Caso Vitória: Ex-namorado se entrega à polícia em Cajamar

O ex-namorado de Vitória Regina de Sousa, 17, encontrada morta com sinais de tortura em uma área de mata em Cajamar (SP), se entregou na tarde de hoje na delegacia do município.

O que aconteceu

Gustavo Vinícius Moraes optou por se entregar. Segundo o delegado da seccional da região, Aldo Galiano, ele afirmou às autoridades que preferia ficar preso ''por medo de retaliações vindas de populares da cidade''. Mais cedo, o delegado havia identificado o detido com outro nome, mas corrigiu a informação em seguida.

Suspeito passará por uma nova rodada de questionamentos. O UOL tenta localizar a defesa dele.

Delegado viu inconsistências em depoimento de ex. "Temos 14 pessoas ouvidas, os depoimentos foram confrontados e temos esse rapaz que não estava correspondendo na cronologia dos fatos", afirmou o delegado.

Há três linhas de investigação do caso. A informação foi dada pelo delegado, que não especificou quais são elas. Ele também disse que a motivação do crime ainda é apurada e existem pelo menos seis suspeitos até o momento.

Ex-namorado ainda não é investigado como suspeito de matar Vitória. "Talvez ele não tenha executado, mas sabia de alguma situação de perigo que ela estava vivendo. Estamos levantando os dados para saber com quem ela falou, fazendo o cruzamento das ligações".

Há uma grande inconsistência na oitiva dele quando confrontado com os fatos das diligências. Os horários que ele diz não batem com o depoimento das outras pessoas. Ele tem que esclarecer isso.
Delegado Aldo Galiano

Vitória tentou falar com ex antes de desaparecer. Segundo o delegado Galiano, ela queria que ele fosse buscá-la no ponto de ônibus no bairro onde morava, mas ele não atendeu o telefone. "Ela pediu socorro, o que indica que estava com medo". Normalmente, Vitória fazia o trajeto com o pai, mas naquele dia o carro da família estava em uma oficina mecânica e ela teria que fazer o percurso a pé. "Foram terríveis coincidências ou não".

Ex afirmou à polícia que estava em um encontro e, por isso, não viu as mensagens de Vitória. "Ele falou que estava em um encontro com uma pessoa, uma menor de idade, que foi ouvida".

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Delegado não descartou outros pedidos de prisão. Testemunhas relataram à polícia terem visto um carro com quatro homens seguindo a jovem, depois que ela desceu do ônibus e caminhava em direção à sua casa.

Creio que, pela crueldade, uma pessoa [sozinha] não conseguiria fazer isso. Quem cometeu esse crime conhece a região porque o local [onde o corpo foi achado], de fato, somente quem sabe chegar é que pode ir até lá. É o único lugar que tem uma passagem desmatada e, no final dela, foi encontrado o corpo.
Aldo Galiano

Polícia suspeita de crime de vingança com envolvimento do PCC. A polícia acredita que Vitória foi mantida em cativeiro para ser torturada, afirmou o delegado Galiano. O corpo dela foi encontrado degolado e com a cabeça raspada. As mãos dela estavam enrolados em um saco plástico para evitar que as unhas dela ficassem com algum resquício de DNA dos assassinos. "Há um grande indício que pode ter uma organização criminosa envolvida nisso. Há um foco do PCC na região, inclusive na favela onde ela se preocupou com as duas pessoas no ônibus".

Vingança

Vitória foi assassinada por vingança, afirmou hoje o delegado responsável pela investigação. "Pela crueldade no local, com certeza foi vingança. O que a gente quer estabelecer é se é uma vingança com participação de facção criminosa", disse Aldo Galiano.

Delegado também afirmou que os seis suspeitos identificados até o momento se conhecem. "Um dos seis tem antecedentes criminais. Estamos tentando linkar se havia um relacionamento entre eles. Se tiver, o crime partiu dessa célula de seis pessoas. [...] Sabemos que eles se conhecem, mas precisamos de prova material", explicou.

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Segundo Aldo, são investigados o namorado, um ex-namorado, dois homens que estavam no ônibus que ela subiu antes de desaparecer e outros dois que teriam "mexido com ela" em um carro. Esse carro e outro veículo, do suspeito preso que se entregou hoje, foram apreendidos e periciados.

A Polícia também investiga se o PCC está envolvido com o crime. "Entre as gírias do PCC, existem 'talarico' e 'talarica', mulher que traiu alguém do PCC, ou homem que traiu alguém do PCC. O sinal é a raspagem do cabelo, pra deixar um recado, e ela estava com o cabelo raspado", afirmou o delegado. Aldo também disse que, há quatro meses, um integrante do PCC foi preso na região onde o corpo foi encontrado.

Relembre o caso

Filmagem de câmera de segurança mostra jovem caminhando até ponto de ônibus em Cajamar (SP)
Filmagem de câmera de segurança mostra jovem caminhando até ponto de ônibus em Cajamar (SP) Imagem: Reprodução/RecordTV

Imagens mostram quando Vitória sai do trabalho e caminha em direção a um ponto de ônibus na noite de quarta (26). Em mensagens de WhatsApp trocadas com uma amiga, ela conta que há dois rapazes no local e diz que está "com medo". A amiga recomenda que faça fotos deles, mas ela manifesta receio de ser vista tirando a foto.

Em seguida, ela pegou o ônibus e informa que um deles também subiu no coletivo. A amiga pergunta se ele a está seguindo e ela responde: "Espero que não". Logo depois ela informa que desembarcou e ele continuou no ônibus, manifestando seu alívio por isso. Testemunhas relataram à polícia terem visto um carro com quatro homens seguindo a jovem, depois que ela desceu do ônibus e caminhava em direção à sua casa.

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A adolescente foi vista pela última vez no bairro Ponunduva, onde mora a família. Ela vestia uma camiseta cinza, calça legging preta, tênis branco e carregava uma sacola pink.

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 —Central de Atendimento à Mulher— e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.