Ato de moradores da favela do Moinho (SP) põe fogo em trilhos de trens
Marcio Padrão, Tiago Minervino
colaboração para o UOL *
12/05/2025 17h38Atualizada em 12/05/2025 23h10
Um protesto de moradores da favela do Moinho, no centro de São Paulo, colocou fogo nos trilhos de trens entre as estações Palmeiras-Barra Funda e Luz e afetou a circulação das linhas 8-Diamante, 7-Rubi e 13-Jade da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), mas a situação foi normalizada.
O que aconteceu
Autoridades estiveram no local. O Corpo de Bombeiros foi acionado para combater as chamas e a tropa de choque da Polícia Militar garantiu a segurança da região. Não há registros de presos ou feridos.
Manifestação teve início por volta das 16h. Entre 16h10 e 17h26, a circulação dos trens foi interrompida entre as estações Palmeiras-Barra Funda e Luz, devido protesto na linha férrea nas proximidades do Moinho, segundo a CPTM.
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Famílias não querem deixar suas casas. O governo de São Paulo tem planos de transformar o espaço em um parque. A remoção das famílias começou em abril deste ano.
O começo da remoção foi marcado por tensão. Em 22 de abril, por causa da presença de agentes da Polícia Militar, mas a situação acabou sendo contornada após intermediação de agentes da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). No dia 18 de abril, moradores fizeram barricadas na região que dá acesso à comunidade após a entrada de agentes da PM na comunidade
Acesso à faixa ferroviária é proibido. Ainda de acordo com a CPTM, para impedir a invasão do trecho, são realizadas campanhas preventivas junto às comunidades lindeiras sobre os perigos do acesso à faixa ferroviária. "Há um intenso trabalho de monitoramento da equipe de manutenção. Além de realizar rondas constantes com a equipe de segurança no entorno da via para identificar, prevenir e coibir acessos indevidos", disse a companhia em nota.
Como é comunidade do Moinho?
É a última favela remanescente do centro de São Paulo. Ela pode desaparecer com o projeto de requalificação do governo de São Paulo. Um dos objetivos da proposta de transferir a sede administrativa para o centro é tornar a região "atrativa para moradia", com maior "valorização imobiliária", conforme apurou o UOL.
Comunidade é cercada por trechos das linhas 7-Rubi e 8-Diamante da CPTM. O acesso ao Moinho é uma entrada atravessada por trilhos. Moradores convivem com barulhos e tremores pela passagem constante dos trens.
A favela foi construída a partir de uma ocupação sob o viaduto Engenheiro Orlando Murgel. Segundo reportagem da BBC, era ali que ficava o Moinho Central, uma indústria de processamento de farinha e de rações para animais. A indústria foi desativada no final da década de 1980. Nos primeiros anos, os moradores eram ex-trabalhadores da fábrica.
Terreno é alvo de disputa há anos. Ele foi controlado pela Rede Ferroviária Federal, depois foi a leilão por dívidas da empresa e chegou a empresários, mas que não concluíram a compra, segundo a BBC. Em 2008, a associação de moradores entrou na Justiça para permanecer no terreno por usucapião. Eles garantiram a posse do terreno, mas a ação ainda não foi julgada.
Passou por dois grandes incêndios. Eles ocorreram em 2011 e 2012 e resultaram na destruição de muitas moradias e em algumas mortes.
O acesso ao saneamento básico ocorreu apenas em 2022. Até então, a favela não tinha água e convivia com esgoto a céu aberto.
Regularização fundiária não é possível, segundo CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo). Como justificativa, o órgão alega a proximidade com as linhas férreas, a situação de confinamento e o histórico de incêndios, além da "extrema precariedade das moradias".
Lideranças comunitárias do Moinho alegam que plano estadual não leva em conta realidade local. "Não conseguimos pagar o que estão exigindo para que a gente saia daqui", diz uma representante da associação de moradores do Moinho que pediu para não ser identificada.
*Com informações de reportagens publicadas em 24/03/2025, 23/02/2025 e da Agência Estado