Motoqueiro que levava estudante baleado por PM trabalha 17h por dia

O motorista de moto por aplicativo Thiago Marques Gonçalves, 24, que levava para casa o estudante Igor Melo de Carvalho, 31, na madrugada de segunda-feira (24), quando foram alvos de tiros disparados por um PM da reserva, na Penha, zona norte do Rio, trabalha, em média, 17 horas por dia.

O que aconteceu

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Thiago mora em Magé, na Baixada Fluminense, e tem dois filhos pequenos. Segundo a mãe do rapaz, ele trabalhava com carteira assinada até o fim do ano passado, quando foi demitido. Desde então, decidiu alugar uma moto para conseguir se sustentar e sustentar a família.

O piloto de moto costuma começar a trabalhar às 4h e terminar de trabalhar às 21h. "Ele costuma trabalhar de dia e de noite, dependendo de quanto precisa fazer na semana pra conseguir pagar as contas. Aos finais de semana, ele costuma trabalhar mais do que isso", afirma a mãe.

Como foi o crime

A moto pilotada por Thiago foi alvo de tiros disparados por um policial militar que é marido de uma mulher que teve o celular roubado na região. Tudo aconteceu por volta de 1h da segunda-feira (24). A mulher disse ao marido que reconheceu Thiago como o assaltante e, então, o marido perseguiu a moto de carro.

Depois de os tiros terem sido disparados pelo policial militar, Igor foi atingido nas costas. Ele foi socorrido por seguranças do local onde trabalha como garçom aos finais de semana, sendo levado ao hospital Getúlio Vargas, onde passou por cirurgia e tem o estado de saúde tido como estável.

Já Thiago foi detido no local. "O Thiago foi levado pra delegacia. Não sei onde está a moto, os pertences dele, não sei nada. Ele estava trabalhando de madrugada para pagar a moto, que é alugada para ele poder fazer o serviço", diz a mãe do rapaz, a dona de casa Jaqueline Marques de Farias, 36.

Na noite de domingo, Thiago foi jantar com o pai, nas proximidades do Piscinão de Ramos, na zona norte. "Quando deu umas 22h, ele saiu pra trabalhar. O pai dele falou pra ele ficar em casa naquela noite, mas meu filho disse que precisava pagar a dívida do aluguel da moto nesta semana", relata a mãe.

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Thiago foi levado para a Cadeia de Custódia de Benfica, onde permaneceu durante toda esta segunda-feira. A audiência de custódia dele está marcada para esta terça-feira (25), mas sem horário definido. A família do rapaz disse que o PM afirmou na delegacia que Thiago disparou contra o policial da reserva.

O que diz e o que investiga a polícia

Nota da PM. A Polícia Militar informou à reportagem que PMs do 16º Batalhão, de Olaria, "constataram que dois suspeitos, que trafegavam em uma motocicleta, foram alvo de disparos de arma de fogo provenientes de um veículo desconhecido".

A corporação afirmou que na delegacia um policial militar da reserva se apresentou como autor dos disparos. A identidade dele não foi revelada.

"Sua esposa teria reconhecido o condutor da moto como um dos responsáveis pelo roubo de seu aparelho celular. Um dos homens foi preso, enquanto o ferido permaneceu sob custódia no referido hospital", afirmou a PM em nota.

A Polícia Civil não se manifestou até esta publicação. A reportagem procurou, também, a Polícia Civil, questionando se os policiais da 22ª DP (Delegacia de Polícia), na Penha, onde o caso foi registrado, vão investigar apenas o roubo do celular ou vão incluir na apuração a tentativa de homicídio praticada pelo policial da reserva.

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Estudante baleado nas costas

O passageiro de Thiago era o estudante Igor Melo de Carvalho. Aluno do curso de publicidade e propaganda na Universidade Celso Lisboa, é casado, tem um filho de 2 anos e mora em Turiaçu, na zona norte. Trabalha durante a semana na própria faculdade e, para complementar a renda, é garçom em uma casa de samba na Penha, mesma região, aos finais de semana.

Igor Melo de Carvalho, jovem baleado quando voltava para casa por PM aposentado
Igor Melo de Carvalho, jovem baleado quando voltava para casa por PM aposentado Imagem: Arquivo pessoal

O rapaz está internado no hospital estadual Getúlio Vargas, onde foi submetido à cirurgia. As imagens de câmeras de segurança do circuito interno da casa de samba onde Igor trabalha de sábado e domingo mostram o rapaz esperando o mototáxi na saída do estabelecimento à 1h05. Ele estava uniformizado com a roupa de garçom do local. Foi baleado nas costas com a mesma roupa.

Quando Thiago e Igor passagem pelo viaduto da Penha, o estudante percebeu um carro dirigindo em alta velocidade atrás da moto. Logo na sequência, o policial da reserva, que estava dentro do carro, começou a disparar. Depois de atingido, Igor se rastejou para fora da pista até a entrada de uma casa. De lá, ligou para o dono da casa de samba que trabalha pedindo socorro.

O estudante enviou sua localização e o empresário acionou os membros da equipe de segurança do estabelecimento para irem até o local. Assim que chegaram, socorreram Igor de imediato até o hospital. O rapaz contou no caminho que acreditava ter sido vítima de uma tentativa de homicídio ou de latrocínio (roubo seguido de morte).

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A vítima do roubo do celular afirmou na delegacia que Thiago seria o autor do roubo do celular. "Minha preocupação é incriminarem meu filho, que tanto trabalha, que tanto luta, pra dizerem que ele é ladrão", diz a mãe.

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