Mulher foi roubada 2h antes de incriminar jovens; celular e arma somem

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A cabeleireira Josilene da Silva Souza, 42, teve o celular roubado na Penha, zona norte do Rio, às 23h de domingo (23). Duas horas depois, apontou para seu marido, o policial militar da reserva Carlos Alberto de Jesus, 61, dois homens com características semelhantes no mesmo bairro.
O PM emparelhou seu carro, um Golf prata, à motocicleta pilotada pelo motorista de aplicativo Thiago Marques Gonçalves, 24, que levava o estudante Igor Melo de Carvalho, 31, do trabalho para casa e atirou duas vezes.
Josilene e Carlos afirmaram à delegada Lorena Gonçalves Lima Rocha, da 22ª DP (Delegacia de Polícia), na Penha, que o PM só atirou porque viu que Igor tentou sacar uma arma. Nem a suposta arma nem o celular roubado de Josilene foram localizados.
O que aconteceu
Mulher disse ao marido que assaltantes apontaram uma arma para sua cabeça e levaram celular. De acordo com o Boletim de Ocorrência, Carlos havia deixado a mulher na rua Irani, na Penha, por volta das 23h e saiu para comprar uma pizza e, quando voltou, ficou sabendo do assalto.
Ela afirmou que os assaltantes estavam em uma moto azul. Além disso, observou que o motorista estava com uma camiseta preta, e que o comparsa, que foi quem apontou a arma, estava com uma roupa amarela.
Josilene e Carlos afirmaram que, antes de o policial militar atirar duas vezes, ele deu voz de prisão e pediu para Thiago parar a moto. Essa versão não é a mesma apresentada por Thiago e por Igor.
[Carlos] deu voz de prisão, mas ao perceber que o homem de amarelo em cima da moto [Igor] tentou sacar a arma, [Carlos] efetuou dois disparos de arma de fogo.
Josilene em depoimento à Polícia Civil
O reconhecimento foi feito por fotografias. Nove fotos, de nove homens com características físicas semelhantes, foram colocadas em um papel para que Josilene reconhecesse quem roubou seu celular. Ela reconheceu Thiago como o piloto e Igor como quem puxou seu telefone.
Arma usada contra jovens é de PM. O policial militar Carlos usou uma arma própria, da marca Taurus, calibre 38. A Polícia Civil não informou se a arma dele foi apreendida.
Provas de inocência

Thiago e Igor têm provas de que não eram os assaltantes do celular de Josilene. Thiago estava trabalhando desde as 22h como motorista de aplicativo, já Igor estava de garçom em uma casa de samba na Penha até 1h. Imagens do circuito interno do estabelecimento mostram ele saindo do local duas horas depois do assalto.
Igor estava com uma camiseta amarela que era, justamente, o uniforme da empresa onde trabalha aos finais de semana para complementar renda. Thiago tinha carteira registrada como auxiliar de açougueiro até o fim do ano passado. Desde então, passou a alugar uma moto para trabalhar em média 17 horas por dia como motorista de aplicativo.
Thiago e Igor receberam voz de prisão ao serem levados para hospital. O motorista da moto foi conduzido para a Cadeia Pública de Benfica, enquanto o passageiro está acautelado no hospital após ser submetido a uma cirurgia. A audiência de custódia está prevista para o início da tarde desta terça-feira (25).
Passageiro foi atingido nas costas e perdeu um rim por conta de tiro. Ele está internado no hospital estadual Getúlio Vargas, também na zona norte. O quadro de saúde dele era considerado, até a noite de segunda-feira (24), estável. Já o motorista por aplicativo não foi atingido pelo disparo, mas se feriu com a queda da moto (leia mais sobre ele aqui).
O que diz e o que investiga a polícia
A Polícia Militar afirmou que na delegacia um policial militar da reserva se apresentou como autor dos disparos. "Sua esposa teria reconhecido o condutor da moto como um dos responsáveis pelo roubo de seu aparelho celular. Um dos homens foi preso, enquanto o ferido permaneceu sob custódia no referido hospital", afirmou a PM em nota.
Tentativa de homicídio investigada. A PM informou no início da tarde desta terça-feira que "colabora integralmente com o trabalho de investigação da Polícia Civil" e que "o caso foi encaminhado à Corregedoria da Geral da Polícia Militar".
Caso foi apresentado da 21ª DP (Delegacia de Polícia), em Bonsucesso. A corporação afirmou que o policial militar reformado e a esposa foram ouvidos. "O condutor da motocicleta se recusou a prestar depoimento, optando por só se manifestar em juízo", disse.
Já a investigação está em andamento na 22ª DP, da Penha. Segundo a Polícia Civil, o passageiro foi ouvido no hospital. "Os agentes buscam imagens de câmeras de segurança e outros elementos que comprovem a real dinâmica dos fatos. Todas as evidências serão analisadas, a fim de apurar a conduta e a responsabilidade de todos os envolvidos, bem como os crimes que possam ter sido praticados", observou a Polícia Civil em nota ao UOL.
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