Câmara vai a Parelheiros ouvir a população, mas deixa a maioria sem voz

A segunda edição do "Câmara na Rua", evento promovido pela Câmara Municipal para ouvir a população, lotou as instalações do CEU Parelheiros de moradores que fizeram fila para apresentar suas demandas. Mas o limite de vagas oferecidas deixou dezenas deles sem voz.

O que aconteceu

O evento deste sábado foi o segundo do tipo promovido com o intuito de aproximar o Legislativo da população. Antes das 8h já havia fila para entrar no CEU, que fica no extremo sul da capital paulista, a 40 km do centro da cidade. Mas, de última hora, a organização reduziu de 75 para 30 o total de participantes, tirando de 37 inscritos o direito de falar.

Escolha dos moradores foi feita por sorteio. "Vai ser como um bingo, vamos sortear as pessoas, de forma democrática", explicou o vereador Silvão Leite (União Brasil), que conduziu a assembleia por ser da região. Ele ainda anunciou que o tempo seria reduzido de 3 para 2 minutos, mas voltou atrás e manteve o período anunciado.

Moradores chegaram quatro horas antes para garantir lugar de fala. Jaciara Rodrigues, de 41 anos, foi a primeira moradora a fazer inscrição. Chegou às 7h30, mas não foi sorteada. "É muito injusto isso, escolher as pessoas por sorteio. Eu cheguei antes de muita gente e fiquei de fora. Tinha coisas importantes para falar, uma pena", disse.

Escolha deveria ser por ordem de chegada. Para as pessoas impedidas a falar, a Câmara errou em destinar duas horas do evento para a realização de uma feira de exposições - que explicava os serviços prestados pela Câmara —, 20 minutos para uma apresentação cultural e apenas duas horas para a tribunal popular. "Vim com a minha filha de 7 anos, que já não aguenta mais, está cansada. Se soubesse que teria de contar com a sorte para participar nem teria vindo", afirmou Marina Sierra de Camargo, que gostaria de ter falado sobre a importância da preservação ambiental da região, considerada "patrimônio ambiental" da cidade.

Quórum baixo de vereadores

Câmara na Rua, no CEU Parelheiros: moradores tiveram pouco espaço para se expressar
Câmara na Rua, no CEU Parelheiros: moradores tiveram pouco espaço para se expressar Imagem: Richard Lourenço / Rede Câmara

Só 18 dos 55 vereadores que compõem a Câmara Municipal marcaram presença no evento. A lista inclui o presidente da Casa, Ricardo Teixeira (União Brasil), que lançou a iniciativa mês passado, com um encontro em São Miguel Paulista, no extremo da zona leste. "Os parlamentares têm outras atividades, compromissos", minimizou Teixeira, que citou em seguida a distância de Parelheiros do centro.

Quórum caiu durante evento. Já baixo, o número de parlamentares foi ainda mais reduzido ao longo das cinco horas de encontro. A vereadora Zoe Martinez (PL), por exemplo, ficou alguns minutos apenas no CEU Parelheiros e seguiu depois para compromisso em Brasília, segundo informou sua assessoria. Antes, porém, postou um vídeo nas redes sociais. Amanda Vetorrazzo (União Brasil) saiu logo no início das falas dos moradores, assim como Luana Alves (PSOL).

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Câmara admite falhas e promete mudanças. Se não pode obrigar os vereadores a comparecer aos encontros nos bairros, Teixeira prometeu ao menos mudar as regras relativas à participação popular no próximo evento, a ser realizado em Perus, no extremo norte.

O presidente afirmou que pretende reduzir o tempo da feira de exposições e aumentar o de fala da população local. E, caso não seja possível dar voz a todos os inscritos, a ordem de chegada passará a ser a regra e não mais o sorteio de interessados.

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