'Terra de ninguém': pânico se espalha na UEPB após suástica e assassinato

Com aulas suspensas desde que um homem foi assassinado em um campus de Campina Grande da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), alunos da instituição relatam insegurança para estudar e cobram reitoria.

O que aconteceu

Estudantes criticam falta de segurança na universidade. Alunos da UEPB contaram ao UOL que estão com medo de ir ao campus após serem alvo de ameaças nazistas e de um homem ser assassinado a tiros na CAPF (Central Acadêmica Paulo Freire), dentro da universidade.

Aulas estão suspensas até 28 de abril. Inicialmente, a reitoria suspendeu todas as atividades presenciais entre 4 e 11 de abril, mas adiou a suspensão.

Alunos se manifestaram contra falta de segurança. O DCE (Diretório Central dos Estudantes) e os centros acadêmicos da universidade protestaram anteontem em frente ao prédio da reitoria para pedir mais segurança.

Homem foi assassinado a tiros no campus

Dono de copiadora da faculdade foi morto dentro da universidade. Keine Santos Diniz, 41, era o namorado da ex-mulher do atirador, Flávio Medeiros. Diniz foi atingido por seis tiros e morreu na hora. A PCPB afirmou que Medeiros tinha uma pistola registrada em seu nome e frequentava um clube de tiro.

Keine Santos Diniz, dono de copiadora morto dentro da UEPB
Keine Santos Diniz, dono de copiadora morto dentro da UEPB Imagem: Reprodução

"Foi aterrorizante", conta uma estudante que presenciou assassinato. Ela disse ao UOL que estava ao lado da copiadora no momento do crime, mas não percebeu a aproximação do atirador. Ao ouvir os disparos, correu, gritando para as pessoas nas salas se esconderem. "Só me senti segura quando cheguei em casa", diz.

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Alunos reclamam que atirador conseguiu entrar e sair do campus sem ser parado. O assassinato ocorreu 3° andar da Central Acadêmica Paulo Freire. Ou seja, o autor dos disparos entrou na faculdade armado, subiu as escadas, atirou e foi embora sem ser abordado pela equipe de segurança. "Entra lá quem quer", diz uma estudante.

Após o crime, suspeito deixou o campus e foi à escola onde ex trabalhava, mas não a encontrou. Na sequência, parou o carro em uma delegacia e cometeu suicídio. O SAMU chegou a ser acionado, mas a morte dele foi confirmada logo depois.

Ameaças nazistas nas paredes

Desenho nazista na UEPB diz: "Negros malditos queimem!"
Desenho nazista na UEPB diz: "Negros malditos queimem!" Imagem: Reprodução

Suásticas foram pintadas em paredes da universidade na semana passada. Ao lado dos símbolos, estavam as frases "Nós vamos à caça" e "Negros malditos queimem!".

Adesivos "anti-antifascistas" também foram colados sobre desenhos feministas. Um vídeo, publicado por um aluno da UEPB, mostra uma pessoa colando os adesivos em diferentes partes do campus. A conta responsável pela publicação não existe mais.

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Aluno apontado como responsável é investigado pela Polícia Federal. Um estudante de biologia de 19 anos foi alvo de uma operação de busca e apreensão na última sexta-feira, realizada a pedido do FBI. Agentes da PF apreenderam celulares, mídias e dispositivos de armazenamento de dados.

Estudantes sentem medo do aluno investigado. Um deles afirmou ao UOL que o rapaz se diz skinhead, nacionalista, e usa símbolos nazistas nas roupas. Um professor disse que o jovem "é conhecido na universidade", mas que a reitoria não faz nada sobre ele.

Reitoria publicou nota de repúdio após descoberta de desenhos. Em vídeo publicado nas redes sociais da UEPB, a reitora Célia Regina disse que a universidade tomou "todas as medidas cabíveis", incluindo enviar as provas que tinham à PF, mas não informou se o aluno foi suspenso ou expulso. O UOL questionou, mas não teve resposta.

Membros de comunidade acadêmica se sentem inseguros

"Não posso garantir que eu esteja lá [no campus], mas não porque eu não queira", diz estudante. O aluno, que é negro, diz que tem medo de frequentar o campus enquanto nada é feito para impedir a circulação de ideias neonazistas nos corredores da UEPB.

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Eu amo meu curso de paixão. Porém, quando essas coisas acontecem, a gente se sente muito incapaz de estudar, porque se senta na cadeira pensando que algo horrível vai acontecer. Aluno da UEPB

"É uma terra de ninguém", diz professor. O docente ouvido pelo UOL diz que nem ele, nem os colegas se se sentem tranquilos para dar aulas. Ele afirma que "há um temor generalizado" que atrapalha o ensino. A reitoria "negligenciou violentamente" a segurança, disse.

Entrada da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba)
Entrada da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) Imagem: Divulgação/UEPB

Universidade já foi palco de outro crime. Em 2019, assaltantes invadiram e atacaram uma agência bancária que ficava dentro do campus.

O que querem os estudantes

Abaixo-assinado por mais segurança ultrapassou 5 mil assinaturas. Publicada pelos centros acadêmicos, a petição fala em "quadro grave de insegurança e abandono" e pede:

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  • Implantação imediata de um plano de segurança eficaz;
  • Presença ativa de vigilância qualificada;
  • Ampliação da rede de apoio psicológico dentro da universidade.

O que diz a faculdade

UEPB afirma que vai instalar detectores de metal em entradas. Em nota divulgada na última sexta-feira, a reitoria afirmou que iniciará um projeto para posicionar agentes com detectores de metal nas duas entradas do Centro de Aulas Paulo Freire. Eles vão controlar a entrada e saída de professores e alunos, e devem começar a atuar em 28 de abril.

Instituição prometeu aumentar rondas policiais. Plano da reitoria é trocar as lâmpadas atuais por iluminação de LED, implementar rondas regulares da PM nas vias do campus e usar "um sistema inteligente de monitoramento por meio de câmeras de vigilância".

O UOL tentou contato com a reitoria da UEPB, mas não teve retorno. Este espaço segue aberto para manifestação.

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