Justiça decide que motoqueiro e estudante vítimas de PM devem ser soltos

O motociclista Thiago Marques Gonçalves, 24, motorista de aplicativo no Rio de Janeiro, e o estudante Igor Melo de Carvalho, 31, detidos na madrugada de segunda-feira (24) sob acusação de uma cabeleireira e de um policial militar da reserva de terem praticado o roubo de um celular, serão soltos após audiência de custódia realizada na tarde desta terça-feira (25). As investigações, porém, continuarão.

A promotora Fernanda Bravo sugeriu o relaxamento das prisões afirmando que, inicialmente, existia indícios de autoria de crime, mas, depois, a autoria ficou enfraquecida. A juíza Rachel Assad da Cunha afirmou que "a vítima [cabeleireira] teria reconhecido os autores pela cor de camisa que utilizavam, mas não foram apreendidos com os custodiados nem a suposta arma do crime nem o telefone celular subtraído".

Todas as informações indicam que tanto Carlos Alberto [policial da reserva] quanto Josilene teriam confundido os ora custodiados com os supostos autores do crime de roubo, de forma que os indícios de autoria restam totalmente esvaziados, impondo a imediata soltura dos custodiados.
Juíza Rachel Assad da Cunha

Decisão da juíza Rachel Assad da Cunha em audiência de custódia
Decisão da juíza Rachel Assad da Cunha em audiência de custódia Imagem: Reprodução

Provas de inocência

Thiago e Igor têm provas de que não eram os assaltantes do celular da cabeleireira. Thiago estava trabalhando desde as 22h como motorista de aplicativo, já Igor estava de garçom em uma casa de samba na Penha até 1h. Imagens do circuito interno do estabelecimento mostram ele saindo do local duas horas depois do assalto.

Igor estava com uma camiseta amarela que era, justamente, o uniforme da empresa onde trabalha aos finais de semana para complementar renda. Thiago tinha carteira registrada como auxiliar de açougueiro até o fim do ano passado. Desde então, passou a alugar uma moto para trabalhar em média 17 horas por dia como motorista de aplicativo.

Câmera de casa de samba mostra Igor saindo do trabalho na madrugada
Câmera de casa de samba mostra Igor saindo do trabalho na madrugada Imagem: Reprodução

Thiago e Igor receberam voz de prisão ao serem levados para hospital. O motorista da moto foi conduzido para a Cadeia Pública de Benfica, enquanto o passageiro está acautelado no hospital após ser submetido a uma cirurgia.

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Passageiro foi atingido nas costas e perdeu um rim por conta de tiro. Ele está internado no hospital estadual Getúlio Vargas, também na zona norte. O quadro de saúde dele era considerado, até a noite de segunda-feira (24), estável. Já o motorista por aplicativo não foi atingido pelo disparo, mas se feriu com a queda da moto.

O que aconteceu

A cabeleireira Josilene da Silva Souza, 42, teve o celular roubado na Penha, zona norte do Rio, às 23h de domingo (23). Duas horas depois, apontou para seu marido, o policial militar da reserva Carlos Alberto de Jesus, 61, dois homens com características semelhantes no mesmo bairro.

Depois de 1h de segunda-feira (24), o PM emparelhou seu carro, um Golf prata, à motocicleta pilotada por Thiago, que levava Igor para casa depois de ele ter trabalhado na noite de domingo em uma casa de samba no mesmo bairro dos fatos.

De acordo com o boletim de ocorrência, Carlos havia deixado a mulher na rua Irani, na Penha, por volta das 23h e saiu para comprar uma pizza. Quando voltou, ouviu da mulher que teve uma pistola apontada contra o rosto e que os assaltantes tinham levado seu celular.

A mulher afirmou para o marido -e depois confirmou na delegacia- que os assaltantes estavam em uma moto azul. Que o motorista estava com uma camiseta preta, e que o comparsa, que foi quem apontou a arma, estava com uma roupa amarela.

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O reconhecimento foi feito por fotografias. Nove fotos, de nove homens com características físicas semelhantes, foram colocadas em um papel para que Josilene reconhecesse quem roubou seu celular. Ela reconheceu Thiago como o piloto e Igor como quem puxou seu telefone.

Josilene e Carlos afirmaram à delegada Lorena Gonçalves Lima Rocha, da 22ª DP (Delegacia de Polícia), na Penha, que o PM só atirou porque viu que Igor tentou sacar uma arma. Nem a suposta arma nem o celular roubado de Josilene foram localizados.

O que diz e o que investiga a polícia

A Polícia Militar afirmou que na delegacia um policial militar da reserva se apresentou como autor dos disparos. "Sua esposa teria reconhecido o condutor da moto como um dos responsáveis pelo roubo de seu aparelho celular. Um dos homens foi preso, enquanto o ferido permaneceu sob custódia no referido hospital", afirmou a PM em nota.

Tentativa de homicídio investigada. A PM informou no início da tarde desta terça-feira que "colabora integralmente com o trabalho de investigação da Polícia Civil" e que "o caso foi encaminhado à Corregedoria da Geral da Polícia Militar".

Caso foi apresentado da 21ª DP (Delegacia de Polícia), em Bonsucesso. A corporação afirmou que o policial militar reformado e a esposa foram ouvidos. "O condutor da motocicleta se recusou a prestar depoimento, optando por só se manifestar em juízo", disse.

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Já a investigação está em andamento na 22ª DP, da Penha. Segundo a Polícia Civil, o passageiro foi ouvido no hospital. "Os agentes buscam imagens de câmeras de segurança e outros elementos que comprovem a real dinâmica dos fatos. Todas as evidências serão analisadas, a fim de apurar a conduta e a responsabilidade de todos os envolvidos, bem como os crimes que possam ter sido praticados", observou a Polícia Civil em nota.

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