Ele criou mapa das facções que virou guia de sobrevivência no Rio

Um mapa interativo que mostra detalhes sobre as áreas dominadas pelas principais facções do Rio de Janeiro tem viralizado nas redes sociais. O mapa foi criado no ano passado pelo canal "Pega a Visão RJ" e já soma mais de 7,5 milhões de visualizações.

O UOL conversou com o criador do Mapa das Facções, que contou ter desenvolvido a ferramenta após a morte de um amigo. Ele afirma que já foi ameaçado por milicianos e que o estado vive uma "guerra perdida".

O que aconteceu

Criado após a morte de um motoboy, o mapa "Pega a Visão RJ" virou guia de sobrevivência. A ferramenta virtual indica em tempo real quais áreas do Rio estão sob controle de facções criminosas e é usada por motoristas de aplicativo, taxistas e até policiais.

O autor do projeto falou ao UOL sob condição de anonimato e relatou ameaças. Ele conta que já foi intimidado por milicianos, traficantes e até agentes de segurança corruptos por manter o canal ativo. "A situação no Rio é quase irreversível", afirmou.

O mapa surgiu depois que um amigo dele desapareceu no Complexo de Israel. O motoboy teria entrado sem saber em área dominada por Álvaro Malaquias, o Peixão, apontado como chefe do tráfico local. "Ele era muito querido. Nunca encontraram o corpo", diz.

O mapa funciona como uma extensão colaborativa do Google Maps, com áreas coloridas conforme a facção dominante. O usuário acessa um link que abre uma visualização com a cidade do Rio dividida por zonas — em cada região, é possível ver se o controle está com o Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro ou milicianos. Os nomes aparecem com siglas como "CV" (Comando Vermelho), "TCP" (Terceiro Comando Puro) e "M" (Milícias), que mudam conforme as atualizações recebidas.

Verificação comunitária

As informações são inseridas manualmente pelo autor, com base em relatos e cruzamento de dados. Cada atualização passa antes por uma espécie de verificação comunitária: ele compara com o que chega pelo grupo no Telegram, por contatos locais e também por fontes abertas, como perfis jornalísticos especializados em segurança e páginas no X.

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As atualizações são feitas quase diariamente com ajuda de outro colaborador. As informações chegam por um grupo de Telegram com quase 4 mil pessoas, além de moradores, outros motoboys e páginas policiais. O criador diz conhecer pessoalmente várias comunidades.

Para validar os dados, ele cruza relatos com outros contatos e fontes abertas. "Sempre tentamos confirmar com mais de uma pessoa do local e com matérias jornalísticas. Já recebemos informações falsas", explica.

O mapa é hospedado em uma plataforma semelhante ao Google Maps e custa R$ 10. Segundo o autor, o valor é cobrado apenas uma vez, como forma de limitar o uso por jornalistas e influenciadores que repostavam o conteúdo sem dar crédito.

A primeira grande repercussão veio após divulgação no canal do Telegram e no X. "Postei no meu canal e logo milhares de pessoas começaram a usar. Tenho mais de 100 mil seguidores lá. Depois disso, muita gente passou a colaborar com informações", diz.

Motoristas relatam que usam o mapa para fugir de regiões com barricadas. "Recebo agradecimentos todo dia no Instagram, no Telegram e no X. Muita gente diz que o mapa ajudou a evitar uma tragédia".

Apesar da visibilidade, ele não pretende expandir para outros estados. Ele afirma que o foco dele é o Rio de Janeiro, porque conhece muitas regiões e, com isso, ele consegue atualizar as informações com mais segurança. No Espírito Santo, tenho um amigo que faz algo parecido", conta.

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Apesar do sucesso da empreitada, o criador do mapa não tem expectativa de que as autoridades mudem algo com o projeto. "Os criminosos dominaram quase tudo. Vemos barricadas, ordens impostas, criminosos armados circulando — e a polícia não faz nada", conclui.

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