Advogado que agrediu mulher disse que forjava flagrantes quando era PM

O advogado criminalista João Neto, 47, preso em flagrante na última segunda-feira sob a suspeita de cometer violência doméstica contra a companheira, em Maceió, afirmou em entrevista a um podcast que costumava andar com um "kit flagrante" quando era policial militar na Bahia.

O que aconteceu

Kit flagrante era composto por droga, balança de precisão e dinheiro. O advogado admitiu que plantava os objetos nos pertences de quem gostaria de prender. "Na minha época mesmo [de policial], eu andava com kit flagrante. Eu tinha kit flagrante: droga, balança e dinheiro miúdo. Já era. Agora, claro, botava em homem de bem, não. Era aquele bandido que a gente queria pegar", revelou.

O ex-PM afirmou que a prática existe na instituição. "Quantos e quantos policiais invadem sua casa e plantam drogas? [?] Gente, não vamos ser falsos moralistas, nem demagogos, nem hipócritas. A realidade existe", disse João Neto.

O advogado também afirmou em outro podcast que existe um motivo para a mulher apanhar de um homem. A declaração foi dada dias antes de o defensor ser detido pela polícia.

"Homem só tem um motivo para bater na mulher: se ela lhe bater. Quem não quer apanhar, não bate", disse o advogado baiano, que soma mais de 2,1 milhões de seguidores nas redes sociais.

Se a mulher sabe que não aguenta com você, ela vai dar uma tapa na sua cara para quê? Se ela dá um tapa na sua cara, ela está querendo levar outro. João Neto, advogado

Advogado baiano foi preso

Siga UOL Notícias no
Continua após a publicidade

Advogado baiano foi preso após companheira denunciar agressão em Maceió. Um vídeo de câmeras de monitoramento mostra o advogado no interior de um apartamento segurando a companheira à força em um corredor e indo ao chão com ela próximo de uma porta. Pelas imagens, é possível ver a mulher, antes da queda, se segurando nas paredes e em um batente para resistir à abordagem do advogado. E, hora da queda, ela bate o corpo e cabeça contra a porta.

O advogado negou as agressões. Em depoimento, João afirmou ter dito à mulher que "não teria condições de continuar com a relação" e pediu que ela saísse do apartamento. Ele cita ainda que, mesmo após mandar ela sair, percebeu que ela "ainda se encontrava no quarto, deitada na cama com ar condicionado ligado", e afirma que pegou a vítima "pela barriga para levá-la para fora". Entretanto, como o piso é liso, ela escorregou e ambos caíram.

Corte no rosto. A queda provocou um corte profundo no queixo da mulher, que precisou ser levada a um hospital de Maceió, onde levou três pontos. Imagens da vítima saindo ensanguentada do apartamento foram flagradas por uma câmera de segurança do prédio. João aparece usando um pano para estancar o sangue. Segundo a delegada Ana Luiza Nogueira, coordenadora das Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres, os vídeos deixam claro que houve agressão. "Com certeza a violência doméstica está caracterizada. Todas as imagens corroboram o depoimento prestado pela vítima", disse ao UOL.

O que diz a defesa

Em nota à imprensa, a defesa de João Neto afirmou que "os fatos divulgados não refletem a realidade do ocorrido".

"Não houve qualquer ato de violência por parte do acusado. Trata-se de um episódio isolado, decorrente de um acidente em que ambas as partes caíram, sem conduta dolosa. Ressalte-se que, no momento, o piso do apartamento encontrava-se molhado em razão de limpeza, contribuindo diretamente para o ocorrido", diz.

Continua após a publicidade

Ainda segunda a defesa, foi entregue um vídeo que "comprova a dinâmica dos fatos, reforçando a tese de acidente e descaracterizando qualquer cenário de agressão".

A defesa já está adotando todas as medidas cabíveis para cessar esse constrangimento ilegal e a indevida restrição de liberdade imposta ao acusado. A defesa reitera seu compromisso com a verdade, com a ampla defesa e com o devido processo legal, confiando que os fatos serão devidamente esclarecidos no curso da investigação.
Nota assinada pelos advogados Minghan Chen, Cícero Pedrosa e Vinicius Guido Santos

Questionada sobre as outras violências que a mulher cita à polícia, a defesa afirma que "desconhece todas as imputações de agressões".

OAB se posiciona

Depois da repercussão do caso, a OAB decidiu se manifestar sobre o caso por meio de nota. Veja a íntegra:

"A Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL), diante dos fatos ocorridos na noite dessa segunda-feira (14), que resultou na prisão de um advogado em Maceió, informa que já adotou as medidas necessárias no âmbito do Tribunal de Ética da OAB/AL e oficiou a Seccional da Bahia para tomar as providências cautelares que a situação requer, considerando que o acusado possui inscrição originária na OAB/BA.

Continua após a publicidade

Ressalta-se que qualquer conduta que possa configurar inidoneidade moral ou crime infamante será devidamente apurada, com observância estrita do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, consagrados na Constituição da República e no Estatuto da Advocacia.

Por fim, a OAB/AL reafirma seu compromisso com a legalidade, a ética e a justiça, reiterando que, quando for o caso, não tolerará quaisquer desvios de conduta, sobretudo aqueles que tratem de violência contra as mulheres e que atentem contra os preceitos que regem o exercício da advocacia."