Cadeira foi parar no alto do poste: por que SP teve ventos arrasadores?
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A frequência de eventos extremos e a arquitetura da cidade de São Paulo ajudam a explicar por que intensas rajadas de ventos são cada vez mais comuns nas tempestades que atingem a capital, como a de quarta-feira. A cidade teve quedas de árvores em várias regiões e até uma cadeira foi parar no alto de um poste, no Butantã, zona oeste.
Aumento dos ventos fortes
A Defesa Civil estima que houve ventos de até 101 km/h no temporal de quarta-feira. A cidade registrou oficialmente ventos de 61 km/h, segundo medições do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). No entanto, a Defesa Civil baseou a sua estimativa em registros da população e nos estragos após o temporal, como a queda de mais de 300 árvores.
Ventos a partir de 52 km/h já são considerados fortes. Essas rajadas conseguem movimentar troncos de árvores e dificultam caminhar. A partir de 62 km/h, os ventos são muito fortes (ventania) e podem quebrar galhos de árvores. Acima de 100 km/h são considerados vendaval e ciclone extratropical, com força para destelhar casas, derrubar árvores e fiações. Os dados são da Escala Beaufort, que classifica a intensidade dos ventos e os seus potenciais riscos.

Tempestades acompanhadas de ventos fortes são uma característica do verão. Chuvas intensas foram consequência da atmosfera aquecida devido ao tempo seco e às temperaturas elevadas nos últimos dias. "Foi a primeira chuva na cidade em março. Nesta semana, o cenário de alta pressão enfraqueceu, e as chuvas têm acontecido. A tendência é de mais chuva nos próximos dias", explica Giovanni Dolif, coordenador substituto de operações do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
No entanto, eventos extremos são cada vez mais comuns e, por consequência, os vendavais. São Paulo deixou de ser a "terra da garoa" para virar a cidade das tempestades. A intensa urbanização fez com que a temperatura subisse na capital, transformando-a em uma ilha urbana de calor. Isso propicia a ocorrência de eventos extremos com a formação de nuvens de tempestades, as cumulunimbus, combinação de palavras em latim que significam "amontoado de chuva", com rajadas de vento, granizo e conhecidas por serem uma "grande fábrica de raios".
Nos últimos anos, vemos cada vez mais, nas estações naturais de chuva (primavera e verão), a ocorrência de eventos de chuva mais fortes. Há um tempo, se a gente falasse em rajadas de vento acima de 100 km/h, seria muito mais difícil do que hoje em dia. Já vemos, nos últimos dois, três anos, a ocorrência de pelo menos um evento por estação.
Vitor Takao, meteorologista do Climatempo
Prédios também influenciam
A quantidade de prédios na cidade também influencia na aceleração dos ventos. Segundo Giovanni Dolif, a verticalização de São Paulo contribui para as intensas rajadas nos temporais. "Prédios formam barreira e, a depender do lugar e da direção do vento, podem barrá-lo ou acelerá-lo."

Em uma cidade totalmente plana, os ventos seguiriam na velocidade que a tempestade os gerou, mas, como temos muitas construções, muitos prédios altos e enfileirados, esses padrões aceleram o vento em alguns trechos. Com isso, as velocidades são bem maiores do que se tivessem só a força da tempestade.
Giovanni Dolif, meteorologista
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