Guerra milionária: o que se sabe sobre as investigações do caso Embelleze
Colaboração para o UOL
21/03/2025 05h30
Investigada pelo desvio de R$ 122 milhões do empresário Itamar Serpa Fernandes, fundador da Embelleze, a influenciadora Monique Elias construiu uma vida de ostentação e influência digital, mas agora enfrenta acusações de estelionato, furto mediante fraude e associação criminosa.
O caso foi revelado pelo programa "Fantástico", da TV Globo, e confirmado pelo UOL.
O que aconteceu
Monique Elias, ex-esposa de Fernandes, está no centro de uma investigação por desvio milionário e manipulação emocional. Segundo a Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais) da Polícia Civil do Rio de Janeiro, a influenciadora teria planejado um golpe que durou 11 anos, no qual utilizou uma identidade fictícia para influenciar o empresário e assumir o controle de seu patrimônio. O prejuízo estimado é de R$ 122,4 milhões.
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A ex-mulher, seu filho mais velho e seu então companheiro foram indiciados por estelionato, furto mediante fraude e associação criminosa. Além disso, a polícia abriu um novo inquérito para investigar lavagem de dinheiro relacionada ao caso.
Monique Elias nasceu e cresceu na periferia de Nilópolis, na Baixada Fluminense. Criada pelos avós, teve uma infância difícil e chegou a escovar os dentes com sabão em barra. Seu pai, um bicheiro, só entrou em sua vida quando ela já tinha 15 anos.
Determinada a mudar de vida, estudou Direito e conseguiu um estágio na Defensoria Pública de Nova Iguaçu. Foi nesse período, em 2012, que conheceu Itamar Serpa, de quem passou a se aproximar por meio das redes sociais.
Casada oficialmente em 2018, Monique viveu durante anos uma vida de ostentação. Morando em uma mansão de quatro andares na Barra da Tijuca, cercada por doze funcionários, ela viajava de jatinho particular e helicóptero, frequentava destinos de luxo como Dubai e Tailândia, e acumulava joias e bolsas de grife.
Monique Elias nunca escondeu sua admiração pelo poder e pelo dinheiro. Em entrevista à revista Veja, em 2019, ela declarou abertamente: "Eu me considero interesseira mesmo. Vamos ser honestos: tudo na vida é troca de interesses. Vale o mesmo para marido. Ser rico é importante, mas não é o dinheiro que me dá tesão. Já o poder...", declarou à época.
Sua rotina custava cerca de R$ 200 mil por mês ao ex-marido. Ela também admitiu fazer viagens constantes ao exterior e chegou a voltar com 19 malas cheias de compras.
Personagem fictício
Segundo as investigações, Monique usou uma identidade falsa para manipular emocionalmente Itamar Serpa. A Polícia Civil afirma que ela criou um pseudônimo fictício, "Jéssica Ferraz", com o qual mantinha contato com o empresário por e-mails ao longo dos anos.
A personagem, apresentada como amiga e confidente, enviava mensagens alertando Itamar sobre supostas conspirações de familiares e funcionários. A estratégia de isolamento teria permitido que Monique e seus cúmplices controlassem as decisões do empresário, que passou a confiar apenas nela.
Segundo a Polícia Civil, com a ajuda do filho e do então companheiro, Monique teria induzido Itamar a realizar transferências milionárias, alterar seu testamento e contratar seguros de vida em seu favor. Mesmo quando o empresário foi internado com sangramentos no fígado, em junho de 2023, o grupo teria continuado a realizar movimentações financeiras em seu nome.
Monique nega acusações
Após a repercussão do caso, Monique Elias publicou vídeos em suas redes sociais rebatendo as acusações. A influenciadora negou em Stories no Instagram, onde possui mais de 610 mil seguidores, que tenha manipulado ou afastado Itamar Serpa da família e afirmou que não apagará comentários nem encerrará seu perfil no Instagram. "Nunca vi tanta mentira e tanta falsidade juntas. A Globo podia aproveitar e contratar os atores", declarou.
Monique também tentou desconstruir a imagem de um empresário vulnerável. "O Itamar não era uma pessoa frágil. Até o último momento, assinou documentos, inclusive sua própria anestesia para uma cirurgia." Ela ainda nega o afastamento do enteado e ameaça processar aqueles que a acusam.
O inquérito foi finalizado e encaminhado ao Ministério Público do Rio de Janeiro. A Draco reuniu provas periciais de e-mails, registros eletrônicos e depoimentos de funcionários e familiares. Além disso, um novo inquérito foi aberto para apurar possíveis crimes de lavagem de dinheiro.
Até o momento, os indiciados respondem em liberdade. O Ministério Público ainda não se manifestou sobre o caso.
Monique foi procurada pela reportagem, mas não retornou. O UOL não encontrou os contatos de defesa do filho e ex-marido da influenciadora. O espaço segue aberto para manifestação.