CNH de motorista que matou jovens em SP seria suspensa 5 dias após acidente

O motorista Brendo dos Santos Sampaio, 26, preso após atropelar e matar duas jovens em uma avenida de São Caetano do Sul, estava prestes a ter a carteira de motorista suspensa por multas em excesso. A informação é da Polícia Civil de São Paulo.

O que aconteceu

CNH de Brendo tinha 71 pontos e seria suspensa na segunda-feira (14). Sete infrações eram por excesso de velocidade, afirmou a delegada Kelly Sachetto ao UOL. Em cinco ocasiões, Brendo dirigia em uma velocidade 20% acima do permitido. Outras duas vezes, ele excedeu de 20% a 50% a velocidade da via.

Após ter carteira suspensa, ele passaria por um curso de reciclagem. "Ela seria suspensa para que ele tivesse uma nova oportunidade de fazer as provas, ser reavaliado", explicou a delegada Kelly na noite de ontem.

Nem a polícia, nem o advogado explicaram em quanto tempo esses pontos foram aplicados. Segundo a lei de trânsito, a CNH pode ser suspensa se motoristas fizerem 40 pontos em um ano, ou 20 pontos em um ano, em caso de duas ou mais infrações gravíssimas.

Velocidade do carro no momento do acidente será determinada na perícia, que pode demorar até 30 dias. Câmeras de segurança da avenida mostraram que o homem estava em alta velocidade, acima dos 60 km/h permitidos na pista, mas não há detalhes sobre quanto o velocímetro marcava no momento do atropelamento.

Modificações no carro de Brendo fazem polícia investigar se jovem participava de rachas. Segundo a delegada Kelly Sachetto, a suspeita é de que o carro tenha sido modificado para fazer maior velocidade nas vias.

Ele tinha dois escapamentos esportivos, alterações na parte estética, de aerodinâmica. Não é normal em um carro de passeio. Era um carro muito potente, supostamente para empreender velocidades mais altas.
Delegada Kelly Sachetto ao UOL

Polícia investiga se Brendo participava de um racha na noite do acidente. Uma testemunha contou à polícia que viu um segundo carro em alta velocidade, ao lado do Honda Civic de Brendo. "Estamos nos debruçando nas imagens das imediações, nas imagens antes do atropelamento. Vamos cercar todo esse perímetro para ver se tem outro veículo", explicou a delegada. "O racha é outro crime, independente do homicídio, com prisão de cinco a dez anos porque ocasionou em morte".

Defesa. O UOL questionou se a defesa de Brendo tem algum posicionamento sobre as multas e o processo de suspensão da carteira e aguarda retorno sobre o assunto. Em nota enviada ontem, a defesa afirmou que o caso foi uma "fatalidade". "As vítimas de certo modo atravessaram ainda quando o semáforo estaria vermelho pra ela, o meu cliente acabou não observando as vítimas", disse Francisco Ferreira.

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Relembre o caso

Isabela Priel Regis e Isabelli Helena de Lima Costa atravessavam a rua na faixa de pedestre quando foram atingidas por um carro na avenida Goiás, em São Caetano do Sul. Uma câmera de segurança gravou o momento do acidente. Nas imagens, é possível ver que elas estão conversando e não percebem a aproximação de um carro em alta velocidade. O semáforo estava mudando de verde para amarelo na hora da colisão.

Elas morreram no local. Com o impacto, as jovens foram arremessadas a mais de 50 metros. A polícia ainda investiga se o motorista ultrapassou o limite da via, que é de 60 km/h.

Isabelli Helena de Lima Costa Isabela Priel Regis
Isabelli Helena de Lima Costa Isabela Priel Regis Imagem: Reprodução

Motorista é estudante de direito. Brendo dos Santos Sampaio, 26, tinha acabado de sair da aula na Universidade de São Caetano do Sul e permaneceu no local do acidente. O teste do bafômetro constatou que ele não estava bêbado e ele foi submetido a uma contraprova no IML.

Honda Civic ficou com a parte da frente destruída após atropelamento na Avenida Goiás, em São Caetano
Honda Civic ficou com a parte da frente destruída após atropelamento na Avenida Goiás, em São Caetano Imagem: Reprodução
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Meninas saíram para comemorar o primeiro emprego. A mãe de Isabelli contou que a filha começaria como jovem aprendiz em um supermercado no próximo dia 14. "Elas eram muito amigas, inseparáveis. Estudaram o ensino médio juntas e morreram juntas. A Isabelli ia começar a trabalhar. Não deu tempo. Elas saíram para comemorar e estavam voltando para casa", afirmou Claudilene Helena de Lima.

Família diz que Isabela era "a parte mais alegre da família". "Ela tinha uma vida inteira pela frente. É um pedaço de mim que tiraram, a pessoa mais alegre da família, que mais radiava alegria", afirmou o pai dela, Marcos Antônio dos Santos Régis.

As testemunhas dizem que ele comentou que estava um pouco acima [da velocidade]. Não sabemos se ele se distraiu, se estava no celular. Ele passou como se não tivesse ninguém na frente.
Pai de Isabela, Marcos Antônio

Ele acabou com a nossa família. Como a gente vai viver sem ela lá? Eu não sou perita, mas do jeito que pegou, não tem como [não estar em alta velocidade]
Madrasta de Isabela, Shirley

Famílias relatam que foram procurados por advogados de atropelador. "Falaram que a família quer prestar apoio, que ele é estudante, que não é nada [de racha], que estava só voltando da faculdade". Nas redes sociais, moradores relataram que os rachas são comuns na avenida Goiás.

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