'Sou bandido': quem é Celsinho Vintém, rival de Beira-Mar preso hoje

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Apontado como fundador da facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), Celso Luiz Rodrigues, 61, conhecido como Celsinho da Vila Vintém, foi preso hoje, no Rio.
O que aconteceu
Operação que prendeu Rodrigues foi sigilosa. Segundo a Polícia Civil, ele estava se aliando a outras lideranças de grupos rivais para promover disputas territoriais e retomar comunidades de Santa Cruz que estão atualmente sob influência da milícia.
A prisão ocorre três anos após sua soltura, em 2022, quando ele deixou o Complexo de Gericinó depois de 20 anos de detenção. À época, o advogado dele afirmou que o cliente queria se reaproximar da família e "virar a página". O UOL tenta contato com a nova defesa.
Ele é considerado o maior rival de Fernandinho Beira-Mar. Fundou a facção ADA nos anos 1990, quando já estava preso acusado de tráfico, roubo e organização criminosa.
Com base na favela Vila Vintém, na zona oeste do Rio, a ADA cresceu disputando território com o Comando Vermelho e com o Terceiro Comando Puro. O grupo se notabilizou por ações de assistencialismo em comunidades e uso extremo da violência. Nas últimas décadas, perdeu força, mas ainda mantém presença em favelas da capital fluminense.

Fugas e deboche
Preso em 1990, Celsinho fugiu em 1996 e foi recapturado no mesmo ano. Dois anos depois, em 1998, fugiu do Hospital Penitenciário Fábio Macedo Soares vestido de policial militar, enquanto estava internado para a retirada de uma bala no braço. Há suspeita de que agentes penitenciários facilitaram a fuga mediante pagamento de R$ 1 milhão. Na época, cinco pessoas foram afastadas de suas funções. Permaneceu foragido até 2002, quando foi recapturado e voltou às manchetes.
Na recaptura, Celsinho foi fotografado sorrindo, algemado, e ironizou os lucros do tráfico. Disse que ganhava apenas "R$ 50 mil por semana", o que chamou de "merreca". A polícia, no entanto, estimava ganhos de até US$ 10 milhões por mês. Ao jornal O Globo, Celsinho afirmou: "Eu sou traficante. Vivo do tráfico. Sou bandido. Mas eu sou um cara devagar, não dou tiro na polícia. Eu fujo da polícia. Compro meu pozinho, minha maconha e vendo".
Também foi investigado por supostamente ter uma rede de policiais informantes. Em 2002, policiais militares foram punidos sob acusação de fazer a segurança do traficante na festa de aniversário da filha dele, em um clube em Realengo.
Celsinho ganhou fama de "sanguinário" pela brutalidade dos ataques ordenados. Um de seus subordinados, conhecido como "Machadinha", esquartejava inimigos a mando do chefe. Relatos da polícia o descrevem como calculista e violento.
Apesar da crueldade, também era descrito como um traficante com "visão empresarial". A inspetora Marina Maggessi, da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes), disse em 2001 ao jornal Folha de S.Paulo que ele sabia identificar droga de qualidade e usava estratégias assistencialistas para garantir o silêncio da comunidade: oferecia alimentos, cestas básicas e atendimento médico.
Sobrevivente de massacre
Celsinho escapou de um massacre em presídio em 2002. O ataque matou quatro detentos, entre eles Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, ex-integrante do CV que havia se aliado à ADA. Celsinho alegou que sobreviveu porque a família de Beira-Mar havia feito amizade com a sua no setor de visitas.
Três anos depois, ele testemunhou a favor de Beira-Mar, condenado pelas mortes. "Vim aqui pagar a dívida, por terem me deixado vivo", declarou em 2005, durante julgamento no Tribunal de Justiça do Rio.
Em outubro de 2022, após 20 anos preso, Celsinho foi libertado por decisão da Justiça do Rio. O Ministério Público apontou falhas na acusação de que ele teria comandado uma invasão à Rocinha, em 2017. A defesa alegou armação, e o alvará de soltura foi expedido.
Depois da soltura, apareceu em vídeo usando cordão de ouro na Unidos de Padre Miguel, escoltado por seguranças. A cena viralizou nas redes.
Agora, a polícia afirma que ele articulava nova ofensiva no tráfico. Detalhes sobre o plano e possíveis aliados não foram divulgados. Celsinho responde a processos em andamento e pode voltar a cumprir pena em regime fechado.
* Com informações de matérias publicadas em 20/10/2022 e 08/05/2025.
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