Como será construído túnel que ligará Santos ao Guarujá por debaixo d'água?
O Brasil terá seu primeiro túnel subaquático, com 870 metros, instalado embaixo do mar para ligar as cidades de Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo. Aguardada há quase cem anos por moradores da Baixada Santista, a obra, que ainda não tem data para ser inaugurada, promete reduzir o tempo da travessia entre os dois municípios para cerca de dois minutos. Mas como é possível fazer uma obra dessa magnitude por baixo d'água?
Entenda as etapas da construção
Preparação do solo. A primeira etapa é a preparação do fundo do canal onde o túnel será instalado. Uma enorme vala é aberta no terreno submerso para abrigar os módulos que formarão o túnel. A vala também receberá placas de concreto para que consiga suportar os chamados elementos de túnel —blocos construídos em terra, que, são montados sobre a vala e formam o túnel.
Construção. Os elementos de túnel são gigantescos blocos de concreto construídos em uma espécie de canteiro de obras perto do local do túnel. No caso específico desta obra, há seis elementos de túnel que, após construídos em terra firme, serão encaixados embaixo d'água.
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Inundação. Quando as peças ficam prontas, elas passam por testes de vedação e impermeabilidade. O teste é feito uma espécie de piscina provisória, com a doca seca sendo inundada.
Transporte. Com os elementos de concreto prontos e sem problemas de vedação, é o momento de serem transportados até o mar. Nessa etapa, a água da piscina provisória é fundamento para o transporte. Isso porque os elementos flutuam para, desta forma, serem transportados por rebocadores para o local onde o túnel vai ficar.
Posicionamento. Os elementos são fixados em pontes flutuantes e posicionados por sistemas eletrônicos no ponto exato onde devem ser submersos.
Acoplagem. A água presente nas piscinas provisórias do interior dos módulos é bombeada, fazendo afundar lentamente os elementos do túnel. Esse processo é monitorado por sensores. Por meio de guinchos hidráulicos, os elementos são aproximados, até o contato entre eles. A união final dos módulos é feita pela diferença de pressão atmosférica no interior do elemento já posicionado e a pressão que a água exerce no novo elemento.
Nivelamento e proteção. Em uma das extremidades do elemento, são ancorados macacos hidráulicos, que movimentam pinos de aço para nivelar o módulo. Os pinos são soldados e os macacos hidráulicos, retirados. Em seguida, é injetada areia na base, formando uma "cama" para assentar o elemento de túnel. Por fim, uma camada de pedras é utilizada para recobrir e proteger o túnel contra impactos de embarcações e o enganchamento de âncoras soltas.
Os estudos foram realizados pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), por meio da Companhia Paulista de Parcerias. De acordo com o governo paulista, o projeto do empreendimento foi validado por duas consultorias internacionais especializadas em projetos de alta complexidade de engenharia e já possui licença ambiental prévia.
Engenheiro diz que método é seguro
Professor de engenharia afirma que método escolhido é seguro. Pedro Henrique de Lyra, professor e coordenador do curso de engenharia civil do Instituto Mauá de Tecnologia, explica que a metodologia escolhida para a construção do túnel submerso é segura e já foi aplicada em outros países, como Dinamarca, Coreia do Sul e Suécia.
"Este será o primeiro túnel desse tipo no Brasil. É um método relativamente novo se comparado com outros portanto não é tão comum. O túnel mais comum é feito por escavação", diz o engenheiro
Pesquisador ressalta que tecnologia vai precisar ser importada. De acordo com o professor do Instituto Mauá, a realização da obra permitirá a transferência dessa tecnologia, possibilitando seu uso frequente no futuro. "Para um projeto dessa magnitude é essencial a escolha de uma empresa com experiência na construção desse tipo de túnel".
Lyra cita que entre as opções, a ideia do túnel submerso parece a mais adequada. "O túnel escavado exigiria uma escavação muito profunda abaixo do leito, resultando em rampas íngremes e um túnel mais longo. Já a ponte precisaria de um gabarito elevado para permitir a passagem dos navios", afirma.
Túnel é aguardado há quase cem anos
Não há data oficial para inauguração do túnel. As cidades são separadas pelo canal do estuário, a uma distância de 400 metros, o que traz desafios à mobilidade urbana da população. A distância é percorrida em aproximadamente sete minutos, sendo que a espera para a travessia pode variar de 15 minutos até mais de uma hora, dependendo das condições da maré no estuário.
A construção do túnel é uma promessa antiga de diferentes governos. Hoje, a ligação entre as duas cidades é feita pela rodovia Cônego Domenico Rangoni (SP-055), com 43 km de extensão, e pelas balsas das travessias litorâneas (administradas pelo Departamento Hidroviário), que levam em média 18 minutos para concluir a travessia. De acordo com o governo federal, as conexões hoje disponíveis entre os municípios também apresentam impactos na operação do Porto de Santos, formado por um conjunto de terminais voltados à armazenagem e à movimentação de cargas e passageiros.
Demanda histórica da Baixada Santista. O túnel servirá como ligação seca entre os dois municípios para o deslocamento de veículos, bicicletas e pedestres. Atualmente, mais de 21 mil carros cruzam diariamente as duas margens utilizando balsas e catraias, além de 7.700 ciclistas e 7.600 pedestres.
A obra vem sendo discutida há pelo menos 98 anos. Em janeiro de 1927, o jornal A Tribuna publicou uma reportagem sobre a construção do túnel. O texto cita a ideia do engenheiro Enéas Marini, que também planejava um túnel entre Rio de Janeiro e Niterói.
A construção do túnel é uma promessa antiga de diferentes governos. Hoje, a ligação entre as duas cidades é feita pela rodovia Cônego Domenico Rangoni (SP-055), com 43 km de extensão, e pelas balsas das Travessias Litorâneas (administradas pelo Departamento Hidroviário), que levam em média 18 minutos para concluir a travessia. De acordo com o governo federal, as conexões hoje disponíveis entre os municípios também apresentam impactos na operação do Porto de Santos, formado por um conjunto de terminais voltados à armazenagem e à movimentação de cargas e passageiros.
O leilão para definir a empresa que vai tocar a obra deve ser realizado em 1º agosto. A empresa que vencer o leilão será responsável pela construção, operação e manutenção do túnel.
Caso a obra saia do papel, este será o maior túnel submerso da América Latina. O objetivo é garantir mais segurança e agilidade no deslocamento entre Santos e Guarujá. O projeto faz parte do Programa de Parcerias de Investimentos de São Paulo.
Como será o túnel entre Santos e Guarujá?
Nova ligação entre cidades. O túnel submerso fará a ligação entre o cais de Outeirinhos, no bairro do Macuco, em Santos, e o Linhão da Codesp, no bairro de Vicente de Carvalho, no Guarujá.
Tempo da travessia deve cair para cerca de dois minutos. A projeção é da Autoridade Portuária de Santos.
A travessia pela estrada dura 60 minutos. O objetivo principal da obra é melhorar o fluxo de carros, pedestres e cargas entre as duas cidades do litoral.
Toda a estrutura terá 1,5 km de extensão, sendo 870 metros submersa. Haverá três faixas de rolamento por sentido, com uma delas para a passagem do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). O túnel será aberto par travessia de pedestres e ciclistas.
Governo prevê que construção do túnel deve gerar 9.000 empregos diretos e indiretos. Ao todo, 86% do investimento será dividido entre o Ministério de Portos e Aeroportos e o governo de São Paulo. O restante do valor será custeado pela iniciativa privada.