ONG pede R$ 50 mi do Shopping Higienópolis por racismo: 'Vasto histórico'

A ONG Educafro entrou com pedido de indenização de R$ 50 milhões contra o Shopping Higienópolis, localizado em área elitizada na região central de São Paulo, após uma abordagem racista a dois adolescentes no local.

O que aconteceu

Pedido de indenização é por danos morais coletivos e danos sociais. Na ação, a entidade aponta que o "shopping tem um vasto histórico de práticas racistas ocorridas em sua sede, sem que tenha sido tomada qualquer medida efetiva para coibir referidas práticas". No documento, citam denúncias anteriores de racismo. Como o UOL mostrou, ao menos cinco casos de racismo foram registrados no shopping nos últimos sete anos.

Recomendação da Defensoria Pública de São Paulo para o afastamento imediato da equipe de seguranças também foi citada. A ONG argumenta que nenhuma providência foi tomada e que o estabelecimento insiste em "perpetuar o racismo em suas dependências".

Organização ainda sugere ao judiciário dezenas de ações que deveriam ser adotadas pelo shopping. Entre elas:

  • Revisão dos contratos de terceirização da segurança;
  • Cobrança para que as contratadas façam rigoroso treinamento de seus profissionais e supervisão permanente de suas atividades;
  • Adicionar cláusulas antirracistas em todos os contratos;
  • Permitir que todos os clientes e terceiros filmem as abordagens no interior ou nas imediações dos prédios da empresa;
  • Revisão imediata dos protocolos de abordagem nas lojas também está entre as indicações feitas pela organização;
  • Apoio a instituições de ensino para a formação profissional de jovens negros e negras através de bolsas de estudo.

(...) A lesão ocorrida no referido shopping atinge não apenas os direitos individuais da vítima, mas os valores de toda a coletividade e da população negra em especial. Sua autoestima, dignidade e honra foram profundamente agredidas, tendo como resultado intenso sofrimento moral, dor, humilhação, repulsa e indignação.
Trecho da ação contra o shopping

O UOL está em contato com o estabelecimento comercial para pedido de posicionamento. Se houver retorno, o texto será atualizado.

Relembre o caso

No dia 16 de abril, uma segurança do shopping se aproximou de uma adolescente branca para perguntar se ela estaria sendo incomodada. O episódio ocorreu na praça de alimentação, quando ela estava acompanhada por um colega negro. Uma outra colega negra também estava no local.

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Os três adolescentes estudam no colégio Equipe, que fica próximo ao shopping. Eles haviam participado de uma aula extra sobre letramento racial e condutas antirracistas horas antes na escola.

Segurança insistiu na abordagem e disse que estudantes negros estariam pedindo dinheiro. "Ela abordou a menina branca dizendo que a minha filha e o colega dela poderiam ser retirados, porque estariam pedindo dinheiro ali. Mesmo ela dizendo que eram colegas, a segurança insistiu, dando início a uma confusão. Eles [adolescentes negros] choraram muito", disse a analista de sistemas Leni Pires das Merces, 49, mãe da adolescente negra.

Shopping disse que comportamento da segurança "não reflete os valores do shopping". "O tema está sendo tratado com máxima seriedade", disse o estabelecimento em nota após o caso.

Na última quarta-feira (23), cerca de 500 pessoas protestaram no empreendimento. Segurando faixas com frases antirracistas, o grupo entoou coros, pedindo o fim do racismo. "Exigimos mais do que um pedido de desculpa protocolar. Exigimos uma mudança concreta e urgente por parte da administração do shopping, com ações efetivas contra o racismo institucional (...). Para crianças e adolescentes negros, a vida os obriga a manter uma vigilância constante", disse um dos manifestantes.

Estudantes de colégio participam de ato em Shopping Higienópolis após caso de racismo
Estudantes de colégio participam de ato em Shopping Higienópolis após caso de racismo Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

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