Arcebispo de SP sobre conclave: 'Ninguém espera um papa a favor da guerra'
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O cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, disse hoje que ninguém espera "um papa a favor da guerra" ou que "não cuida dos pobres" ao ser questionado sobre a escolha do novo pontífice.
O que aconteceu
O arcebispo de São Paulo, que deve participar do conclave, disse que aguarda informações do Vaticano para reunião. Em entrevista aos jornalistas na Catedral da Sé, no centro de São Paulo, dom Odilo afirmou que deve ir ao funeral do papa Francisco, que morreu hoje — ele se recuperava de um quadro respiratório grave, que o deixou internado 37 dias. "O próximo papa será alguém que vai cuidar bem da vida da igreja e da missão da igreja."
O cardeal brasileiro disse é uma preocupação externa saber se o novo papa será progressista ou conservador. Segundo ele, a base do ensinamento da igreja é "tanto progressista, quanto conservadora". O cuidado com imigrantes e a preocupação com a paz mundial, ressaltou dom Odilo, são posturas do evangelho.
Scherer disse não ter a expectativa de que o novo papa seja um "Francisco 2". "O próximo papa será uma pessoa humana, não um robô, portanto vai governar a igreja com seu jeito, caráter, personalidade e sua capacidade humana. Por isso, estejamos abertos para acolher a figura do novo papa."
O cardeal afirmou enxergar com naturalidade a torcida e especulações para o conclave. Segundo o líder religioso, a escolha do próximo papa é resultado de um "discernimento coletivo". Antes de Jorge Mario Bergoglio, nome de batismo do papa Francisco, ser escolhido como chefe da Igreja Católica, em 2013, o nome do brasileiro foi especulado como possível novo líder católico.
Para dom Odilo, ninguém deveria se surpreender se o novo papa escolhido for africano, asiático ou italiano. A maioria dos cardeais que vão participar do conclave foram indicados pelo papa Francisco. A eleição pelo novo pontífice ocorre em no mínimo 15 dias e no máximo 20 dias após a morte ou renúncia de um papa. O voto é secreto e os líderes religiosos são proibidos de qualquer tipo de comunicação.
Seis nomes têm se repetido em diversas apostas feitas por veículos especializados na cobertura do Vaticano. Robert Sarah, Péter Erdo, Matteo Maria Zuppi, Pietro Parolin, Jean-Marc Aveline e Luis Antonio Gokim Tagle são alguns que mais aparecem.
Depois da coletiva à imprensa, o arcebispo de São Paulo conduz a missa em homenagem ao papa na Catedral da Sé. No Santuário Nacional de Aparecida, Francisco também foi homenageado nas celebrações já previstas na programação. "Grande peregrino da esperança", disse dom Orlando Brandes.
A escolha do papa não vem de conchavos feitos anteriormente, isso é fantasia. A escolha do papa vem de um discernimento que se faz em um de clima de oração, de um alto senso de responsabilidade em relação à igreja. Não é salvar uma ideologia, um partido, um gosto. É a grande responsabilidade sobre quem vai conduzir a igreja. Nós, cardeais, celebramos o conclave, não é uma campanha eleitoral. É uma celebração.
Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo

Último encontro com papa
Dom Odilo contou que encontrou com o papa dois dias antes da internação, em 12 de fevereiro. O arcebispo de São Paulo disse ter se impressionado em como o pontífice estava abatido. "Tive algumas conversas mais prolongadas, pessoais com o papa e foram muito boas", afirmou.
O cardeal disse que recebeu a notícia da morte do papa com pesar, mas sem surpresa devido ao agravamento do estado de saúde. "Passou a usar cadeira de rodas, muitos medicamentos contra dores, ele estava usando corticoide, era visivelmente, porque estava com rosto inchado."
Dom Odilo exaltou a postura de simplicidade do pontífice e a firmeza na "busca para corrigir desvios morais dentro do clero". O arcebispo de São Paulo ressaltou que as ações iniciais foram tomadas por João Paulo 2 e Bento 16, mas que foi com Francisco que novas medidas "drásticas" foram tomadas para "corrigir, naturalmente, uma chaga moral existente no meio de membros do clero".
Não se espera do próximo papa outra atitude, afirma o cardeal brasileiro. Reportagem do UOL mostrou que o colégio de cardeais que escolhem o novo pontífice tem entre seus membros acusados por abuso sexual ou negligência durante as investigações.
Papa Francisco fez uma legislação para, claramente, limpar no meio do clero essas situações [abusos sexuais], que atingem uma porcentagem muito pequena do clero, mas acaba que o clero todo leva a fama. Isso, infelizmente, é a grande injustiça e a responsabilidade de quem o faz.
Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo
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