veio com execuções.

Quatro suspeitos de envolvimento no roubo foram mortos meses depois. A Polícia Federal rastreou mensagens em que líderes do esquema prometeram vingança. Edmilson de Menezes, o "Grilo", e Willian Barile Agati, o "Senna", assumiram as execuções em áudios interceptados.

As mortes seguiram o padrão de punição da máfia calabresa. A 'Ndrangheta age com violência calculada, eliminando inimigos e mantendo a reputação de impiedosa. No Brasil, encontrou no PCC um aliado que replica sua lógica de domínio pelo terror.

A 'Ndrangheta tem uma estrutura descentralizada e altamente eficiente. Diferente da Cosa Nostra, a organização funciona em células familiares independentes, dificultando investigações e garantindo continuidade mesmo com prisões. Conheça alguns detalhes:

  • Punição e controle pela violência: a organização mantém sua autoridade por meio da eliminação rápida de traidores. O roubo de cocaína no Paraná seguiu esse padrão, com execuções diretas ordenadas pelos chefes da facção.
  • Estrutura descentralizada e impenetrável: diferente da Cosa Nostra, que opera com uma hierarquia rígida, a 'Ndrangheta trabalha em células familiares autônomas. Essa fragmentação dificulta investigações e impede que a organização seja derrubada por completo. O modelo permite que, mesmo com prisões de líderes, a rede continue operando globalmente.
  • Expansão global e sofisticação logística: a organização movimenta bilhões com o tráfico de cocaína, utilizando os portos brasileiros como pontos estratégicos de escoamento.
  • Estratégia de discrição e infiltração: diferente de outras organizações, a 'Ndrangheta evita chamar atenção pública e prefere operar no anonimato. Seus membros infiltram-se em negócios legítimos e em comunidades locais, tornando difícil sua identificação.

A parceria com o PCC

O PCC fornece a cocaína, e a máfia calabresa comanda a distribuição na Europa. A facção paulista tem o controle sobre os portos brasileiros, enquanto a 'Ndrangheta domina as rotas europeias.

A resposta ao roubo foi rápida e sistemática. Marcos Antônio Carvalho foi o primeiro a morrer. Dois meses depois, Jeferson Barcelos de Oliveira foi assassinado. Cristian Roberto da Silva Bernardo, o "Batata", seguiu o mesmo destino em julho de 2020.

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O Porto de Santos continua sendo o maior ponto de escoamento para a Europa. Investigadores apontam que Salvador, Itajaí e Rio de Janeiro também entraram na rota da droga, ampliando o alcance da parceria criminosa.

Os criminosos contam com corrupção e sofisticados esquemas de ocultação. Contêineres específicos são usados para o transporte, e agentes portuários facilitam a saída da droga. A operação é refinada para evitar apreensões.

As autoridades apertam o cerco contra o crime organizado. Prisões recentes de mafiosos italianos no Brasil indicam que a Interpol e a Polícia Federal monitoram de perto essa conexão. O cerco se fecha, mas a estrutura criminosa se adapta.

O braço da 'Ndrangheta se estende por mais de 40 países. Estima-se que a máfia movimente 50 bilhões de euros por ano, com foco no tráfico de cocaína. Seu alcance global faz dela a organização criminosa mais poderosa da Itália.

No Brasil, a máfia encontrou solo fértil para expandir seus negócios. A aliança com o PCC fortaleceu ambas as organizações, criando um fluxo constante de drogas e dinheiro entre os dois continentes.

*Com matérias publicadas em 05/12/2018, 05/05/2023, 20/08/2024 e 21/02/2025.

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