PMs rondam ato a jovem baleado por policial aposentado no Rio
Ler resumo da notícia
Familiares do estudante Igor Melo de Carvalho, baleado por um PM reformado depois de pegar uma moto por aplicativo no Rio, se depararam com um "cerco" de policiais militares durante um protesto silencioso na manhã desta quarta-feira (26), em frente ao Centro de Trauma do hospital Getúlio Vargas.
No local, três viaturas estavam estacionadas a poucos metros do ato contra a violência policial da qual o jovem foi vítima na madrugada de segunda (24). Um quarto carro da polícia estava nas proximidades. E um quinto rondava a rua repetidamente.
O que aconteceu
Familiares de Igor fizeram um protesto silencioso na manhã desta quarta-feira em frente ao hospital onde o estudante de publicidade e propaganda está internado. Ele foi baleado nas costas pelo policial militar da reserva Carlos Alberto de Jesus, 61, quando voltava do trabalho na Penha, zona norte. O motorista da motocicleta, Thiago Marques Gonçalves, também se feriu, mas por conta da queda do veículo.
"Nos outros dias, os policiais não estavam aqui", conta tio do jovem. Roberto Carlos Pereira de Carvalho, 58, explica que ontem a família e os advogados estavam procurando os dois policiais de plantão que estavam custodiando o Igor, mas não os encontraram. "Agora os policiais vieram, não pra proteger ninguém, mas pra tomar conta da nossa reivindicação", afirma o tio.
Voz de prisão seguida de liberdade. Desde quando chegou ao hospital, Igor recebeu voz de prisão sob a suspeita de ter praticado um roubo de celular contra a mulher do policial, a cabeleireira Josilene da Silva Souza, 42. O motorista da motocicleta foi preso e ficou na Cadeia Pública de Benfica até a tarde de terça (25), quando a Justiça decidiu que deveriam ser soltos por não haver provas contra eles.
"Cheguei aqui sem saber se ele estava vivo ou morto". A esposa do estudante, Marina Moura, 31, disse que desde o início desta semana a vida dela virou de cabeça para baixo. "A gente quer o Carlos Alberto, que foi autor dos disparos, atrás da cadeia, que ele seja responsabilizado por tentativa de homicídio e por racismo", afirmou. Ela pede ainda que a esposa do PM seja responsabilizada. "Ninguém tem o direito de sair acusando ninguém [inocente]", complementa.
"Quem fez isso não pode ficar impune". A administradora Michele Melo de Carvalho, 41, irmã de Igor, também quer justiça pelo que aconteceu. "Podiam ter acabado com a minha vida, com a vida da minha família. Meu irmão é trabalhador, não é bandido", disse.
"Ele agora vai viver mutilado". Roberto de Carvalho, tio do Igor, afirmou que, agora, a família está muito apreensiva com relação à saúde dele. "Arrancaram o rim do meu sobrinho, ele não fez uma cirurgia de retirada do rim porque precisou devido uma doença", disse.
Ele sofreu um atentado. Tentaram matar ele. O assassino está vivo e está por aí, e isso nos torna vulnerável.
Roberto de Carvalho, tio do Igor
Relembre o caso

A cabeleireira Josilene teve o celular roubado na Penha, zona norte do Rio, às 23h de domingo. De acordo com o boletim de ocorrência, o policial militar da reserva Carlos Alberto de Jesus havia deixado a mulher na rua Irani, na Penha, por volta das 23h e saiu para comprar uma pizza. Quando voltou, ouviu da mulher que ela teve uma pistola apontada contra o rosto e que os assaltantes tinham levado seu celular.
Mulher afirmou que os assaltantes estavam em uma moto azul. Além disso, observou que o motorista estava com uma camiseta preta, e que o comparsa, que foi quem apontou a arma, estava com uma roupa amarela. Duas horas depois, Josilene apontou para o marido dois homens com características semelhantes no mesmo bairro.
PM emparelhou seu carro, um Golf prata, à motocicleta pilotada por Thiago. Igor estava na garupa; ele voltava para casa após ter trabalhado na noite de domingo em uma casa de samba na região.
Josilene e Carlos afirmaram que o PM só atirou porque viu que Igor tentou sacar uma arma. Nem a suposta arma nem o celular roubado de Josilene foram localizados. Os depoimentos foram colhidos pela delegada Lorena Gonçalves Lima Rocha, da 22ª DP (Delegacia de Polícia), na Penha,
O reconhecimento foi feito por fotografias. Nove fotos, de nove homens com características físicas semelhantes, foram colocadas em um papel para que Josilene reconhecesse quem roubou seu celular. Ela reconheceu Thiago como o piloto e Igor como quem puxou seu telefone.
Provas e investigação
Thiago e Igor têm provas de que não eram os assaltantes do celular de Josilene. Thiago trabalhava desde as 22h como motorista de aplicativo. Igor, como garçom em uma casa de samba na Penha até 1h. Imagens do circuito interno do estabelecimento mostram ele saindo do local duas horas depois do assalto.
Igor estava com uma camiseta amarela que era, justamente, o uniforme da empresa —onde trabalha aos finais de semana para complementar renda. Thiago tinha carteira registrada como auxiliar de açougueiro até o fim do ano passado. Desde então, passou a alugar uma moto para trabalhar em média 17 horas por dia como motorista de aplicativo.
A Polícia Militar afirmou que, na delegacia, um PM da reserva se apresentou como autor dos disparos. "Sua esposa teria reconhecido o condutor da moto como um dos responsáveis pelo roubo de seu aparelho celular. Um dos homens foi preso, enquanto o ferido permaneceu sob custódia no referido hospital", afirmou a PM em nota.
PM da reserva prestou novo depoimento. Ao ser ouvido pela segunda vez na 22ª vez na manhã desta quarta-feira, o policial militar da reserva alterou o primeiro depoimento, dizendo que viu de Thiago e Igor fazendo "movimentos suspeitos" e afirmou que se confundiu nos horários, com o roubo tento acontecido mais tarde do que 23h.
Tentativa de homicídio investigada. A PM informou no início da tarde desta terça-feira que "colabora integralmente com o trabalho de investigação da Polícia Civil" e que "o caso foi encaminhado à Corregedoria da Geral da Polícia Militar".
A investigação está em andamento na 22ª DP, da Penha. Segundo a Polícia Civil, Igor foi ouvido no hospital. "Os agentes buscam imagens de câmeras de segurança e outros elementos que comprovem a real dinâmica dos fatos. Todas as evidências serão analisadas, a fim de apurar a conduta e a responsabilidade de todos os envolvidos, bem como os crimes que possam ter sido praticados", observou a Polícia Civil em nota.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.