Mulheres e crianças estão em mais perigo dentro de casa do que na rua

Segundo o Atlas da Violência 2025, divulgado na manhã de hoje no Rio de Janeiro e que tem como referência dados entre 2013 e 2023, mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência têm mais riscos de serem vítima de violência dentro de casa do que na rua.

O que diz o Atlas

A morte violenta é a principal causa de óbitos de jovens entre 15 e 29 anos no Brasil. Em 2023, 34% das mortes de jovens no país foram consequência de homicídios. Do total de 45.747 homicídios registrados no Brasil em 2023, 47,8% vitimaram jovens entre 15 e 29 anos.

A violência contra as mulheres segue sendo uma das principais problemáticas da segurança pública no Brasil. A maioria das vítimas conhece o autor do crime. 65,8% dos feminicídios aconteceram dentro de casa em 2023, aponta o Atlas.

Entre 2013 e 2023, 47 mil mulheres foram vítimas de homicídio, uma média de 13 mortes por dia. Somente em 2023, do total de homicídios registrados de mulheres, 35% aconteceram na residência.

Casos de feminicídio e de homicídio são diferenciados nas estatísticas. No feminicídio, o assassinato ocorre especificamente pela vítima ser mulher. Geralmente, está relacionado à violência doméstica ou familiar, ou por razões de gênero.

Enquanto a taxa geral de homicídio em geral caiu 26,4% na década, a taxa de homicídios femininos teve uma redução de 25,5%. Entre 2022 e 2023, a taxa de homicídios femininos permaneceu inalterada, enquanto a taxa geral recuou 2,3%.

Contrariando a tendência geral de queda dos homicídios no Brasil, o número de homicídios femininos cresceu 2,5% entre 2022 e 2023 Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em 2022, 3.806 mulheres foram vítimas desse tipo de crime, enquanto, no ano subsequente, 3.903.

Alguma coisa acontece em Roraima há muito tempo, porque, lá, a taxa é 197% superior do que a média nacional Samira Bueno

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Crianças e adolescentes: casa, escola e silêncio

  • 9 em cada 10 homicídios de crianças de 0 a 4 anos são cometidos dentro de casa;
  • 83,9% dos adolescentes assassinados entre 15 e 19 anos morreram por armas de fogo;
  • Em 2023, houve recorde de 115 mil notificações de violência não letal contra crianças e adolescentes;
  • 35.396 entre 0 e 4 anos;
  • 53.951 entre 5 e 14 anos;
  • 26.037 entre 15 e 19 anos;
  • Maior das violências notificadas é cometida por pais, padrastos/madrastas ou outros familiares;
  • Violência sexual é mais comum entre meninas (86,3%) e concentrada entre 5 e 14 anos.

O Atlas apontou que 21.856 jovens foram assassinados, o que corresponde a uma média de 60 jovens mortos violentamente por dia no país. Considerando a série histórica entre 2013 e 2023, foram 312.713 jovens vítimas da violência letal no Brasil.

Mulheres: violência ainda é rotina

  • Em 2023, a residência foi o local de 65,8% dos feminicídios;
  • A violência contra mulheres ocorre numa dinâmica estrutural, atingindo de forma desproporcional as negras. Elas são as principais vítimas de homicídios femininos e de agressões físicas;
  • Em quase todos os tipos de violência não letal (sexual, psicológica, física), as mulheres são as maiores vítimas;
  • Os dados mostram que a violência de gênero é persistente, intergeracional e majoritariamente doméstica.

Em 10 unidades federativas no Brasil, a taxa de homicídios femininos cresceu. Em 15, diminuiu. E nas outras duas seguiu sem alterações, seguindo o padrão nacional.

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O racismo é determinante. Ainda que a gente tenha uma redução de mortes entre mulheres negras e não negras, a desigualdade racial se mantém: a taxa de mortalidade de mulheres negras é 72% superior comparada com a de não negras. É mais um tema com o qual não temos conseguido avançar. As mulheres negras continuam sendo as principais vítimas Samira Bueno

Idosos: invisibilidade e crescimento

  • Embora ainda menos visível, a violência contra idosos vem crescendo;
  • A violência financeira e psicológica são as mais comuns, mas aumentaram também os registros de violência física;
  • O principal agressor também é alguém da família.

Em 2023, um homem poderia esperar viver 72,1 anos. Na ausência de óbitos por causas externas, este indicador seria de 75,3 anos, ou seja, são 3,2 anos perdidos em razão destas causas. Com isto, a probabilidade de um indivíduo alcançar a velhice (os 60 anos) é reduzida de 85,5% para 79,8%.

Pessoas LGBTQIAPN+: silenciamento e subnotificação

  • Os dados ainda são escassos e subnotificados, mas há crescimento contínuo nas notificações de violência física, psicológica e sexual contra pessoas LGBTQIA+, especialmente em ambiente doméstico e escolar;
  • O sistema de saúde registra crescimento da violência contra travestis e mulheres trans, ainda que abaixo do real.
  • De 2022 para 2023, os casos de violência contra homossexuais e bissexuais registrados no sistema de saúde aumentaram 35%, enquanto os casos de violência contra pessoas transsexuais e travestis aumentaram em 43%.
  • De 2014 para 2023, a violência contra mulheres transsexuais aumentou 1.110,99%, passando de 291 casos para 3.524 casos ao final da série.
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População negra: o alvo de sempre

  • Em 2023 foram registrados 35.213 homicídios de pessoas negras - pretas e pardas - no Brasil;
  • Mais de 77% dos homicídios têm vítimas negras;
  • Mesmo nos estados que reduziram a taxa geral, a letalidade entre negros continua acima da média nacional;
  • A taxa de homicídios de jovens negros é até 6 vezes maior que a de jovens brancos.

Em 2023, uma pessoa negra tinha 2,7 vezes mais chances de ser vítima de homicídio do que uma pessoa não negra. O dado retrata um aumento de 15,6% em relação a 2013.

Ou seja, apesar dos avanços na diminuição geral dos homicídios, a desigualdade racial associada à violência letal não apenas persiste, como se intensifica trecho do Atlas da Violência

A distância que pode ser entendida como desigualdade, entre o risco relativo de homicídios de negros e não negros entre 2013 e 2023, aumentou 15,6%, ainda que tenha apresentado uma leve redução entre 2022 e 2023, inferior a 1%.

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