Ele montou montanha-russa em casa e conseguiu emprego após viralizar

O estudante de engenharia mecânica Gustavo Machado da Silva, 22, sempre foi fascinado por montanhas-russas.

Em um terreno no quintal de casa, em Caieiras (SP), ele apresenta a montanha-russa de trilhos verdes que montou, desenhou e planejou sozinho ainda na adolescência com dicas de fóruns e vídeos da internet.

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O carrinho feito de ferro e também criado e soldado por ele tem rodinhas de poliuretano, mesmo material usado em rodas de skate, e alcança até 30 km/h ao descer pelos trilhos, que chegam à altura de três metros e têm 34 metros de extensão.

Ao todo, o projeto custou R$ 30 mil.

A criação e a documentação em vídeos da montagem e do projeto o fizeram ter renda com as redes sociais, onde acumula 2,1 milhões de seguidores no TikTok e 239 mil no Instagram. O sucesso também o ajudou a conquistar patrocinadores e o atual emprego no Cacau Park, como coordenador de atrações.

Inspiração em jogo e amigo virtual americano

O interesse de Gustavo começou ainda na infância ao visitar parques itinerantes do litoral paulista e brincar em pequenos brinquedos.

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Com 7 anos, a virada de chave foi conhecer os parques de Orlando, na Flórida. Mais tarde, o clássico RollerCoaster Tycoon, um jogo para computador lançado em 1999 em que se monta e administra parques de diversões, fez parte da adolescência e tempo livre após a escola.

O projeto de Gustavo começou em 2018, quando, ainda no colégio, começou a desenhar os primeiros esboços. Em 2020, o jovem ingressou na faculdade de engenharia mecânica e, com mais conhecimento e pesquisa na internet, iniciou a construção.

No jogo RollerCoaster Tycoon, é possível criar a própria montanha-russa
No jogo RollerCoaster Tycoon, é possível criar a própria montanha-russa Imagem: Reprodução/Youtube

Eu acompanhava as comunidades de entusiastas de parques desde 2018 e descobri que era possível construir algo assim no quintal e me arrisquei.
Gustavo Machado

Gustavo Machado aos sete anos de idade em parques de Orlando
Gustavo Machado aos sete anos de idade em parques de Orlando Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Em 2021, a primeira montanha-russa ficou pronta. Dois anos depois, ele construiu a segunda, um tanto mais complexa, aprimorando o projeto e registrando cada ponto, como um diário de montagem.

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Deu certo, e Gustavo se tornou uma espécie de influenciador de montanhas-russas, sendo convidado para conhecer diversos parques pelo mundo e ganhando patrocinadores da área.

"Construí ela [montanha-russa] no terreno dos meus avós ao lado de casa, soldei e montei tudo sozinho, nunca imaginei que fosse ter essa repercussão. Recebo mensagens de algumas pessoas dizendo que entraram na engenharia por causa dos meus vídeos. Isso é muito legal", afirma.

O primeiro vídeo teve 200 mil visualizações, e os seguidores começaram a pedir mais. Mas eu nunca fui um influenciador, só um maluco que faz coisas no quintal.
Gustavo Machado, 22, estudante de engenharia mecânica

Um dos primeiros incentivadores de Gustavo foi um empresário local, Marcelo Marino, 57, dono de uma loja de madeiras, que ofereceu a primeira leva de materiais sem cobrar nada. "Ele disse que o sonho dele era ter um circo, então ele associou meu projeto com isso", lembra Gustavo.

Montanha-russa tem 34 metros, e Gustavo gastou cerca de R$ 30 mil em sua construção
Montanha-russa tem 34 metros, e Gustavo gastou cerca de R$ 30 mil em sua construção Imagem: Giacomo Vicenzo/UOL

Achei que era um brinquedo, uma maquete ou alguma coisa pequena, mas depois ele me mostrou um projeto e contou que ia fazer no terreno da família ao lado da casa deles. Fiquei impressionado: é difícil ver um adolescente com estas ideias e projetos.
Marcelo Marino, 57, dono de um comércio de madeiras

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Emprego dos sonhos

Ao longo dos anos, Gustavo conheceu várias pessoas da área, incluindo engenheiros e outros entusiastas.

Em 2021, ele foi para os EUA para um projeto da faculdade e aproveitou para conhecer pessoalmente Will Pemble, um americano que construiu uma montanha-russa no quintal para o filho em 2014 e divulgou o processo de construção pelo Facebook —foi a série de vídeos que também inspirou o jovem a começar o seu próprio projeto.

"Eu já seguia ele, e ele viu que eu estava construindo. Ele criou um projeto para reunir pessoas que faziam montanhas-russas caseiras", explica Gustavo.

Em 2023, foi convidado para um evento da Cacau Show, onde conheceu Alexandre Costa, fundador da empresa. "Foi algo breve, mas dias depois me chamaram para uma reunião e me ofereceram uma vaga na equipe do novo parque, o Cacau Park."

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Em março de 2024, ele foi contratado como coordenador de montagem de atrações. Uma de suas funções será ajudar na montagem da que promete ser uma das maiores montanhas-russas da América Latina, que será inaugurada em 2027, em Itu.

Marino, que o ajudou no início, diz sentir-se orgulhoso de ver o amigo chegando longe. "Fico muito contente com o que está acontecendo, de ele ter viajado com estas ideias e estar trabalhando agora nesta área e crescendo. Ele é muito dedicado e consegue realizar o que planeja. Fico muito orgulhoso com os avanços e sucessos dele", afirma.

"Nunca imaginei que isso viraria um trabalho. Começou como uma brincadeira", diz Gustavo.

Testamos a montanha-russa caseira!

A reportagem testou o brinquedo construído no quintal por Gustavo. Devido às chuvas recentes, ela teve o motor danificado. Com o novo trabalho, Gustavo não teve tempo de consertar o mecanismo e foi necessário empurrar o vagão até a parte de cima do trilho.

Na visita da reportagem, o equipamento estava com o motor quebrado e foi preciso empurrar o carrinho e lubrificar os trilhos com lustra móveis
Na visita da reportagem, o equipamento estava com o motor quebrado e foi preciso empurrar o carrinho e lubrificar os trilhos com lustra móveis Imagem: Giacomo Vicenzo/UOL
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Com muito esforço, o carrinho estava pronto para descer. O primeiro teste foi feito por Gustavo, que ironicamente revelou um temor. "Dá um medo, não sei se já comentei, mas eu tive medo de altura a minha vida toda."

O brinquedo, que teve as rodas lubrificadas com lustra móveis, travou no trilho, mas logo pegou velocidade e fez a primeira descida, passando por um trecho de air time —um ponto projetado em montanhas-russas para dar a sensação de ausência de peso.

Subir até o ponto mais alto da montanha-russa envolvia o risco de desequilibrar e cair. No entanto, testamos o trecho descendo manualmente de um dos pontos, passando pela área de air time e, mesmo em baixa velocidade, é possível sentir um friozinho na barriga.

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